Descaramento do nepotismo, por João Gomes da Silveira
qui, 15 de maio de 2014 00:00João Gomes da Silveira
”Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha”.
(Provérbio popular)
A prática descarada do nepotismo neste país, vem de muito longe. Nem por isto deixa de ser desprezível e nojento o tal procedimento, no âmbito das administrações públicas. A patifaria dos “nepotes” – império dos netos, sobrinhos, filhos, genros, noras e demais afilhados e protegidos – remonta lá aos tempos da colonização portuguesa, no Brasil.
Não vou, aqui, deter-me à raiz da palavra “nepotismo”, que isto só quer dizer respeito aos nossos etimologistas. Para defini-lo bem, fico apenas com esta acepção retirada ao dicionário do Houaiss: “favoritismo para com parentes, especialmente pelo poder público”. Coisa feia e nojenta, meu povo, contudo como tanto, demais e abusivamente só impera nesta pátria brasileira!
Ou, por outra, tornando ainda mais claro o bote da cobra, vou jogar com estes dois conceitos de mestre Aurélio: favoritismos, patronatos. Os papas, lá do antigamente, nomeavam os sobrinhos e outros familiares para exercerem o comando eclesiástico. Rateio em família, tudo bem.
Em qualquer comarca, município, estado ou região da Federação, lanço o desafio. Vejam se os mais importantes cargos públicos, até os eletivos, nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas, palácios de prefeitos e governadores, cortes do Judiciário, indo sobremaneira ao Congresso Nacional, com raríssimas exceções, não são exercidos pela mão boba do nepotismo. Vejam, aí, tentem, em seus territórios, se não é tudo predominantemente torta recheada de parentes no comando dos três poderes.
Não dou nomes aos bois para não pegar processo judicial, mas, no País, no Nordeste, principalmente, tem disto, sim: NEPOTISMO. Alguns oportunistas partiriam para cima, se eu fosse citar nomes. E enfrentar processo exige grana e nem tostões ando com eles, no bolso, por não tê-los.
Num abrir e fechar de olho, em geral a rasgar verbas dos impostos pagos pelo povo, apenas com raríssimas e honrosas exceções, os governantes do Executivo e do Legislativo fazem de tudo pela ascensão política dos seus filhotes, em cargos eletivos, quando antes os haviam feito de assessores, chefes de gabinete, mandachuvas de altas funções comissionadas. Afinal, tudo água correndo para o mesmo ribeirão de caudal muito tisnado.
Sem prática nem vocação nenhuma para o exercício do bem comum, porém bastante hábil para um fraudador, em potencial, na maioria das vezes, o fedelho vai ali desandando, tomando gosto pela coisa e zás: chega a vereador, deputado estadual, ou a prefeito, a fim de que possa tornar-se o continuador do pai, tio ou sogro. E aí, mais adiante, monta no boi gordo dos parlamentos de escadinha da Nação.
Ou seja, favas contadas. Tudo gente de marca, nos clãs, “de tradicionais famílias”, escovadas raposas políticas e, também, conhecidos sucessores de velhos caciques políticos da região rural ou da cidade. Aí o chefe do grupo político – conservador ao extremo – sai eleito oito, dez vezes deputado, tempo em que “planta” os capitães hereditários no poder.
Quando tais caciques andam ruins das pernas, sem dar muito rendimento nas urnas, assumem o cargo de conselheiro em algum dos tribunais de contas, com remuneração muito gorda e bem nutrida. Falei de tribunais de contas? Mas há as autarquias, superintendências, diretorias disto e daquilo, chefaturas etc., coisa e tal, só para os dos clãs de “tradicionais famílias”. Vale dizer, os apaniguados, gente fina oriunda do nepotismo.
Nesse bem-bom dos conselheiros disto e daquilo, das diretorias favorecidas, os cargos ditos “de confiança” etc., o pessoal do melhor beleléu do mundo, sem bobeira e sorrateiramente, galga espaços somente assumidos por inimagináveis marajás. Resultado: três ou até mais aposentadorias. Alguns ascendem a ministros, lá no Planalto. E com funções vitalícias nas costas e altíssimos vencimentos, nas três esferas – sinecura municipal, estadual e federal –, e pronto, sem choro baixo, estamos todos conversados.
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