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Coluna: Direito e Justiça (21/03)

qui, 21 de março de 2024 08:07

Direito e Justiça:

 

 

 

– Grazi Massafera será “Dona Beja” em nova versão a ser exibida pela HBO Max, serviço de streaming, provavelmente no primeiro semestre de 2025.

 

Uma das apostas da HBO Max na produção de novelas no Brasil, “Dona Beja”, terá narrativa modernizada em relação à obra original (“Dona Beija”), exibida na extinta TV Manchete em 1986 e aos livros que inspiraram o roteiro (Pesquisa superficial no Google, onde existe mais material sobre o assunto).

 

 

O Presente de Dona Beja:

 

 

Essa pequena e interessante narrativa, que ora lhes trago, faz parte inseparável da lenda em que já se transformou a figura folclórica de Dona Beja (“ou Beija).

 

Dona Beja, certa vez, teria recebido de uma das mulheres da sociedade da terra onde estava um presente insólito: um cesto cheio de esterco de vaca.

 

O que fez a Beja?

 

Tomou do esterco e com ele adubou o seu canteiro de rosas. Mais tarde, aproveitando-se do cesto, colhidas muitas e belíssimas rosas, todas elas fartamente estercadas, fez um exuberante arranjo com rosas de várias cores, remetendo de volta o cesto para a autora da façanha, com o seguinte bilhete:

 

– Recebi com emoção e agrado o seu presente. Pois, na verdade, cada pessoa somente pode dar as outras aquilo que tem. Nada mais. Foi-me muito útil o seu esterco e aproveitei-o, todo ele, para adubar o meu jardim, de onde colhi essas belas rosas que lhe ofereço com prazer e que poderão enfeitar a sala da sua linda casa. Obrigada. Beja!

 

Não sei mesmo dizer se foi verdade, ou se isso aconteceu de fato. A novela televisiva disse que sim e parece-me que o povo, na época de Dona Beja, século XIX, também dizia que sim … — e, como se diz, a voz do povo é a voz de Deus. Ademais, pelos meandros tortuosos e teimosos da História, não se pode mesmo negar alguma coisa somente por negar. Dona Beja, a Beja, além de muito bonita, era inteligente, espirituosa, intrépida e não levava desaforos sem dar-lhes o troco.

 

Araxá e Bagagem (hoje Estrela do Sul), duas graciosas e progressistas cidades do meu Estado natal Minas Gerais, já se renderam inteiramente ao charme dessa mulher e, hoje, prestam-lhe homenagem e deferência, preservando-lhe a memória e orgulhando-se de tê-la tido como cidadã em trechos importantes da sua agitada vida.

 

Todavia, nem sempre foi assim. Mas o tempo cura males, fecha cicatrizes e acaba sendo o senhor de todas as razões. O passar dos anos falou mais alto. Dona Beja, que já era uma lenda, agora, torna-se mito. Ambos só fazem aumentar.

 

 

P. S. :

– “Beja” ou “Beija”? Dona Beja nunca teve o “i” no meio. Foi a TV Manchete quem inventou. É um apelido, ou seja, uma alcunha. Atrevo-me a dizer que deriva e faz parte do bom “mineirês”, um linguajar (quase um dialeto) peculiar e existente aqui pelas nossas Alterosas (Minas Gerais), onde as palavras perdem letras e sílabas e tornam-se mais fáceis de pronunciar. Exemplos: chero (cheiro), quejo (queijo), coitadocê (coitado de você), Nó (uma contração de Nossa Senhora), tiquim (tiquinho, pouquinho), véi (forma de chamar alguém, o mesmo que cara no Rio de Janeiro e mano em São Paulo). E, por aí vai, sem nunca me esquecer de trem, uai, cascar fora, sô, sá e uma infinidade de outras mineirices.

 

– A novela “Dona Beija”: Dona Beija foi uma novela brasileira, produzida e exibida pela Rede Manchete entre 31 de março e 11 de julho de 1986, em 89 capítulos com a duração de 60 minutos cada um. Baseada no romance “A Vida em Flor de Dona Beija”, de Agripa Vasconcelos, foi escrita por Wilson Aguiar Filho com colaboração de Carlos Heitor Coury. Atores: Maitê Proença, Gracindo Júnior, Marcelo Picchi, Bia Saidi, Maria Fernanda, Maria Isabel de Lizandra, Jonas Mello e Arlete Salles, nos papéis principais.

 

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Comentário pessoal:

 

Ana Jacinta de São José, conhecida como Dona Beja, foi uma personalidade histórica brasileira do século XIX, conhecida por ser influente na região de Araxá, Estado de Minas Gerais e, mais tarde, em Bagagem (atual Estrela do Sul).. Nasceu em 02 de janeiro de 1800, em Formiga – MG e faleceu em 20 de dezembro de 1873, em Estrela do Sul – MG.

