Fazenda Campo Alegre
qui, 21 de novembro de 2013 04:34Na década de 1940, Uberlândia contava com os serviços de um próspero farmacêutico de nome Florestano Macedo Tibery. Casado com dona Irma de Magalhães Tibery e pai de quatro filhos, Maria, Ruth, Décio e Hécio, Florestano desejava, há muito, ter uma terrinha para construir um recanto de finais de semana para aproveitar com sua família.
Nessa época, a cidade era delimitada pelos trilhos da Estrada de Ferro Mogiana. Descendo esses trilhos, a caminho de Uberaba, corria lá embaixo o córrego São Pedro. Atravessando o córrego, à esquerda dos trilhos, ficava uma faixa de terra de propriedade do português Aristeu Ferreira do Amaral, amigo de Florestano.
Florestano, então, procurou o amigo e celebraram um negócio de compadre, a longo prazo, ficando ele com a propriedade de oitenta e cinco alqueires de terra, delimitadas pelo córrego São Pedro, com os trilhos da Mogiana do lado esquerdo e, do lado direito, a rodovia que vinha de Araguari, passava por Uberlândia e ia para Uberaba.
O sítio foi chamado de “Fazenda Campo Alegre”. Tinha algumas cabeças de gado, criação de galinhas, patos, gansos, perus. Tinha cachorro, cavalo, gato, papagaio e muitas outras coisas que alegravam os finais de semana da família. O restante das terras era ocupado pelo cerrado, onde rolinhas, pardais, saracuras, codornas e diversas outras espécies de pássaros faziam seus ninhos. Certa época, Florestano construiu, desviando água do São Pedro, um lago para criação de tilápias. A pescaria se tornou grande diversão para os filhos. Ao lado do lago, separado apenas por uma cerca, dona Irma implantou canteiros de rosas e palmas, de todas as cores, que eram importadas do rio Grande do Sul. Ladeando o córrego, existia um exuberante pomar com pés de laranja, manga, goiaba, caju, pitanga, araçá, jabuticaba, gabiroba e várias outras frutas. No alto havia um mangueiral que forrava o chão na época da florada. A meninada da vizinhança pulava a cerca e enchia as camisas de manga. Mais abaixo, na quina formada pelo São Pedro e os trilhos da Mogiana, existia um vasto canavial.
O loteamento do Décio
O tempo passou e chegamos aos anos 1950. Uberlândia possuía, nessa época, em torno de trinta e cinco mil habitantes mas crescia consideravelmente. Tubal Vilela começava a lotear várias faixas de terra atrás da Mogiana, depois da Vila Operária.
Décio de Magalhães Tibery, terceiro filho de Florestano, era casado com Nancy Raniero Tibery, filha do Engenheiro Eletricista Lourenço Raniero, gerente da Companhia Prada de Eletricidade. Empreendedor e visionário, Décio, insistiu com o relutante pai, até conseguir seu consentimento para lotear as terras da família. Procurou então o agrimensor Jarbas Faria França e, juntos, fizeram a planta de um bairro com um traçado completamente diferente do que existia na cidade, com grandes avenidas paralelas se entrecortando por ruas diagonais, formando vários quarteirões triangulares. Grandes praças funcionavam como ponto de ligação dessas ruas e avenidas formando um mosaico de oito pernas que se estendiam para dentro do bairro. Curiosamente foi a primeira vez que se usou em Uberlândia a palavra “bairro”. Até então a cidade tinha somente “vilas”.
Com muitos percalços, o empreendimento seguiu em frente. A família passava por dificuldades financeiras. Por isso, Décio assumiu a frente do negócio. Todos os impressos, cadernetas, contratos, plantas e materiais de escritório foram confeccionados em Ribeirão Preto. Décio conseguiu financiamento bancário e foi no Rio de Janeiro buscar um trator e iniciar a abertura das ruas do bairro. Para conseguir capital, Décio alugava o trator para terraplanagem e desmatamento na região.
Nasceu a Imobiliária Tibery Ltda., apesar do pai, Florestano, insistir que não desejava o nome da família no empreendimento. Contrariando ainda mais o pai, Décio nomeou as avenidas principais do bairro com o nome dos avós paternos, Benjamin Magalhães e Frederico Tibery.
Assim nasceu o Bairro Tibery, delimitado atualmente pelas avenidas Rondon Pacheco e João Naves de Ávila, pela BR-050 e pela avenida Anselmo Duarte e o Parque do Sabiá. O córrego São Pedro corre nas galerias abaixo da Rondon Pacheco. Os trilhos da Mogiana foram soterrados pela João Naves de Ávila. O bambuzal foi engolido pelo Center Shopping. Onde foi construído o lago de tilápias e o jardim de rosas e palmas funciona, hoje, o prédio da Receita Federal. O pomar e o mangueiral deram lugar ao asfalto do progresso.
Coimbra Júnior.
(*) Administrador de Empresas, especializado em Finanças. Trabalha atualmente na Via Travel Turismo. Criou a página História de Uberlândia no Facebook.
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