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Coluna: Direito e Justiça (08:06)

qui, 8 de junho de 2023 10:13

Direito e Justiça:

 

O feriado católico de Corpus Christi:

 

· Corpus Christi é uma festa essencialmente cristã, tradicional, solene e respeitável.

· Destaca-se sobretudo no âmbito da Igreja Católica, embora seja comemorada fora dela.

· Acerca de outros aspectos e significados existe grande material de pesquisa na internet.

· Aqui, o meu desejo é apenas o de homenagear a data e especialmente a Jesus Cristo.

 

Corpus Christi significa Corpo de Deus (em latim Corpus Domini). É uma festa religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana, que tem por objetivo celebrar o mistério materializado da eucaristia (ou Santa Comunhão) o sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo, consubstanciados (unidos e presentes) na hóstia sagrada (o corpo) e no vinho (o sangue). Segundo a tradição católica, a eucaristia foi instituída pelo próprio Jesus, quando da última ceia com os seus doze discípulos.

 

No âmbito da Igreja Católica, a festa (ou data) de Corpus Christi foi oficializada no ano de 1264 pelo papa Urbano IV; segundo registros da Igreja, atendendo Santa Juliana de Cornillon (na Bélgica) que, em 1258, teria recebido de Jesus, em uma revelação particular, o pedido para que fosse introduzida no calendário litúrgico da Igreja a festa de Corpus Domini.

 

Corpus Christi é uma festa religiosa com data móvel, mas cairá sempre numa quinta-feira, para desta forma relembrar o ato, registrado na Bíblia (Novo Testamento), realizado por Jesus numa quinta-feira, véspera da sua morte na cruz. Com algumas alterações decorrentes de traduções e edições diversas, mas que não desvirtuam o sentido final, Jesus teria dito aos seus discípulos naquela última ceia:

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E, chegada a hora, pôs-se à mesa e, com ele, os doze apóstolos.

– Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus.

Pegando o cálice, deu graças e disse:

– Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo; já não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus.

 

 

Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o deu-o, dizendo:

– Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.

Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo:

– Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.

Lucas: 22 – 14 / 20.

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O Suave Milagre:

(Adaptação de texto de Eça de Queiroz)

 

Junto a Siquém, num sórdido casebre, vivia uma viúva, desgraçada entre todas.

Tinha um filho doente, que definhava aos poucos, vencido pelas febres.

O chão era úmido e malsão: não havia ali a mais miserável enxerga. Só alguns trapos que serviam de leito.

Na lâmpada de barro velha e suja secara o azeite.

O grão faltava na arca; cessara o ruído dormente do moinho doméstico. Em terras de Israel era isto a evidência cruel da mais negra miséria.

A pobre mãe, sentada a um canto, chorava. Mal deitada em seu colo descarnado, envolta em farrapos, pálida e tremente, a criança pedia-lhe numa voz débil como um suspiro, que fosse chamar esse Rabi da Galileia, de quem ouvira falar junto ao poço de Jacó, que amava as crianças, dava de comer às multidões e curava todos os males humanos, com a simples carícia de suas mãos pálidas e esguias.

E a mãe dizia-lhe, chorando

– Como queres tu, filho, que eu te deixe e vá em busca do Rabi da Galileia? Obed é rico e tem numerosos servos. Pois Obed, com seus auxiliares, procurou Jesus por todos os recantos e aldeias, desde Corazin até o país de Moab, e não o encontrou. Lúcio, o romano, é forte, dispõe de centenas de soldados, e tudo fez para encontrar Jesus. Percorreu os campos e as estradas, desde o Hebron até o mar, e não conseguiu avistar o Rabi. Se os ricos e poderosos não descobriram Jesus, como queres tu que eu possa encontrá-lo?

A criança, com os olhos cansados, repetia baixinho, muito triste:

– Mamãe! Eu queria ver Jesus da Galileia!

E a mãe, a chorar, torturada pela angústia, continuou:

 

 

– De que me servirá, meu filho, partir e ir procurá-lo? Extensas são as estradas da Síria, curta é a piedade dos homens. Vendo-me tão pobre e tão só, os cães viriam ladrar-me à porta. Decerto Jesus morreu e com ele morreu, uma vez mais, toda a esperança dos tristes.

Pálida e desfalecendo, a criança implorou ainda:

– Mamãe! Eu queria ver Jesus da Galileia!

