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Conservatório resgata Farnese de Andrade em exposição

sáb, 23 de novembro de 2013 12:22

Imagens xerocopiadas e releituras de obras do renomado artista
plástico araguarino estarão abertas a visitação a partir do dia 26

Tudo Continua Sempre – 1974, obra do artista

Tudo Continua Sempre – 1974, obra do artista

TALITA GONÇALVES – Um homem recluso, de hábitos estranhos, com muitos conflitos internos e ideias polêmicas, mas que acima de tudo produziu uma arte singular que continua a despertar as mais variadas impressões e reflexões. Farnese de Andrade (1926-1996) nasceu em Araguari, teve a infância marcada. Embora tenha recebido vários prêmios no Brasil e fora dele, gerando fascínio de críticos apreciadores de arte por todos os cantos, ele nunca chegou a ter reconhecimento público intenso, muito menos ainda em sua cidade natal.

Como forma de homenagear Farnese, resgatar sua obra e apresentá-la a comunidade araguarina, a partir do dia 26, às 20h, será aberta a exposição de imagens xerocopiadas e releituras de obras no Conservatório Estadual de Música e Centro Interescolar de Artes Raul Belém. A entrada é gratuita. Logo na abertura, os visitantes receberão informações para entender melhor as obras e conhecer um pouco mais do universo de Farnese.

Grande parte dos trabalhos desse controverso artista era os assemblages (processo de montar objetos superpostos dentro de caixas, oratórios ou planos bidimensionais) feitos com elementos gastos, velhos e usados – fotografias antigas, imagens sacras, cabeças de bonecas de porcelana compradas em antiquários, bonecas de plástico ou até mesmo algo encontrado no lixo. Se por um lado a escolha dos materiais pode provocar questionamentos, por outro, seu processo de criação era extremamente meticuloso. Levava um ano ou dois para concluir uma peça. Nada estava onde estava por obra do acaso, sem reflexão. Para ele, a satisfação pessoal de criar o que criava era o principal. O efeito que aquilo poderia causar nas pessoas era secundário.

Em linhas gerais, a obra de Farnese é repleta de simbolismos, morbidez e tristeza, além de uma forte carga religiosa, com menções ao sincretismo, a problemática do corpo. Sua infância marcada pela morte trágica dos dois irmãos, a tuberculose, conflitos pessoais e com a família podem ajudar a desvendar suas criações, mas não limitá-las ao particular, por serem complexas, ricas em sentidos, sensações. Inclusive, transportados para a sétima arte. “Farnese” (1970), dirigido e roteirizado pelo crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, foi escolhido melhor curta-metragem no Festival de Cinema de Brasília de 1971 e representou o Brasil no Festival de Cannes.

O despertar para a arte e para as possibilidades do que pode ser feito com lixo também são para Júlio Monteiro, mentor da exposição, uma das alternativas que o trabalho de Farnese pode proporcionar. “Tenho certeza que alguém vai ver isso e começar a fazer também,” disse ele.

ENCONTRO COM FARNESE
Júlio Monteiro se encontrou com o artista em 1991. “Fui expor meus trabalhos no Rio e de repente no final do vernissage ele apareceu. Fiquei meio ‘abobado’, pensando ‘Farnese aqui, na minha exposição’? Ele se identificou com uma obra minha,” contou. Dias depois, foi recebido na casa dele no Rio. As conversas foram sobre arte, trajetórias, Araguari. Conheceu o ateliê, com suas obras e muito material. “Tirei uma foto dele e ele também me fotografou. Perguntei se ele queria trocar algum trabalho comigo, mas ele desconversou. Eu não gosto de insistir, então deixei para lá. Mas talvez se eu tivesse feito, poderia ter hoje uma obra dele.” Não só Júlio poderia ter uma obra de Farnese, como também a cidade. “Em 98 o sobrinho dele (José Otávio Lemos) me ligou, para que o governo municipal comprasse parte do acervo. Mas isso, aqui em Araguari é difícil,” lamentou.

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