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Suicídio (Parte 2)

sex, 12 de setembro de 2014 00:03

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11- Como avaliar um paciente potencial suicida?Qual a sua psicopatologia?
A maioria das pessoas comunica seus pensamentos e intenções suicidas por meio de palavras com temas de sentimento de culpa, baixa autoestima, ruína moral e desesperança. Os pensamentos dessas pessoas são os mesmos em todo o mundo, quaisquer que sejam os problemas.

A psicopatologia do suicida atinge graus crescentes de intensidade e gravidade: 1. Ideias de morte: pensar que seria um alívio, sem cogitar em realizá-la por si mesmo; 2. Ideias suicidas: podem ser combatidas pela própria pessoa, que as reconhece como absurdas e intrusivas, mas também adquirir proporções significativas; 3. Desejo de suicídio: sentimento de desesperança e falta de perspectiva de futuro favorecem o desejo de se matar como solução; 4. Intenção de suicídio: a ameaça de pôr fim à vida é claramente expressa; 5. Plano de suicídio: decidida, a pessoa passa a tramar e planejar detalhes como: método, local e horário, às vezes deixando um bilhete de despedida; 6. Tentativas de suicídio: atos autoagressivos não fatais; 7. Atos impulsivos: são autoagressivos, repentinos e sem planejamento suicida, devido à baixa tolerância à frustração, podendo ter o êxito letal; 8. Suicídio: o desfecho é a morte; caracteriza-se pelo planejamento e utilização de métodos altamente letais ou por forte componente impulsivo.

12-Quais as caracteristicas do paciente potencial suicida?
Há três características comuns na mente dos suicidas (WHO, 2000): 1. Ambivalência: os desejos de viver e de morrer se alternam como numa gangorra. Há urgência em sair da dor de viver, mas existe desejo de viver. Se for dado o apoio emocional necessário, o desejo de viver aumentará e o risco de suicídio diminuirá; 2. Impulsividade: o impulso para cometer suicídio é transitório e tem duração de alguns minutos ou horas. Acalmando tal crise e ganhando tempo, o médico pode ajudar com uma abordagem empática; 3. Rigidez: não são capazes de perceber outras maneiras de sair ou enfrentar o problema; eles pensam de forma rígida e drástica. As ações estão direcionadas ao suicídio.

13-Como interferir num paciente potencial suicida?
Deve-se avaliar que um paciente suicida desperta, com frequência, fortes sentimentos no médico examinador. A sua relutância em falar sobre a morte com o seu paciente se traduz, às vezes, no temor de um erro de conduta ou na expectativa de uma consequência catastrófica. A dificuldade em perguntar sobre a ideação suicida do seu paciente decorre do desconforto do próprio médico sobre o tema ou de seu medo de ofender o paciente. Motivada pelo excesso de demanda e pressões do serviço, muitas vezes a equipe médica não valoriza o risco iminente de suicídio.
O médico deve ficar tranquilo, pois os suicídios aumentam em igual proporção às reações negativas do entrevistador em relação ao paciente. Deve também evitar atitudes moralistas e críticas. Se as perguntas forem feitas gradualmente e de maneira empática, dificilmente o paciente ficará irritado com o examinador. Na maioria das vezes, esse tipo de abordagem provoca alívio e aprovação do paciente pelo fato de o médico ter reconhecido a seriedade de suas queixas.
A intoxicação por álcool é um potente fator precipitante do comportamento suicida, no momento da morte. A maior parte dos etilistas que se suicidou também sofria de depressão, o que aumenta o risco de suicídio.

14-Quais são os procedimentos a se fazer?
O atendimento do paciente com risco iminente de suicídio deve incluir:

1. Identificação do transtorno psiquiá­trico associado e/ou doença física ou evento estressante;
2. Estratificação de risco (alto, médio, baixo) para definição do local de tratamento adequado;
3. Tratamento inicial medicamentoso e/ou psicoterápico;
4. Realização de intervenções que visem incrementar a adesão posterior à conduta escolhida;
5. Encaminhamento para internação psiquiátrica ou ambulatório de saúde mental.
A internação psiquiátrica poderá ser necessária quando há risco iminente associado a transtorno psiquiátrico grave ou psicose; tentativas anteriores de suicídio, com graves repercussões; doenças clínicas comórbidas; impossibilidade de tratamento ambulatorial; se houver necessidade de eletroconvulsoterapia (ECT); se o paciente necessitar de vigilância constante; e insuficiente suporte familiar e social. O médico deve avaliar fatores de risco recentes para suicídio e organização de metas visando à concretização de suicídio. O paciente pode ser encaminhado para ambulatório de saúde mental quando o plano, o método e a intenção de suicídio forem reduzidos; se houver suportes sociais e familiares adequados; e se o paciente demonstrar possibilidade de adesão ao tratamento com sua equipe médica.

15-Qual a correlação entre álcool, drogas, depressão e suicidio?
O histórico de depressão e de dependência de álcool, características apresentadas pelo ator Robin Williams, são dois importantes fatores de risco para o suicídio. O ator de 63 anos morreu mês passado depois de se enforcar com um cinto, de acordo com a polícia local. Segundo a agente do ator, Mara Buxbaum, ele estava lutando contra uma depressão severa e tinha sido internado várias vezes em clínicas de reabilitação por problemas com drogas e álcool.
Em mais de 90% dos casos de suicídio, a pessoa apresentava alguma doença psiquiátrica. Quando a pessoa não se trata e começa a usar os ‘remédios ruins’ para tratar a depressão, como drogas e álcool, ela está acumulando fatores de risco para suicídio.

Não é incomum que pessoas com depressão e que não são tratadas adequadamente recorram a drogas e álcool para aliviar o sofrimento da depressão.

A pessoa que faz uso abusivo de álcool e drogas também pode cair em um quadro depressivo.

Os riscos da combinação desses fatores: sendo que uma pessoa que está deprimida e faz uso de substâncias acaba tendo um rebaixamento da crítica, do nível de consciência e fica com mais coragem para cometer suicídio. Por isso orienta-se total abstinência para pacientes com pensamentos suicidas e ideias de morte.

Pensar em suicídio é mais comum do que se possa imaginar e é importante que amigos e familiares conversem sobre o assunto com a pessoa.

Existe o mito de que conversar sobre o assunto pode induzir alguém a tentar. Isso é falso, ninguém comete suicídio por ter conversado sobre isso. Muito pelo contrário, abordar o assunto, perguntar se a ideia de suicídio passa pela cabeça dela é importante porque pode dar espaço para que a pessoa seja tratada e que o suicídio não aconteça.

16-Quais as recomendações finais?
O maior desafio é identificar corretamente os pacientes com risco iminente de suicídio. A avaliação sistemática na emergência médica deve fazer parte da prática clínica rotineira, em todas as especialidades médicas, para que os casos potencialmente fatais possam ser devidamente diagnosticados, tratados e encaminhados.
Revendo as diversas estratégias preventivas de suicídio, conclui-se que melhorar os serviços de saúde e desenvolver intervenções efetivas para o grupo de pacientes sob esse risco são práticas fundamentais. Sua prevenção é possível, desde que compartilhada por toda a sociedade por meio de medidas primárias, secundárias e terciárias.

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