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Histórias de Uberlândia – Um triangulino valoroso

seg, 8 de junho de 2015 06:01
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Ele era sobrinho-trineto do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Frequentou e defendeu teses na Universidade Gregoriana de Roma, capital da Itália. Possuía o título de doutor em Filosofia, Matemática, Ciências Naturais e Latim. Quando de sua permanência em Roma, esteve por duas vezes, com o Papa Pio X e recebeu a bênção apostólica, tendo mantido conversação em latim e italiano com o ilustre prelado, que lhe prognosticou um grande futuro no seio da Igreja Católica do Brasil. Grandes vultos do Clero foram seus companheiros e amigos,  o cardeal Dom Sebastião Leme, os bispos Dom Benedito Paulo Alves de Sousa, Dom André Arcoverde, Dom José Tupinambá da Frota e monsenhor MeIo e Souza.

Camilo Chaves. Foto – divulgação

Camilo Chaves. Foto – divulgação

Em uma ensolarada manhã de quarta-feira, no dia 28 de julho do Ano da Graça de Nosso Senhor de 1884, em Campo Belo do Prata, Deus colocou sob a guarda de João Evangelista Rodrigues Chaves e dona Maria Matilde do Amaral Chaves, uma alma, que foi batizada por Camilo Chaves. Ainda menino, aos 9 anos de idade, teve a oportunidade de estudar em Roma, por intervenção do Bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte Silva. Ingressou no Colégio Pio Latino-Americano, com o objetivo de seguir a carreira eclesiástica.

Campo Belo do Prata se tornou Campina Verde e Camilo Chaves não se formou Padre. Após a brilhante escalada acadêmica, com 18 anos, sentindo que não tinha vocação para o sacerdócio, voltou para o Triângulo Mineiro.

Fixou moradia em São Pedro de Uberabinha, onde foi boiadeiro, fazendeiro e comerciante. Fundou a empresa Sereno & Chaves e dedicou-se ao comércio por 10 anos. Nessa época, enamorou-se de Damartina Teixeira, filha do coronel Arlindo Teixeira e de dona Filomena Augusta Teixeira. E aos 2 de maio de 1909, domingo, em uma fria tarde típica de outono, Damartina tornou-se Teixeira Chaves, em matrimônio, celebrado na Igreja da Matriz de São Pedro de Uberabinha. O casal foi agraciado com três filhos, Dr. Hélio Chaves, advogado e gerente da Caixa Econômica Federal de Ituiutaba; Dr. Camilo Chaves, advogado e presidente do Partido Social Democrático de Ituiutaba e Dr. Fábio Teixeira Rodrigues Chaves, advogado e Promotor público de Ituiutaba.

Voltando para Ituiutaba, Camilo Chaves dedicou-se ao exercício da advocacia, a partir de 1917. Militou ativamente na política sendo eleito vereador na Câmara de Ituiutaba.

Em 1923, foi eleito deputado estadual, pelo quinto distrito eleitoral, que compreendia todo o Triângulo Mineiro. Durante o governo de Antônio Carlos, idealizou a primeira escola de aviação do Brasil, que teria sede em Uberabinha. A idéia chegou a ser transformada em lei, mas jamais foi executada.

Em 1925, conseguiu elevar Ituiutaba a comarca e Tupaciguara a termo judiciário. Em Uberabinha, criou e instalou o Ginásio Estadual, a Estação Experimental de Sementes e a Estação de Rádio. Para Ituiutaba, conseguiu a criação e construção do Grupo Escolar João Pinheiro, do edifício do Fórum e da ponte Raul Soares, sobre o Tio Tijuco.

Senador Camilo Chaves, comandante chefe das forças revolucionárias do Triângulo Mineiro, sentado à esquerda do Capitão José Persilva, junto com oficiais goianos e mineiros. Foto tirada logo após o término da revolução de 1930 em (Uberlândia. Foto- divulgação)

Senador Camilo Chaves, comandante chefe das forças revolucionárias do Triângulo Mineiro, sentado à esquerda do Capitão José Persilva, junto com oficiais goianos e mineiros. Foto tirada logo após o término da revolução de 1930 em (Uberlândia. Foto- divulgação)

 

Em 1927, foi eleito senador ao Congresso Mineiro, onde defendeu, com brilho, a lei que reformou a concessão de privilégios ferroviários.

