Representante do glamour de uma época
ter, 22 de julho de 2014 00:04
Legítimo representante da arquitetura psicodélica dos famosos “Anos Dourados”, o Uberlândia Clube conseguiu sobreviver ao progresso da cidade praticamente intacto.
O salão nobre já foi palco de festas de gala. O piano bar e a boate eram sinônimos do glamour do clube, que já foi um dos mais conhecidos da cidade. As lembranças remetem ao tempo das matinês e comemorações. E passado mais de meio século depois de sua inauguração, tombado como patrimônio histórico, continua recebendo festas de formatura e casamento.
Nas décadas de 60 a 90 era o local preferido dos grandes e glamourosos eventos, como festas de gala, recepções a presidentes da república e até concursos de misses. Foi em seus salões que Ângela Stecca foi coroada Miss Uberlândia, na década de 1960, vindo a se tornar Miss Minas Gerais e Miss Brasil.
O Uberlândia Clube Sociedade Recreativa era um clube privado, composto por famílias representativas da elite social uberlandense. Ele funcionou, a princípio, em uma casa na esquina da avenida Afonso Pena e rua Olegário Maciel. A casa ficou pequena para a quantidade de sócios. Então, na gestão de José Rezende Ribeiro, o clube recebeu um terreno por doação do Estado de Minas Gerais, atrás do Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão. A rua onde o terreno estava localizado era mal falada, pois ali se concentrava a zona boêmia da cidade.
Mesmo assim, com dinheiro dos sócios, projeto arquitetônico escolhido por concurso, do engenheiro Almôr da Cunha e decoração do artista plástico Sérgio de Freitas, a nova sede foi inaugurada em 26 de janeiro de 1957.
O edifício possui linhas arrojadas de tendência moderna, associadas a elementos do art déco. O corpo do edifício é um volume regular de três pavimentos. O térreo apresenta colunas circulares altas, revestidas de pastilhas azuis que ampliam o passeio, rompendo com a linearidade da elevação e criando uma área diferenciada no centro da cidade para a qual se abrem uma galeria de lojas dispostas em dois corredores que adentram o terreno. Seu piso é revestido por pedras portuguesas, branca e preta, que formam desenhos de formas ameboides. A fachada frontal do segundo pavimento é marcada pela presença de um pano de vidro em toda sua extensão, protegido por brise-soleis azuis. No centro, dividindo-a simetricamente, encontra-se um grande vitral côncavo de vidro jateado.
No térreo, há uma grande porta de vidro central que serve de acesso ao interior do clube. Esta porta é marcada por uma cobertura rebaixada que chega até a fachada. Abre-se para um hall que possui um painel de pastilha, um pequeno espelho d’água e uma suntuosa rampa circular que leva a outro hall no segundo pavimento, no qual se distribuem dois salões de festas, sanitários, restaurante, piano bar e boate.
O terceiro pavimento, na época de sua inauguração era um amplo espaço para festas de luxo ao ar livre com um jardim de inverno. Era considerado o terraço mais luxuoso da cidade. Hoje, abriga a sala da diretoria, a biblioteca, dois sanitários e um salão de festas menor. O jardim de inverno foi desativado.
A decoração do edifício é minuciosa, com grande variedade de materiais e acessórios, possuindo, no entanto, uma forte e agradável unidade estilística. Chama a atenção, sobretudo, a decoração do salão nobre em tons de azul e branco com detalhes que se espalham pelos pilares, em um interessante jogo com o forro rebaixado em gesso, trabalhado também nas mesmas cores, com sancas que escondem a luz indireta, também presente em outros espaços. Tanto no projeto arquitetônico quanto nos detalhes da decoração ficam evidenciados os propósitos de uma representação da modernidade e sofisticação pelas quais as elites de Uberlândia ansiavam. O Clube ainda conserva um acervo original de mobiliário, luminárias e adornos da época de sua inauguração, sendo uma importante referência da arquitetura e da ambientação da década de 1960, bem como da própria sociedade local.
O Uberlândia clube cumpriu também um papel “higienizador” do centro social da cidade, vencendo a zona boêmia, que foi deslocada para a esquina das avenidas Cesário Alvim e João Naves de Ávila, à beira dos trilhos da Mogiana.
O auge do Uberlândia Clube foi nas décadas de 1960 e 1970. Palco dos carnavais, matinês, bailes de gala, bailes de formatura, tudo acontecia lá. A orquestra tocava m.p.b. e rock, animando a juventude da elite da cidade. Foram tempos dos festivais, confrontos de bandas, chamadas de conjuntos, na época. As pessoas contavam os dias, esperando o momento das festas. Os bailes de domingo eram fantásticos, deixando saudade nos cinquentões e sessentões de hoje. Para qualquer pessoa, entrar nos salões desse prédio é uma gostosa experiência de voltar no tempo, época de valores sólidos, de música de qualidade, de gentilezas espontâneas e, simplesmente, época em que o glamour reinava para alguns poucos uberlandenses, enquanto a cidade crescia e se modificava à sua volta.
3 Comentários
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Boa noite.
Pois é. O nosso majestoso Uberlândia Clube está jogado às traças.
Triste isso viu?
O ponto de encontro da sociedade uberlandense agora sem condições de uso.
E o prédio é tombado pelo município.
Vale lembrar que TOMBADO não dizer caído, pelo contrário é um imóvel que deve ser resguardado pois conta a história da cidade.
E tudo acontecendo bem perto do aniversário da cidade.
Belo presente ela vai ganhar!
Gente vamos ativar esse clube maravilhoso
A população uberlandense esta precisando para seus filhos e os idosos também
Voltando receber concurdo de misses e todos os eventos .
Vsi ser muito alegre esse clube voltar para todos nós . Abraços a todos
Obridada.
Queridos uberlandenses. Vejo com pesar e o coração apertado como o Uberlândia Clube foi abandonado. Principalmente porque foi o meu pai, Sérgio Freitas, juntamente com seu amigo José Moraes, aluno de Portinari e Professor de Artes em S. P., ambos já falecidos,que deram seu suor para compor esse lugar que eu aproveitei muito durante minha adolescência. Esse foi o motivo pelo qual saímos do Rio de Janeiro e fomos morar em Uberlândia. Espero que possam recuperar essa maravilha. Meu irmão, também arquiteto, Mauro de Castro Freitas , que reside em Ribeirão Preto, também gostaria de rever a obra do meu pai, inclusive o mobiliário que também foi criado por ele. Um grande abraço saudoso para essa cidade que me proporcionou muitas alegrias , grandes momentos!