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Tuberculose (Parte II)

sex, 22 de agosto de 2014 00:01

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7-Todo mundo pensa que tuberculose é uma doença exclusivamente pulmonar, o que não é verdade.Em que órgãos também pode aparecer a tuberculose?
A tuberculose pode manifestar-se em qualquer órgão à distância e é muito, mais difícil fazer o diagnóstico nesses casos. Há casos de meningites, de infecções renais, hepáticas, da glândula suprarrenal e dos ossos causados pela tuberculose. Quando o bacilo atinge essa periferia, normalmente o organismo é capaz de bloqueá-lo. Por isso, é muito mais frequente a tuberculose extrapulmonar quando há uma reativação da doença e não por infecção primária. Se as defesas estiverem comprometidas como acontece, por exemplo, na AIDS, esse tipo de patologia à distância poderá aparecer logo na primeira infecção.

8-Quer dizer que na primeira infecção, que você chamou de primo-infecção, houve uma calcificação em volta do bacilo ou num gânglio eventualmente, mas a pessoa não contraiu a doença. Foi uma infecção inaparente. Como é que a tuberculose evolui de um quadro como esse para a doença propriamente dita?
A doença evolui quando a pessoa não consegue bloquear o bacilo que se divide, rompe a célula em que está fagocitado e provoca uma reação inflamatória muito intensa em vários tecidos a sua volta. O pulmão reage a essa inflamação produzindo muco e a pessoa apresenta tosse produtiva.

Como o bacilo destrói a estrutura alveolar, formam-se cavernas no tecido pulmonar e vasos sanguíneos podem romper-se. Por isso, na tuberculose pulmonar é frequente a presença de tosse com eliminação de catarro, muco e sangue.

9-Tosse com sangue não é o único indício de que a pessoa está com tuberculose, não é?
Nos casos de tosse com produção de muco, de catarro, por mais de quatro semanas consecutivas, deve-se levantar a hipótese de tuberculose, independentemente do nível socioeconômico ou do hábito de fumar do paciente.

No entanto, o diagnóstico da tuberculose implica alguns problemas. Várias doenças pulmonares provocam tosse e formação de granulomas. Existem as causadas por fungos e outras que formam granulomas em muitos órgãos e tecidos, como a sarcoidose, mas são benignas. Por outro lado, a imagem radiológica e os sintomas do câncer de pulmão são muito parecidos com os da tuberculose e um erro no diagnóstico pode ter consequências lamentáveis.

Quando se menciona que existem 100 mil casos novos de tuberculose no Brasil, não dizem que a grande maioria foi diagnosticada sem isolar o bacilo ou identificar as características do granuloma. Por exemplo, a imagem que se vê no ápice do pulmão numa radiografia poderia revelar uma infecção por tuberculose provavelmente com a formação de cavidades, de cavernas, mas essa mesma imagem  poderia ser também a imagem radiológica de um tumor de pulmão cujos sintomas – tosse, emagrecimento e fraqueza – são praticamente os mesmos da tuberculose.Por isso é importante fazer um diagnóstico seguro. A tuberculose tem essa vantagem. É possível isolar o bacilo no escarro de forma bastante simples. Basta colher uma amostra, fazer uma coloração especial e olhar num microscópio comum para identificá-lo.

10-O tratamento da tuberculose é eficaz e deve ser feito por um período de tempo bastante prolongado o que cria problemas práticos muito sérios, não é?
O tratamento é inteiramente coberto pelo SUS e é  feito com três antibióticos diferentes: pirazinamida, isoniazida e rifamicina. Durante dois meses, o paciente toma os três medicamentos e a partir do terceiro mês toma só isoniazida e rifamicina,num total de 6 meses.

11-Por que são necessários três remédios e seis meses de tratamento?
Porque o bacilo cresce fora e dentro da célula de defesa. Quando está fora, ele se multiplica muito rápido e adquire resistência também muito rapidamente. Por isso, são indicadas três drogas a fim de impedir seu crescimento e divisão fora da célula.

Dentro da célula de defesa, ele cresce mais lentamente. Isso requer uma droga que penetre na célula a fim de bloquear o crescimento da bactéria em seu interior. Por isso, os remédios devem ser tomados por seis meses. Houve tentativas de reduzir para quatro meses, mas a taxa de recidiva foi muito grande. No passado, dependendo do quadro, esse esquema medicamentoso chegava a ser ministrado por um ou dois anos.

As pessoas precisam conscientizar-se de que é fundamental seguir à risca o tratamento. O que se tentou fazer, e com bons resultados, para facilitar a adesão dos pacientes foi prescrever doses mais altas para serem tomadas apenas dois dias na semana.

12-Quais os riscos da interrupção do tratamento?
Suspender o uso da medicação antes do prazo previsto é o principal problema de saúde pública no tratamento da tuberculose. Se o paciente começa a tomar os remédios e para no meio do caminho, com certeza irá selecionar uma colônia de bactérias resistentes aos medicamentos.

Os doentes agem desse modo porque, mais ou menos 15 dias depois de terem começado a tomar os remédios, deixam de infectar outras pessoas, a tosse diminui e a febre vai embora. No segundo mês, melhora a anemia causada pela infecção e existe ganho de peso, porque o apetite voltou, mas a medicação é mantida para evitar a formação de colônias resistentes. No intervalo entre o segundo e o sexto mês, o paciente pensa que sarou, para de tomar os remédios e desenvolve resistências.

Os alcoólicos, por exemplo, apresentam tendência maior para a tuberculose. Como beber é uma das contraindicações do esquema tríplice para tratamento da doença, assim que melhoram um pouco, eles deixam de tomar os remédios e voltam a beber. Isso os torna talvez os maiores transmissores da doença.

13-Quando a vacina deve ser administrada?
Na infância, ao redor dos cinco anos, quando a criança tem imunidade para responder à vacina. Para os que não foram vacinados recomenda-se que façam o teste de Mantoux, ou PPD. Se a reação for forte, a pessoa não precisa ser vacinada. Se não reagir e não tiver tomado a vacina, a indicação é que seja vacinada em qualquer faixa de idade.

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