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Lyceu, pioneirismo e cultura

qui, 30 de outubro de 2014 00:04

Abertura Histórias de Uberlândia

Durante 44 anos, Uberlândia dispunha de um colégio que, além de ensinar como todos os outros, levou cultura, esporte e valores humanos aos alunos e tornou-se um marco na história da educação no Brasil, com uma orquestra conhecida nacionalmente, além de promover na cidade shows com artistas brasileiros famosos e peças de grupos renomados de teatro. O Lyceu de Uberabinha, fundado em 1928, teve o nome alterado para Lyceu de Uberlândia, quando a cidade mudou de nome em 1929. Incorporou, em 1928, o curso primário e, em 1931, a Academia de Comércio, com cursos técnicos destinados ao ensino comercial. Em 1942, anexou o Ginásio Osvaldo Cruz e nos anos seguintes a  Escola Normal Mário Porto e o Jardim de Infância.A iniciativa de criar a escola foi de Antônio Vieira Gonçalves e de Mário de Magalhães Porto. Mas a figura central do colégio foi o pernambucano Milton de Magalhães Porto, que mudou-se para Uberlândia em 1931 para assumir a administração da instituição, função que exerceu até 1972, quando a escola fechou as portas. Milton ajudava nas matrículas e, à noite, fazia aulas com o irmão Mário para tornar-se professor. Autodidata, tinha apenas o ginásio, não fez faculdade. Mas era muito inteligente, falava bem o inglês e o latim, fruto de sua passagem pelo colégio Salesiano.

A escola foi montada na praça Osvaldo Cruz, onde hoje fica a agência da Caixa Econômica Federal, em frente ao Fórum Abelardo Penna. No andar de cima, morava a família de Milton. Além de duas meninas nascidas em Uberlândia, havia o primogênito Galba Gouveia Porto. Milton veio para Uberlândia na frente e deixou Galba com a mãe, Maria Fausta Gouveia Porto, em Caruaru, Pernambuco. A família foi reunida novamente oito meses depois de sua chegada.

O Lyceu inaugurou o primeiro ginásio coberto de Uberlândia, palco de comemorações, reuniões e shows. A Academia de Comércio, o Ginásio Osvaldo Cruz e a Escola Normal Mário Porto ficavam nas mesmas instalações, mas funcionavam em turnos diferentes.

O prédio também chegou a abrigar um internato para filhos de fazendeiros que moravam distante da cidade. Os alunos brincavam no quintal da escola. No prédio onde moravam não tinham cozinha. Por isso, para almoçar, atravessavam o pátio do colégio até o refeitório, que ficava nos fundos do terreno, chegando na rua Quintino Bocaiuva.

Todas as sextas-feiras, com aparelhagem própria, o ginásio se transformava em cinema. Ali se apresentavam grupos de teatro e artistas famosos, como o cantor Wanderley Cardoso, ícone da juventude dos anos 1960. Foi ali também que, em 1952, foi formada a orquestra do Lyceu, pela iniciativa do aluno do curso de contabilidade da Academia de Comércio, o húngaro Nicolau Sulzbeck. Na época ainda não existia o Uberlândia Clube e a cidade não tinha muita festa. Era naquele ginásio, travestido de grande salão, que a juventude se reunia.

Em 1972, sem ter como cumprir uma série de exigências burocráticas do Ministério da Educacão para autorizar o funcionamento das escolas, Milton Porto decidiu fechar o Lyceu.  Apesar de ser uma escola particular, não visava lucro. Muitas pessoas que não tinham condições de pagar estudaram lá.  O Lyceu era uma grande família que desperta saudades até hoje em seus ex-alunos.

Mário de Magalhães Porto

Formado em Direito e nomeado Promotor de Justiça de Frutal, Minas Gerais, no governo de Antonio Carlos Ribeiro, 1926 a 1930, Mário de Magalhães Porto foi transferido para Uberlândia, onde fundou o Lyceu de Uberlândia e foi reitor do Colégio Estadual, conhecido como Museu. Para se dedicar mais à reitoria, convidou o irmão Milton de Magalhães Porto para assumir o Lyceu.

Como bom orador, Mário defendia a igualdade social e chegou a ser acusado de comunista pela oposição. Na década de 1930, quando Uberlândia ficou conhecida no país como a Pequena Moscou, o fundador do Lyceu precisou fugir às pressas da cidade, depois de ser avisado que a Polícia Federal ia prendê-lo. Pegou os filhos e a mulher durante a noite e foi de carro para Uberaba, onde tomou o trem no dia seguinte. Pegaram, em Uberaba, o mesmo trem em que a polícia chegou em Uberlândia. No Rio de Janeiro, Mário conseguiu proteção política e se tornou professor do Colégio Pedro II. Em 1944, fundou o Instituto Educacional Brasil América, que funciona até hoje à beira do Corcovado.