 

 

Reza a lenda que Beja foi uma das mulheres mais bonitas do Brasil-Império. Era loira, filha de uma índia, que encantou homens e enfureceu as mulheres da “tradicional” sociedade daquela reprimida época vitoriana, tendo sido em Araxá que ela viveu o seu apogeu como cortesã de luxo (nome mais suave, um eufemismo para nomear prostituta ou meretriz); tornou-se líder política e foi dona de grande patrimônio, incluindo imóveis e escravos, conforme se pôde ver, depois, no seu testamento.

 

 

Já em Estrela do Sul (a antiga Bagagem), Beja atuou no rendoso comércio de diamantes e nessa mesma cidade faleceu e foi sepultada. Recentemente, a justiça local determinou a lavratura do seu registro de óbito, visto que isto ainda não tinha sido feito. Virou nome de livro, personagem de novela e ganhou um status quase folclórico na história do Brasil; atrai grande e continuado interesse sobre si, tanto de pesquisadores quando de turistas e curiosos, todos ansiando por conhecer as “peripécias” de uma mulher certamente “independente, situada fora e além do seu próprio tempo”.

 

 

Sem me imiscuir no mérito das coisas, cito que muitos afirmam ter sido ela e ainda ser ela a mais famosa, conhecida e influente mulher de Minas Gerais. Dizem até que, por sua causa e influência, por suas “artes” (direta ou indiretamente), o atual território do Triângulo Mineiro — na época pertencente a Goiás e conhecido como Sertão da Farinha Podre –, passou a pertencer definitivamente ao Estado de Minas Gerais. E nele está localizado o nosso Município de Araguari.

 

 

Considero ser justo destacar que Dona Beja não peregrinou pela vida em branco, ou seja, sem nada para ser lembrado após a sua passagem deste para um outro plano. Na verdade, e não se pode negar, ela deixou um legado muitíssimo pessoal, e digamos assim, no mínimo histórico, impactante e polêmico. E isso não é pouca coisa…!

 

Há muito material disponível na internet a respeito dessa exuberante personagem histórica. Vale a pena consultar, por exemplo, a Wikipédia e algumas outras fontes. Não é importante, em absoluto, prejulgar, julgar, condenar ou absolver, mas é, sim, relevante, conhecer os fatos ordinários e extraordinários que permearam a vida de Dona Beja. No final de tudo, todos acabarão reconhecendo, ao menos, uma coisa: ela foi uma mulher que nunca se rendeu às circunstâncias adversas, que jamais se dobrou aos preconceitos e conceitos desfavoráveis que lhe pudessem jogar ao rosto.

 

 

Portanto, Dona Beja foi e continuará a ser um ser humano cativante, mais ainda, uma mulher, que norteará os rumos daqueles ou daquelas que tiverem em si mesmos a consciência do próprio valor, sabendo que reputação é aquilo que você pensa de si, e que autoestima é aquilo que você guarda para si, pouco lhe importando a opinião ou atitude alheia a seu respeito.

 

 

 

Finalizando: prova disso tudo que afirmo é essa estória trazida aqui. Folclórica ou real, também não importa, porquanto retrata fielmente o que se sabe, supostamente ou de fato, acerca do temperamento indômito e das condutas valentes e firmes dessa valorosa mulher, que viveu inserida em uma época adversa, hipócrita, repressiva e de falsa moral (o período vitoriano) na qual, muito mais do que hoje, a discriminação em favor do homem era fortíssima, pérfida e totalmente excludente para com o sexo feminino. Ainda há discriminação, menos, mas ela ainda existe…!

 

 

Mais do que tudo, Dona Beja resistiu e foi resiliente…!

 

 

 

 

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1 Comentário

  1. ELIANE disse:

    Como ela era uma criança muito bonita foi chamada de beija-flor e foi raptada por isso e foi ela que conseguiu com o governador que pediu para a corte desmembrar essas terras que pertenciam a Goiás que nessa época eram províncias, mas deveriam tê-lo incluído em Minas Gerais. Os movimentos para separá-lo vem desde os anos de 1850, mas com a Constituição de 1988 foi pedido mas só dividiram o Estado de Goiás criando o Estado do Tocantins e agora ficou mais difícil porque Minas não quer perder o Triângulo porque ele é uma parte rica do Estado e aí os governantes entram para atrapalhar. Em 2019 houve uma proposta para tornar os Estados independentes para que cada um gerisse seus rendimentos.

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