A história de uma escola
qui, 6 de novembro de 2014 00:05
A avenida Vasconcelos Costa, no bairro Martins, é recheada de galpões que serviram, na década de 1940, às grandes cerealistas que se fixaram nas proximidades da Estrada Ferroviária Mogiana, para receber matéria prima e exportar grãos ensacados para o resto do país. O final da avenida ficava cheio de sacos de grãos nas calçadas e caminhoneiros que traziam grãos das vizinhanças para beneficiar.
Depois da retirada dos trilhos do centro da cidade, esses galpões foram sendo remodelados e reutilizados à medida que as cerealistas deslocaram para a beira da rodovia que liga Uberlândia a São Paulo. Barracões viraram bancos, faculdades, escolas e estacionamentos. Outros atenderam novas formas de comércio. E novas construções comerciais mais modernas surgiram com a demolição de alguns. Próximo ao final da avenida, onde ela se debruça sobre a avenida João Pessoa em ângulo reto, temos uma construção que se destaca das demais. Muro baixo, cercada de árvores, em estilo arquitetônico neoclássico, ela foi construída na avenida ainda vazia, de terra batida, bem antes da chegada dos galpões, dos grãos e dos caminhoneiros.
No Ano da Graça de Nosso Senhor de 1926, durante a gestão do Intendente Estadual Antônio Carlos de Andrade, foi iniciada a construção de um Grupo Escolar, para atender a crescente cidade de Uberabinha. A obra se arrastou por quatro anos e somente dois anos mais tarde foi inaugurado o Grupo Escolar Minas Gerais, na já nominada cidade de Uberlândia, oferecendo o curso primário para as crianças da cidade. O construtor do prédio foi Américo Zardo, que se destacou no ramo da construção civil nesse período. Sua primeira diretora foi a Sra. Benedita Pimentel de Ulhôa Rocha, que ficou no cargo por 22 anos.
Sem leis governamentais ou programas sociais vigentes, a escola foi pioneira em Uberlândia no fornecimento de merenda escolar para os alunos. Foi montada uma horta nos fundos do terreno, cuja produção abastecia o refeitório que produzia as merendas. Mas o Estado só arcava com as despesas referentes ao salário dos professores. Então a comunidade se mobilizou e ajudou a escola através de doações e promoção de festas.
Em 1934, o nome mudou para Grupo Escolar Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa, em homenagem ao Juiz de Direito da Comarca de Uberlândia.
Em 1963, foi construído um anexo para abrigar a cantina composta de um galpão e uma cozinha e, na mesma data, foi construída uma residência para o zelador.
Em 1974, em decorrência de resolução federal, a escola passou a oferecer as oito séries do ensino fundamental. Foi então construído um novo anexo, que ocupou o fundo do terreno, paralelamente à fachada principal, promovendo o fechamento do pátio central.
Em 1979, os forros, originalmente em estuque, argamassa formada por gesso, água e cal, aplicada sobre uma trama de ripas de madeira e tela de arame, foram substituídos por forros de madeira. Em alguns espaços, o novo forro foi assentado abaixo do original. Nesta mesma ocasião, as posições das portas das salas de aula, que tinham acesso pelo corredor frontal, foram mudadas e o acesso passou a ser feito pelos corredores laterais.
Em 1984, a escola recebeu novo acréscimo, com a construção de um galpão para abrigar novas salas de aula e a biblioteca, construído paralelamente ao anexo anterior. Nessa época, a escola já contava com cerca de mil e duzentos alunos. Todos esses acréscimos foram feitos nos fundos do prédio, preservando o estilo da frente.
Em uma nublada manhã de domingo, no dia 4 de outubro de 1987, ocorreu a grande tragédia da história da escola. Um incêndio, em decorrência de um curto circuito na precária fiação de mais de cinquenta anos, destruiu totalmente a cobertura e os pisos de madeira, inclusive os barrotes, estruturas que ficavam abaixo do piso. Conforme noticiou o jornal Correio de Uberlândia: “Entre outros bens, todas as salas de aula, um arquivo de 56 anos e o gabinete dentário foram destruídos, ficando intactas apenas as instalações da parte nova do prédio, como a secretaria e a biblioteca.” E o jornal Primeira Hora complementou: “Depois das vistorias realizadas pelo Corpo de Bombeiros, a diretora da E.E. Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa, Vanda Fernandes de Freitas, recebeu parecer favorável para ocupar as quatro salas de aula, o laboratório e a cantina, que formam o prédio anexo da escola e que não foi atingido pelo fogo que destruiu praticamente todo o resto da construção.”
No mesmo mês de outubro, o governador do Estado, Newton Cardoso, liberou recursos para a reconstrução do prédio, que durou mais de um ano. Somente em 1989 as atividades escolares retornaram ao normal.
O projeto de restauração foi executado pela arquiteta Maria de Lourdes Fonseca, da Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Uberlândia. Desde então a Escola Estadual Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa funciona normalmente, atendendo as crianças no ensino fundamental. Em março de 2006 o prédio da Escola foi tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal.
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Coimbra Júnior.
(*) Administrador de Empresas, especializado em Finanças. Trabalha atualmente na Via Travel Turismo. Criou a página História de Uberlândia no Facebook.
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