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Futebol negócio, por Inocêncio Nóbrega

qui, 24 de julho de 2014 00:00

* Inocêncio Nóbrega

Bandeirolas verde-amarelas desfilavam, garbosamente, nos veículos, rotas, espalhadas ao chão; outras, encimadas nos postes, edifícios e residências, pretendendo simbolizar supremacia de poder, são apressadamente retiradas; adereços e motivos com cores nacionais, encontradiços nas lojas e no mercado informal, simplesmente desapareceram. Involuntário desrespeito se compreende pela falta de educação cívica, que deveria vir dos lares e das escolas. Mas, assim o governo quer e incentiva, através do desatino de suas atitudes.

A Fifa, corruta e onipotente, impõe regras, dobra governos, estrangula povos, em nome de uma competição futebolística chamada de  Copa do Mundo. Somente investindo poucos centavos exige modernização de estádios e melhorias viárias. Ordens arbitrárias, oriundas de sua organização, restringem o acesso e permanência de moradores de rua às adjacências das áreas dos eventos; milhares tiveram seus quiosques despejados; policiais, treinados por seus colegas norte-americanos, reprimem, com virulência, qualquer manifestação em contrário, com cenas que relembram os anos de chumbo. A entidade, que tem sede na Suíça, informa que a partir de 2007, período no qual se inclui a Copa da África do Sul, os negócios do futebol  são cada  vez mais exitosos. Somente com a patenteada indústria da bola lhe acumulou US$ 4.189 bilhões. A eles se somam US$ 35 milhões, mediante a venda de quinquilharias, faturamento parte retirada de trabalhadores informais próximos aos estádios. A TV nacional, representada pela Globo e Bandeirantes, contudo se deu bem, ao faturar cerca de R$ 1,4 bilhão, com a  cota de transmissão dos jogos. Não estão contabilizados, ainda, os ganhos auferidos no Brasil, onde 3 milhões de ingressos foram vendidos.

São números incompatíveis com a realidade social dos países, por onde passa. São lucros que têm endereço certo: os mafiosos dirigentes e a cartolagem internacional. Passada a festa, quem pagará as contas? Os estados-sedes, que foram obrigados a contrair vultosos empréstimos ao BNDS, sacrificando, por bom tempo, seus orçamentos. Aliás, o contribuinte, aqueles que não puderam assistir às partidas, muitos banidos de seus lugares ou curtindo as prisões. Apesar disso, Brasil afora ainda  se pratica futebol tupiniquim.  Ficou-nos, entretanto, a lição de que patriotismo e paixão pelo futebol-arte não combinam com o desvirtuamento desse esporte rei, de cuja população brasileira esperava  colher melhores frutos.

* Jornalista
inocnf@gmail.com

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