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Ficha Técnica – Quem vai sobrar?

qua, 12 de abril de 2017 05:54

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O Bem-te-vi perdeu todos os limites. Começou a cantar às quatro da manhã. Bagunçou a casa da Dona Joana, confundiu até os vira-latas perseguidores de carros da rua da frente. Era como se estivesse farto daquilo tudo. É o mais popular entre os seus. Com o peito estufado, de ventre amarelo e sobrancelha branca, migrou por tantas terras para que fosse ouvido. O cerrado é quem vive nele. O tamanho de um controle remoto é apenas um disfarce para alguém que ameaça serpentes, urubus e gaviões ao seu redor. O dom é sua pedra preciosa, mas falta espaço para lapidá-la. Assim, faz de cada lugar a sua morada, como se fosse um artista ou atleta de Araguari.

Meninas de Araguari durante o Campeonato Brasileiro de Basquete Estudantil, em Recife *Apaed

Meninas de Araguari durante o Campeonato Brasileiro de Basquete Estudantil, em Recife
*Apaed

 

Feito gente que não precisa de tanto para seguir em frente, o Bem-te-vi constrói o ninho apenas com capim e ramos de vegetais. Na cidade, improvisa. Outro dia, vi um berço feito de plástico, fios e papel. Enquanto isso, tem aqueles que ainda não sabem o que fazer diante do bocado que tem em mãos. Essa semana, o esporte do cerrado mineiro respirou no calor de Recife, com jovens atletas de Araguari. Em sua primeira viagem de avião, ficaram entre as oito melhores do país no Campeonato Brasileiro de Basquete Estudantil feminino. As campeãs, de São Paulo, representarão as cores do Brasil no mundial, na Croácia.

Em Barbacena, o cantor André Salomão foi um dos premiados no Festival de Música Popular Livre. Mais uma alegria para o corintiano campeão mundial em 2012. A propósito, toda terça tem Show de Bolso no quintal de casa durante o mês de abril, em Araguari – reserve seu lugar. A primeira edição foi como “um jogador de futebol em um estádio com a torcida a favor”, como ele mesmo definiu. Salve a arte independente! E André, perdoe-me não poder prestigiá-lo de perto. Terças são sempre feito maratona e a passagem para Araguari/Uberlândia ultrapassou uma dezena no último ano.

O esporte e a cultura pedem passagem onde um dia disseram que eles não teriam vez. Jamais se esqueçam dos heróis que regaram essas terras. De Abdala Mameri a Bim, Ferreira, Negretti e Quinzito. Do Trem das Gerais ao Pelézinho de Araguari. A voz que ressoa daqui também ecoa pelo cerrado, feito um Bem-te-vi. O suor que escorre no peito é o mesmo que lava a alma, como um banho na Cachoeira das Irmãs. Temos cenário, protagonistas e história para contar. Então não me venham com indagação do que ganhariam em troca, se investissem corretamente em cada um. Ou vai dizer que os quase dez anos de interdição do Ginásio Poliesportivo é um simples erro de cálculo?

É tempo de abraçar quem faz a roda girar sem esperá-los ser dignos de merecimento. De cuidar das riquezas que abrigamos. Devolver para a cidade aquilo que as novas gerações sequer conheceram. Um ginásio lotado, uma equipe profissional, as famílias nas ruas por um festival de bandas locais. Tem lugares onde a água ainda é atração – Salve Velho Chico! Outros em que a dança engana a miséria e a fome – Salve o Maracatu! E tem aqueles onde até um Bem-te-vi perde a noção do tempo. É hora de despertar. Afinal, o mesmo pássaro que fez daqui a sua morada, pode bater asas e voar.

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