Escritores marginais: Ao ministro, com carinho.
qui, 16 de abril de 2015 07:36Estava eu em São Paulo um dia caminhando contra o vento quando me deparei com a placa indicando a proximidade de uma “Marginal”. Isso me deu muito que pensar.
Em 1960, Brasília foi inaugurada, planejada e bem construída. Em partes, conta com seu plano piloto, bem delineado, com o dedo primoroso de Oscar Niemeyer. Isso não impediu que cidades invisíveis dentro de uma cidade surgissem, para além de um grande centro. Assim, se por um lado nos deparamos com bandidos de toda sorte (de gravata ou não), é para outros e bons marginais que devemos olhar.
No mesmo ano da fundação de Brasília, um escritor argelino chamado Albert Camus, prêmio Nobel de literatura em 1957, morria em acidente de automóvel.Camus, chamado de “pied-noir” (pé-preto), levou sua escrita para longe dos meios muito formais, gabinetes de filósofos e afins. Participou ativamente do jornal “Combat”, afirmando que um filósofo se faz também como romancista.
Há pouco tempo escrevi um texto jornalístico sobre um tipo particular de corrupção que ocorre nas universidades federais. Fui considerado por alguns como alguém que deseja ser um paladino da justiça, estreito e barroco. Fui até questionado sobre o que é corrupção, já que segundo me foi dito, todos são mais ou menos corruptos: os anjos que brigaram pelo amor de Deus diante dos homens, aquele que fura a fila do ônibus e até o amigo que usa a senha da locadora virtual do amigo. Mas é fato inegável que vivemos sob um código penal que discrimina os delitos. Ou acima dos nove círculos do inferno de Dante, se você preferir.
Por isso, já que somos todos corruptos, voltemos, em tempo, ao sentido mais interessante da palavra marginal: Aquele que está às margens. Seja aquele que está nas periferias, distante de um fechamento do plano piloto ou do congresso, ou eu e você, que por vezes negamos nossos pensadores favoritos e nossos mestres na escola de filósofos. Em outras palavras, isto que podemos ser, esses marginais que elogio, são aqueles que traçam uma linha de fuga, que não se tornam doutores repetidores de Camus. O escritor marginal se incomoda com o próprio quintal, algo muito diferente do ressentimento, da reação. Caso preciso, o marginal entra em contato direto com quem produz nos micro-canais da sociedade.
Muitos não sabem, mas nosso atual ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, um escritor que admiro, utiliza sabiamente as redes sociais para compartilhar conhecimento, e agora, as ações e direções de sua passagem no cargo que ocupa. Não me contive e enviei-lhe o artigo que fiz sobre educação da diferença. Na medida do possível, ele me respondeu. E ainda que não possa responder diretamente a todos, a consideração do ministro com a preocupação dos cidadãos é admirável, elogiável. É gratificante ver um filósofo, um educador, em contato direto com nossa gente.
Bob Dylan, também nos anos 60, convocou os professores: “venham escritores e críticos que profetizaram com suas canetas, mantenham seus olhos abertos, a chance não virá novamente”. Pois bem! Sou mais Bob Dylan, sou mais Camus, sou mais Renato, sou educação e filosofia até pelas beiradas. Onde quer que elas possam ir, no Facebook ou nas estrelas, saio necessariamente da minha órbita. Sou descentrado, marginal, e isto fica feliz em ser útil!
Eduardo Arantes Corrêa – Mestre em Filosofia.
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Muito bom o texto.
Imaginemos Cidades que possuam uma Via Expressa, e nas respectivas laterais, as Ruas designadas por “Marginais”;
Imaginemos agora, os Nobres Edis em seu árduo labor de APENAS dar nomes à Praças & Logradouros, homenageando Autoridades, inclusive as Federais, “batizando” tais “Marginais” com seus nomes…
– Marginal Autoridade-fulano-de-tal, N.171, Bairro Corrupção
É. Pode acontecer, né ?!
Similar ao fato de que, na Nação, os nomes de Rodovias são grafados abreviadamente como “Via”, EXCETO a Rodovia Dom Pedro I, reza a lenda, para evitar-se uma constrangedora, homofóbica e imperial cacofonia…
Atenciosamente,
Janis Peters Grants.
Obrigado. A ideia foi justamente distanciar os sentidos da palavra marginal, ver o que ela germina realmente…