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Emergentes

qui, 29 de maio de 2014 00:01

ABERTURA DEBAIXO DO PE DE LIMAO
Por Alzira Riquieri

Um dia desses, um conhecido me contou que moraria em qualquer prédio, menos num tal, pois era cheio de emergentes. Soube o rapaz que um morador “emergente” desacatou um funcionário que não permitiu a realização de sua mudança em horário proibido pela convenção do condomínio. O argumento para o desacato: “sou dono dessa droga de prédio e mudo quando me convém”. Não satisfeito, ainda ameaçou que no dia seguinte, o “empregadinho” que lhe fez tamanha desfeita, seria despedido.

De outro bairro de classe média, com apartamentos de igual nível, vem uma lição de civilidade. Moradores do condomínio querendo economizar, se organizaram e abriram mão de porteiros e limpeza diária. Para tanto, zelam pela segurança do prédio de doze andares, obedecem a regras como não deixar o portão aberto, não admitir a entrada de estranhos sem autorização dos moradores e não jogar lixo pelos corredores. Resultado: prédio seguro com áreas comuns sempre muito limpas e a taxa de condomínio de apenas R$ 120,00 por mês. Mais do que excelente para Uberlândia.

Os dois edifícios têm apartamentos de valores praticamente iguais, e provavelmente foram adquiridos por pessoas de rendas parecidas. Segundo, o conhecido, o primeiro está cheio de emergentes e o que é mesmo emergente social?

Segundo o dicionário, emergente social é aquele que deixa uma classe social inferior para uma superior economicamente, que sobe no ranque econômico. Ser emergente nunca foi pejorativo, mas o agir sem educação é lastimável. O próprio Jesus Cristo, querendo evidentemente trazer a lição da humildade, deu à humanidade uma aula de educação, quando orientou que os convidados se sentassem nos piores lugares e não nos melhores, quando fossem convidados pra um jantar. Assim, não correriam risco de chegando um mais importante, fossem chamados a procurar o lugar mais afinado com o seu status.

Tem gente confundindo ascensão social com falta de regras de convivência e isso está evidente, em toda a nossa sociedade. Hábitos que deveriam ser automatizados, como falar em voz baixa, não avançar na comida da festa, respeitar o descanso dos vizinhos, pedir “por favor” e agradecer o favor recebido, têm sido esquecidos. É antes falta de berço, do que característica de quem subiu na vida.

Vem da jornalista Gloria Kalil uma memorável página do que é ser chique:

“Nunca o termo “chique” foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje. A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas. Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro italiano.O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida. Chique mesmo é quem fala baixo.Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta…

Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios…. Mas, para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos terminar da mesma maneira, mortos sem levar nada material deste mundo…”

Não adianta mudar pra zona sul, usar terno Armani e bolsa Luis Vuitton,  querendo ser chique por decreto. Não existem milagres, se não se tem a educação como um valor em si. A educação é a arte de formar hábitos e esses devem ser cultivados desde os primeiros anos de vida. Em se deixando esse valor de lado, só resta a pecha de no máximo ser tido como um emergente, com toda a carga de preconceito que o termo pode revelar.

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