Coluna: Neuropsi (10/11)
qua, 10 de novembro de 2021 09:061- Como lidar com o luto assim que ele ocorre?
Vivendo o luto, não há outra forma. O caminho para enfrentar isso é reconhecendo que está acontecendo.
É um processo saudável, necessário e inevitável, mesmo que seja extremamente doloroso . Portanto, a pessoa enlutada não está doente e nem precisa ignorar os sentimentos. O melhor que pode fazer é vivenciar o luto de verdade. Não há como passar pelo processo de luto sem se conscientizar da dor da perda.
2-O que você tem que entender que pode ocorrer num velório para evitar julgamentos desnecessários?
São questões pessoais. Cada um tem sua forma de sentir dor, cada um tem seus traumas, suas angústias. O ser humano tem que aprender a respeitar isso.
Não necessariamente o choro é a única maneira para a gente demonstrar o pesar.
Sorrir é normal; tudo bem não ir ao velório, pois algumas pessoas vão querer guardar a imagem daquela pessoa perdida fora daquele contexto. Tem pessoas que lidam mesmo mal com o cemitério, com caixão. Estar no enterro não significa amar mais ou não.
Pode ocorrer o ‘não chorar’, ou chorar muito; usar preto não é obrigatório.
Importante é não patrulhar o sofrimento alheio.
3-Então sorrir em um momento tão triste é normal?
Sim. Cada um demonstra a dor a seu modo, cada pessoa reage de uma forma quando recebe uma notícia, seja triste ou feliz. Não cabe julgamento.
O sorrir é uma das maneiras de a gente lidar com essa perda tão intensa. Lembrar das coisas boas, de ‘causos’ que vivemos com a pessoa, situações engraçadas que tivemos. Lembramos disso e sorrimos. Daí você lembra que a pessoa não está mais lá e chora. Esse misto de emoções faz parte do ritual de despedida.
A tristeza e alegria ” andam lado a lado “, no nosso cérebro, elas não são opostas. O indivíduo pode lamentar a morte, chorar, sentir essa perda, mas também precisa seguir a vida, celebrando e lembrando das coisas boas que aconteceu/vivenciou.
4-Como agir com a criança mediante a morte de um ente querido?
As perdas e a morte fazem parte do desenvolvimento humano desde o nascimento até o fim da vida. A criança pequena pode viver experiências de morte, mas ainda não sabe que da morte ninguém volta, e que essa acontece com pessoas queridas (pais, avós, amiguinhos, animais de estimação). Por isso são importantes esclarecimentos e a acolhida dos sentimentos. Os adultos familiares (pais, tios, avós, professores) são modelos para criança, um porto seguro. Essas primeiras experiências deixarão marcas profundas na vida de cada um de nós.
As crianças são mais vulneráveis aos efeitos das perdas, pois estão se desenvolvendo cognitivo e emocionalmente. É necessário que suas perdas sejam acompanhadas pelos adultos, e que esses acolham a criança nesse momento tão delicado, evitando e prevenindo assim, prejuízos e sequelas no psiquismo da criança, para toda vida.
5-Após a dor da perda, como voltar à rotina e como se reestabelecer?
Através da superação e aceitação do fato ocorrido, não há outro caminho. Mas, superar não é esquecer. Significa aceitar e continuar a viver. A superação só se dá a partir de um longo processo e ela não significa esquecer, fingir que não aconteceu ou ainda não sentir dor quando lembrar.
O tempo que a maioria das pessoas levam para lidar com a ausência do ente falecido, gira em torno de um a dois anos.
Uma boa maneira de reestabelecer a rotina é trabalhando, pois, o trabalho impede a pessoa de render-se a paralisia, ao desanimo e principalmente, a não justificar o fracasso pela ausência do ente querido.
O trabalho deve entrar nesse contexto como uma tarefa que auxilia a pessoa a continuar a rotina de a sua vida, não como simples evitação da tomada da consciência da dor. Retomar a sua vida não significa, necessariamente, que a pessoa já tenha superado, mas sim que ela continua a viver. O trabalho, bem dosado, é uma forma de continuar a viver.
6-Como os amigos e os parentes devem se comportar com uma pessoa enlutada?
Ajudar um enlutado não é dizer frase do tipo: “bola para a frente”, “a vida continua”, “logo, logo você esquece e parte para outra”. Geralmente essas são palavras banais, e causam muita irritabilidade para a pessoa que está sofrendo, pois se interpreta que o outro é incapaz de entender o tamanho da sua dor. Mas, familiares e amigos podem ajudar não tanto pelas palavras de conforto, muitas vezes mal colocadas, mas sim com a presença solidária durante o tempo de sua dor e de sua angústia. Bem como podem oferecer-se para ajudar na manutenção da rotina doméstica. Um ombro amigo, compreensivo e mesmo silencioso expressará grande apoio quando as palavras não são suficientes. É importante dar para as pessoas tempo suficiente para se lamentarem, não apressem o ritmo do enlutado, não ignore sua dor, apenas seja um ombro amigo e presente.
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