Abrindo devagar a porta e, sorrindo cheio de amor, Jesus disse à criança: – Aqui estou, meu filho. Aqui estou!

 

FONTE: Lendas do Céu e da Terra – Malba Tahan.

Editora Record, 19ª Edição, págs. 103/104.

 

Comentários pessoais:

 

Muitas vezes pretendi comentar este apólogo belíssimo e comovente e também muitas vezes eu ensaiei fazê-lo. Cheguei mesmo a palestrar sobre ele e o ensino contido em suas frases. Por um ou outro motivo, desses que a gente não explica e não lembra mais, não cheguei a concretizar o intento. Foi melhor assim, pois amadureci as ideias e aproveito-me de uma data emblemática, como é o dia do Corpus Chiristi deste corrente ano de 2023, quinta-feira, oito de julho, para fazê-lo. Ou tentar…!

Pobre mãe! Chorosa, sofrida, paupérrima e desvalida, como tantas outras mães amorosas deste mundo, que é por vezes muito desigual e injusto e cruel, um mundo em que poucos têm de sobra e muitos não possuem sequer o básico para manterem uma sobrevivência humana digna.

Jesus já sabia tudo acerca da inocência das crianças e por isso sempre deixou e incentivou que elas viessem até ele. Declarou peremptoriamente que o céu é das crianças e que todo aquele que desejar nele entrar terá que ser como os pequeninos inocentes. Mas, muitos não compreenderam esta sua mensagem, como não compreenderam, ou rejeitaram, tantas outras passagens. E, no fim, crucificaram-no.

As crianças não são como os adultos, que, com a idade, vão aos poucos abandonando os seus valores morais ancestrais e de família e descrendo das coisas maiores, que são aquelas embasadas pela fé ainda que possam momentaneamente parecer irreais ou impossíveis.

Pois, as crianças sempre esperam, acreditam e jamais perdem a esperança. São como o pequenino dessa estória, que almejava ver e receber em sua casa o “doce Rabi da Galileia”, que tantos poderosos procuravam, mas que não encontravam por conta de sua arrogância e soberba.

 

A criança, apesar das agruras, ouvia com certeza ternas palavras de sua mãe acerca de Jesus e, por isso, intuía, acertadamente, que a presença de Jesus far-lhe-ia muito bem. Aprendeu em pouca idade que o Divino Mestre fazia o melhor de si para aqueles que se privilegiavam com a sua presença. Todos, como a sua mãe, falavam de Jesus, contavam os seus milagres, as suas curas, a sua bondade, a sua compaixão para com os pobres, onde quer que fosse, sem preconceitos, sem tardança.

Decerto a criança também ouvira que Jesus seria a sua maior e quiçá última esperança de cura. Por isso, nutria uma fé inabalável, infantil e pura, e suplicava à querida mãe que o fosse procurar, que o trouxesse até ele. Mas, pobre mãe: como buscar e encontrar Jesus, se tantos outros, e tão poderosos, haviam falhado?

Mas não desistiu o pequeno. Buscando e sustentado pela fé, o meio infalível de encontrar Jesus, que estará sempre dentro do coração de cada um que nele crer, conseguiu o menino transformar um sonho em realidade.

Mudou o seu destino:

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“Abrindo devagar a porta e, sorrindo cheio de amor, Jesus disse à criança: ” “- Aqui estou, meu filho. Aqui estou! ”

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Se me fosse permitido complementar ou fechar este enredo, eu faria assim:

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– Filho, o que queres que eu te faça?

– Oh, Doce Jesus! Eu quero ficar bom…!

Colocando as suas mãos benevolentes sobre a pequenina cabeça daquele inocente, Jesus transmitiu-lhe de imediato um átimo da sua extraordinária força energética, e a criança instantaneamente ficou sã de todos os seus males. Depois, deu graças ao Pai Todo-Poderoso e abençoou aquela mãe e a sua casa.

Com a saúde restaurada, nunca mais faltou o alimento, e a esperança renovou-se mais fortemente no seio daquela família.

Assim era Jesus!

Araguari – MG, 6 de julho de 2023.

Rogério Fernal

1 Comentário

  1. Eliane disse:

    Muito linda essa lenda, até hoje aquelas regiões sofrem com a fome.

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