Faleceu em 1950, quando era presidente da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino,  entidade que congregava as instituições escolares de ensino médio do país.

Milton de Magalhães Porto

Milton trabalhava no cartório do pai, Leocádio Porto, ex-prefeito de Caruaru, Pernambuco, que teve os bens confiscados na revolução de 1930. Avesso à política, após perder tudo, seu irmão Mário o chamou para Uberlândia. Viajou escondido do pai, com dinheiro que a madrasta e a tia lhe emprestaram.

Além de administrar o Lyceu de Uberlândia, Milton foi presidente da Fundação Universidade de Uberlândia, entre os anos de 1969 e 1978. Recebeu o título de Cidadão Honorário e a Medalha Augusto César. Em 1974, recebeu a Comenda Santos Dumont e, em 1980, a Assembleia Legislativa lhe concedeu o título de Cidadão Honorário de Minas Gerais. Faleceu durante as comemorações do centenário da emancipação de Uberlândia, em 30 de agosto de 1988.

Lyceu de Uberlândia, Academia de Comércio e Colégio Osvaldo Cruz, década de 1940. Foto: Divulgação

Lyceu de Uberlândia, Academia de Comércio e Colégio Osvaldo Cruz, década de 1940. Foto: Divulgação

 

Alunos e professores do Lyceu, década de 1950. Foto: Divulgação

Alunos e professores do Lyceu, década de 1950. Foto: Divulgação

 

Vista dos muros do Lyceu. Em frente, praça Osvaldo Cruz. Ao fundo, galpão da Ferrovia Mogiana e avenida João Pessoa. O prédio da esquina era a pensão Guanabara e, ao seu lado, o cine Eden. Foto: Divulgação

Vista dos muros do Lyceu. Em frente, praça Osvaldo Cruz. Ao fundo, galpão da Ferrovia Mogiana e avenida João Pessoa. O prédio da esquina era a pensão Guanabara e, ao seu lado, o cine Eden. Foto: Divulgação

 

Orquestra dos alunos do Lyceu de Uberlândia, década de 1950. À esquerda, o violinista Nicolau Sulzbeck. No microfone, a professora de inglês Johen Carneiro. No centro, o saxofonista Raul Alves, proprietário da antiga carpintaria Dragão que fabricava as famosas carrocerias Dragão. No piston o advogado Dr. Clemente, filho do maestro Barraca. No acordeon, Sebastião Magnino. Foto: Divulgação

Orquestra dos alunos do Lyceu de Uberlândia, década de 1950. À esquerda, o violinista Nicolau Sulzbeck. No microfone, a professora de inglês Johen Carneiro. No centro, o saxofonista Raul Alves, proprietário da antiga carpintaria Dragão que fabricava as famosas carrocerias Dragão. No piston o advogado Dr. Clemente, filho do maestro Barraca. No acordeon, Sebastião Magnino. Foto: Divulgação

 

Vista da avenida Afonso Pena, em frente à estação da Mogiana, década de 1940. À esquerda, um dos prédios e o muro do Lyceu de Uberlândia, além do telhado do ginásio. Foto: Divulgação

Vista da avenida Afonso Pena, em frente à estação da Mogiana, década de 1940. À esquerda, um dos prédios e o muro do Lyceu de Uberlândia, além do telhado do ginásio. Foto: Divulgação

13 Comentários

  1. Nicolau Sulzbeck disse:

    Que saudade desse tempo.

    Quem esta no microfone é a aluna e cantora Isaura Garcia!

  2. Nina disse:

    Estudei no Liceu de 1951 a 1956. No Jardim de Infancia minha professora foi Dona Mathilde, se não me engano nora do Prof. Milton. Na 4a. Serie foi Dona Therezing. Meus pais, missionários americanos, tinham grande respeito pelo Ptofessor Milton. Ana Maria , filha dele, foi minga colega de classe. O pátio do Liceu vive na minha memório, bem comi a assinatura do Professor Milton de Magalhães Porto, com aquela linda califragia.

  3. Elza de Lima disse:

    Que saudades do Liceu de Uberlândia fiz o curso de Contabilidade, bons tempos, velhos tempos!!!!!

  4. Vânia Pelizer Pereira Daud disse:

    Eu estudei no Liceu de Uberlândia, onde fiz o 2° e o 3° ano primário.
    Eu me lembro das comemorações de datas cívicas e festivas.
    Saudades!

