* Marta Ferreira Alves Duarte

Na altura dos meus 90 anos e já no terceiro milênio, o artigo do Sr. Antonio Prata na página 2 do nosso querido Jornal Gazeta do Triângulo do dia 12/04/2014 falando contra a Democracia, as maiorias pobres, negros, índios que ele considera minorias, deixou-me estarrecida.

Como cristã e cidadã não posso deixar de aconselhá-lo a descer de seu patamar  econômico e se inserir no meio daqueles a quem o senhor se refere com tanto desrespeito à dignidade humana que não tem a menor diferença da minha e da sua. Compartilhe com eles a vida de cada dia, a luta pela sobrevivência cujo sonho ainda é ter comida amanhã.

Olhe as crianças não como seres a mais na sociedade, mas como donos de um rosto e um coração que tem esperança e sonho.

O projeto democrático não é de direita ou esquerda, é o dever de oferecer  principalmente aos mais pobres, condições básicas de moradia, saúde e educação para serem verdadeiramente humanos.

Quando se referir aos “índios” lembre-se que são os legítimos donos da terra e que foram dizimados pelos colonizadores restando menos de 500.000 ante os milhões de habitantes e que a produção de um país primeiramente deve servir ao seu povo e depois “às divisas”.

Quanto às “cotas” que se refere com tanto desprezo, reflita um pouco sobre os milhares de jovens, rapazes e moças que têm capacidade e vocação para serem ótimos profissionais e até cientistas, mas destinados a servir aos que podem oferecer salários e muitas vezes injustos.

– “O poder desmesurado” dado aos negros, lembre-se também que são descendentes daqueles que foram usurpados de suas terras, trazidos amontoados como coisas, usados e torturados num trabalho escravo, construindo e produzindo para fazendeiros e elite brasileira.

Demorou muito para que algum governo começasse a resgatar a dignidade dessas pessoas que enriqueceram o nosso país com seu trabalho e sua cultura.

– “As mulheres, inclusive as feias e gordas” – devem preocupá-lo mesmo, pois não são mais submissas ao machismo e reclusas ao lar para cuidar da casa e da educação dos filhos, elas são capazes de vencer com inteligência, esmero e responsabilidade o mundo masculino chegando até a Presidência da República.

-”A saudosa marcha da família com DEUS pela liberdade” –  não nos salvou do comunismo e sim contribuiu para nos aprisionar ao sofrimento de numerosas famílias  pelas torturas e mortes de seus filhos, parentes e amigos que sonhavam com um país livre, com pessoas felizes, amando, protegendo sua terra e cumprindo seus deveres sociais. Só defende a ditadura quem a tem na mente e no coração.

O Senhor disse: – “ … antes que me chamem de racista…” –  pois para mim o seu texto não deixa dúvidas quanto a sua postura “ racista, preconceituosa e homofóbica”.

– “Nelson Mandela dizia que ninguém nasce odiando o ser humano pela cor da pele, origem e religião. Para odiar é preciso aprender e se tem que aprender, devemos ensinar a amar. O amor chega mais rápido ao coração do que o ódio.

A bondade e a sensibilidade humana são uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.

Meu caro escritor, o senhor está se esquecendo da “vida”.  A vida é o maior dom recebido no Planeta Terra para que todos usufruam dela com dignidade.

Existe um tripé que a sustenta e a protege: justiça, verdade e amor.

Qualquer um dos pés que falhar desequilibra os outros. Este tripé ajuda nas grandes reflexões ou nas conversas rotineiras. É ele que nos faz viver bem e amar a vida.

Aconselho-o a amar e proteger a vida – a sua vida, a vida dos outros e a vida da natureza e assim terá a certeza de que ninguém pode ter mais direito do que o outro e lutará por uma democracia cada vez mais humana, mais verdadeira e mais justa.

* Assinante do Jornal Gazeta do Triângulo