Em um memorável discurso, que foi denominado “Viação no Triângulo”, conseguiu despertar o interesse dos barões dos trilhos para dotar o Triângulo de uma ferrovia que, partindo de Uberabinha, margeasse o rio das Velhas e, penetrando o vale do Paranaíba, fosse até o Porto Feliz, com um ramal de Cachoeira Dourada a Ituiutaba, até Colômbia, estado de São Paulo e linha terminal da Estrada de Ferro Paulista. Por seu intermédio, foi organizada a Companhia, levantado o capital em Londres e iniciados os estudos preliminares. Mas, com a revolução de 1930, o projeto foi abandonado, devido ao descrédito por que atravessou o país.

Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, Uberlândia, década de 1930, onde Camilo Chaves exerceu o magistério. Foto – divulgação

Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, Uberlândia, década de 1930, onde Camilo Chaves exerceu o magistério. Foto – divulgação

 

Em 1930, comandante em chefe das forças revolucionárias do Triângulo Mineiro, montou o seu quartel-general na recém remomeada Uberlândia. Reintegrado o País na ordem legal, continuou a militar na política como membro da Comissão Executiva do Partido Republicano Mineiro.

Deixando a política, dedicou-se ao magistério. Lecionou na Escola de Comércio de Uberlândia, anexa ao Lyceu, e no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas.

Em 1936 foi nomeado pelo Governador Benedito Valadares Ribeiro, diretor da Loteria de Minas Gerais, mudando-se para Belo Horizonte, onde se manteve até o seu falecimento.

Lyceu de Uberlândia. Anexo à esquerda, ficava a Escola de Comércio de Uberlândia, onde Camilo Chaves exerceu o magistério. Foto – divulgação.

Lyceu de Uberlândia. Anexo à esquerda, ficava a Escola de Comércio de Uberlândia, onde Camilo Chaves exerceu o magistério. Foto – divulgação.

 

A partir de 1937, passou a dedicar-se ao estudo e cultivo das letras. Escreveu o livro “Caiapônia — romance da terra e do homem do Brasil Central”, um repositório de seus conhecimentos, auferidos no exercício de suas profissões de fazendeiro, professor, comerciantes, jornalista, advogado, político e parlamentar. Sobre este livro, Lopes Rodrigues escreveu:

Caipônia é o maior livro contemporâneo, no seu gênero. Como expressão da literatura geopsicológica é um dos maiores da literatura nacional. Caiapônia é o romance do sertão indígena do Triângulo Mineiro; o vagido étnico, o povoamento, o costume, o folclore, a alma trovadora e trágica, o processo evolutivo. É a paisagem primitiva, bruta e brava. A gente virginal, a fé, a superstição, o mito, a honra, o crime, o amor e o heroísmo.

O segundo livro saiu 20 dias após seu falecimento. “Semíramis — a rainha da Assíria e Babilônia”, romance histórico, extremamente bem escrito, exibindo um impecável trabalho de pesquisa. Narra o reinado de uma mulher, Semiramís, que viveu há cerca de oito séculos antes de Cristo e foi considerada um exemplo raro de mulher e governante.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais proferiu memorável conferência, sugerindo a transferência da Capital da República para o Pontal do Triângulo Mineiro, próximo às portentosas quedas d’água dos rios Grande e Paranaíba, formadores do rio Paraná. Dada a repercussão, sua conferência foi transcrita nos anais do Congresso Nacional, por solicitação do Deputado Campos Vergal, da bancada de São Paulo.

Apesar de não seguir o sacerdócio, Camilo Chaves não abandonou sua vocação espiritualista. Tornou-se espírita e foi presidente da União Espírita Mineira a partir de 1946, sendo reeleito diversas vezes. Prestou relevantes serviços materiais e espirituais à causa espírita. Durante sua gestão foi iniciada a edificação da nova sede da União Espírita Mineira, hoje na rua Guarani, em Belo Horizonte. Inaugurou, na União Espírita Mineira, a Assistência Dentária e a Farmácia Homeopática, serviços gratuitos para necessitados. Participou dos trabalhos do Abrigo Jesus e da Sopa dos Pobres. Idealizou e fundou o ginásio O Precursor, hoje em funcionamento na capital de Minas Gerais.