  5. Ademir Reis disse:

    A cantora ao microfone é minha tia – Isaura Franco Brandão, já falecida e que na ocasião como cantora da Orquestra do Lyceu dividia o microfone com minha cunhada, Conceição Alves Ferreira. A professora Johen Carneiro teria idade para ser avó delas.

  6. Jose Antonio Samora disse:

    Estudei no Liceu, fiz o ginásio, e conclui o curso de contabilidade em 1970. Vários amigos no curso de Contabilidade, Jose Abadio, “Fazendeiro”, Evaldo, Divino, Álvaro, creio tb. que a Elza de Lima foi da minha turma. Professores que marcaram pelo conhecimento, Sr. Eudóxio, Aparecida Lomônaco. Quando cursava eng. civil na Ufu, fui aluno do Prof. Galva G. Porto, outra pessoa incrível. Foram realmente bons tempos!!! Um abraço a todos aqueles que foram colegas.

  7. Waldemar Oliveira Barbosa disse:

    Estudei no Liceu em 1943 a 1945, fiz as 4 séries em 2 anos e aprovado em todas com nota 10 com distinção, fiquei no quadro de honra e ganhei um curso de datilografia e uma coleção do Monteiro Lobato, eu também era autodidata igual ao Diretor Miltom Porto, o qual me permitiu fazer as provas, mesmo sem ter cursado a série. Eu estudava no internato para filhos de fazendeiros, Sai do Liceu para fazer o curso de sargento da Aeronautica, cursei a faculdade de odontologia e hoje sou oficial dentista da reserva remunerada da Aeronautica, estou com 89 anos e continuo trabalhando com consultório na Nsa Senhora de Copacabana 647 sala 714. Ainda guardo muitas boas lembranças do meu primeiro contato com uma escola.

  8. Robson de Almeida Silva. disse:

    Estudei no Liceu nos anos de 1970. Tenho saudades.
    Quando retornei do CNF- FGV, passei, praticamente por todos os colégios de 2º grau de Uberlândia.
    O Liceu foi o único colégio que possuia um padrão de ensino semelhante ao CNF.
    Deveria ter continuado.
    Faz falta a Uberlândia.
    Abraços aos ex-colegas, funcionários e professores do Liceu.

  9. Rubens da Silva Lessa disse:

    Que saudade!
    Estudei no Liceu de Uberlândia, em 1955, quando concluí o Curso Ginasial. Fui o orador da turma, apesar da minha timidez.. Durante o mês que precedeu a cerimônia de conclusão do curso, fui todos os dias a um lugar bucólico, às margens de um riacho adjacente à cidade, para decorar o discurso, que durou 12 minutos.
    Lembro-me dos professores Milton Porto, Tasso de Abreu, Terezinha… Também me lembro de uma aluna muito estudiosa e linda, chamada Mabel. Lembro-me também do aluno Olavo Castanheira.
    Fui editor do jornalzinho estudantil “O Lábaro”. Anos depois, completei o curso de Jornalismo na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, em São Paulo.
    Devo muito da minha formação cultural aos professores do querido Liceu.
    Tenho, hoje, 80 anos de idade. Onde estão meus colegas sobreviventes?
    Um abraço para todos.
    Rubens Lessa

  10. Maria Ione da cruz gouveia disse:

    Fausta era minha tia,sou filha de José Gouveia,qdo eles vinham ao nordeste nos visitar ,falavam do carinho q tinha p este colégio ,gostaria de me comunicar com os primos ,ficamos sem comunicação há muitos anos

  11. Daniel Rincon Caires disse:

    Bom dia a todos. Estou procurando informações sobre a professora Johen Carneiro, que segundo apurei em algumas fontes era também artista plástica, tendo apresentado quadros na Exposição de Goiânia em 1942. Peço a quem tiver mais informações que entre em contato comigo pelo meu e-mail rinconcaires@yahoo.com.br
    Obrigado!

  12. Michelle Mattar Pereira de Oliveira Tavares disse:

    Bom dia pessoal Sou estudante de doutorado em história da educação e gostaria de algumas informações ligadas aos cursos oferecidos na Academia do Comércio. Alguém teria disponibilidade para uma entrevista/conversa?

  13. Michelle Mattar Pereira de Oliveira Tavares disse:

    Bom dia pessoal sou estudante de doutorado em história da educação e gostaria de saber os cursos oferecidos pela Academia do Comércio. Alguém tem disponibilidade para uma conversa? Entre em contato comigo pelo meu email michellemattarp@gmail.com

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