O sibilar dos ventos temperados do verão na capital mineira, naquela noite estrelada de quinta-feira, 3 de fevereiro de 1955, anunciavam que Camilo Chaves cerrou seus olhos pela última vez, no plano terreno,  aos 70 anos de idade, no Hotel Sul Americano, onde residiu por mais de dez anos. Por sua morte foi levantada a sessão da Assembleia Legislativa do Estado, em sinal de pesar e luto, ocasião em que o Dr. Omar de Oliveira Diniz, deputado estadual pela região do Triângulo, pronunciou belo e comovente discurso, enaltecendo-lhe os feitos e as conquistas. Todos os representantes dos partidos políticos, componentes daquela Câmara, ocuparam a tribuna, prestando homenagens a sua figura. Em Ituiutaba, houve profunda e geral consternação em Ituiutaba e o prefeito Antônio Sousa Martins determinou luto oficial, em sinal de pesar. As Câmaras municipais de Capinópolis, Santa Vitória, Campina Verde, Iturama, Uberlândia, Tupaciguara e Frutal consignaram, em ata, votos de pesar pelo seu falecimento. O órgão oficial do Estado,  Minas Gerais, em sua edição de 8 de fevereiro de 1955, publicou:

“Teve sentida repercussão, em nossa sociedade, a notícia do falecimento ocorrido no dia 3 deste, nesta Capital, do Dr. Camilo Chaves, antigo e ilustre parlamentar mineiro. Senador pela antiga Constituinte Mineira, projetou-se entre as figuras de maior relevo de sua época. Além de político, possuía o extinto acentuado gosto pela literatura, tendo publicado o romance Caiapônia, inspirado nos costumes sertanejos. Era militante das atividades espíritas e ocupava o cargo de presidente da União Espírita Mineira.”

O então Governador Juscelino Kubitschek de Oliveira criou o terceiro Grupo Escolar de Ituiutaba e o seu sucessor, Governador Clóvis Salgado, o denominou Grupo Escolar “Senador Camilo Chaves”.

5 Comentários

  1. Plauto Chaves disse:

    Tenho orgulho da história do meu avô Camilo Chaves.

  2. Inocêncio Nóbrega Filho disse:

    Aprecio, bastante, a história. Tenho dois livros publicados, nesta área. Quanto ao seu comentário, vou tentar reproduzi-lo, ou por outra, se me enviá-lo para meu e-mail, aí indicado, ficarei extremamente grato, pois resido em Maceió. Abs., Inocêncio Nóbrega Filho.

  3. Plauto Chaves disse:

    Reafirmo que tenho orgulho da história de meu avô Camilo Rodrigues Chaves. Foi um homem culto, estudioso e benemérito em várias atividades visando o bem estar social. Um grande homem. Um pioneiro. Plauto Chaves.

  4. reinaldo rocha costa mundim disse:

    Aprecio e parabenizo pessoas que mergulham no passado e trazem à tona histórias culturais. A propósito, alguém tem algo a me dizer sobre o Professor de Português TARSO ou TÁRCIO, inclusive o nome completo. Esse mestre lecionava no Colégio Liceu de Uberlândia e era temido pela rigidez em conferir notas conceituais aos alunos. Grato pelo empenho.

  5. Marcus Cerqueira disse:

    Três Presidentes da União Espírita Mineira foram inconfidentes reencarnados: Camilo Rodrigues Chaves foi o contratador João Rodrigues de Macedo; Honório Onofre Abreu foi o padre Luís Vieira e Henrique Kemper foi o tenente-coronel Francisco de Paula Freire. Os arquétipos consubstanciados no padrão de comportamento e nas faculdades morais e intelectuais, além das sincronicidades, não deixam dúvidas. O mesmo para três Presidentes da República: Getúlio Vargas foi o pecuarista, minerador e contratador José Ayres Gomes; Juscelino Kubstchek foi o médico militar Salvador do Amaral Gurgel e Tancredo Neves foi o contratador Silvério dos Reis.

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