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Sistema renal

sex, 11 de abril de 2014 00:00

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1-Como é o funcionamento do sistema renal?
O funcionamento do nosso organismo depende muito da capacidade que os rins têm de filtrar o sangue, excretando as substâncias que devem ser eliminadas e retendo aquelas que fazem parte do sistema metabólico.

O sangue chega aos rins pela artéria aorta que lança dois ramos, um para cada rim (as artérias renais), e circula por inúmeros pequenos filtros, os nefrônios. Esses filtros não funcionam apenas de forma passiva como os filtros domésticos que retêm as partículas em suspensão na água. Eles  participam ativamente na absorção e excreção de substâncias tóxicas resultantes da atividade das células e que não podem permanecer no organismo. Depois de filtrado, o sangue volta para o coração pelas veias renais e a urina desce para a bexiga por dois condutos, os ureteres.

Quando, por alguma razão, essa estrutura é alterada, os rins passam a funcionar de forma precária e aparece a insuficiência renal que pode ser passageira ou crônica. Nesse último caso, o processo de filtração fica tão comprometido que precisa ser substituído artificialmente pela diálise.

2-O que é e por que se indica a diálise para um paciente?
A diálise é o nome genérico que se dá a qualquer procedimento que promova a filtragem do sangue é  indicada quando a função renal está bastante reduzida, ou seja, em torno de 10% da função inicial, o que é insuficiente para manter a pessoa viva. Com 50%, 60% ou 70% da função preservada, ela conseguirá levar vida absolutamente normal.

A diálise é uma forma de substituir a função que os rins deixaram de realizar à medida que as doenças foram provocando queda em sua capacidade de filtração. Consiste em passar o sangue através de um novo filtro que está em contato com um líquido que contém as substâncias que precisam permanecer e não contém as substâncias indesejadas.

Em outras palavras: por um processo simples de difusão, passam para esse líquido as substâncias não contidas nele e ficam retidas no sangue as que o líquido contém. Depois, o sangue depurado dos elementos prejudiciais é devolvido para o organismo do paciente.

Na verdade, trata-se de um processo de circulação extracorpórea. Geralmente, a diálise é feita de três a quatro vezes por semana para que seja possível filtrar uma quantidade suficiente de sangue que permita manter a pessoa bem metabolicamente.

3-Os rins são órgãos altamente eficientes na filtração do sangue, sendo que as diálises são indicadas apenas quando eles atingem menos de 10% de sua capacidade funcional e que a perda é lenta e gradativa. Isso não provoca nenhum sintoma?
É importante dizer que as doenças renais acometem sempre os dois rins e que a perda de sua função é realmente lenta e progressiva. Lembrar que temos um milhão de unidades funcionais em cada um desses órgãos e que elas são independentes ajuda a compreender o processo. É como se numa fábrica existissem um milhão de máquinas, cada uma capaz de produzir, por exemplo, uma camisa inteirinha por dia. Portanto, um milhão de máquinas funcionando produziriam um milhão de camisas diariamente. Imagine que algumas dessas máquinas tenham deixado de funcionar. Novecentas máquinas produzirão 900 camisas, porque uma não compromete o desempenho da outra. Assim é no organismo. Com um número reduzido de unidades renais, é possível manter o equilíbrio metabólico e o indivíduo não percebe que está perdendo a função renal a não ser quando ela cai para mais ou menos 30% e aparecem sintomas como pressão alta e necessidade de urinar durante a noite, porque os rins perderam a capacidade de armazenar a urina. Com a bexiga cheia, a pessoa passa a acordar frequentemente para ir ao banheiro.

4-Em média, quantas vezes por noite?
Em geral, uma ou duas vezes por noite, mas todas as noites impreterivelmente. Vale lembrar que, à noite, liberamos um hormônio que faz a urina ficar bem concentrada (por isso, os laboratórios pedem a primeira urina da manhã para exame) a fim de poupar água, porque ficaremos várias horas sem bebê-la, e para evitar que o sono seja interrompido pela bexiga cheia.

Essa capacidade de concentrar a urina é uma das primeiras funções que o rim perde. O indivíduo começa a excretar urina mais diluída e acorda com mais frequência do que normalmente fazia. Depois, aparece o inchaço e os exames revelam, entre outras alterações, um pouco de anemia. Isso só acontece nos 30% de função remanescente. Antes, o quadro é absolutamente assintomático.

5-Há problemas mecânicos, como um cálculo, um ferimento ou um tumor, que podem acometer apenas um dos rins, mas as doenças renais acometem sempre os dois. Quais são as mais importantes?
As mais comuns são as glomerulonefrites. Entretanto, os rins podem ser acometidos também por doenças sistêmicas como o diabetes mellitus. Em regra, as glomerulonefrites são doenças autoimunes, como algumas artrites e a tireoidite. Quer dizer, a pessoa não fez nada de errado para contrair a doença: não bebeu, não fumou, não engordou demais. Simplesmente, seu sistema de defesa passou a agredir os rins como se fossem um corpo estranho. Essa agressão contínua faz com que as pequenas unidades renais, uma a uma, deixem de funcionar progressivamente até o momento em que não são mais capazes de manter a vida.

6-Como é feita a diálise?
Há dois tipos de diálise: a diálise peritoneal e a hemodiálise. O mais comum é a hemodiálise, que exige uma preparação anterior no braço para tornar o vaso mais resistente à passagem do sangue, que é retirado pela artéria, passa pelo filtro da máquina de diálise e é devolvido pela veia. O volume que fica fora do corpo a cada momento é bem pequeno, 150ml (temos aproximadamente cinco litros), só que a velocidade é muito grande, o que permite filtrar grandes quantidades. Num processo contínuo, o sangue passa pelo filtro que retira as toxinas e volta depurado para diluir-se nos cinco litros que permaneceram no organismo.

7-Quantas horas dura uma sessão de hemodiálise?
Em geral, de 3 a 4 horas. Enquanto o sangue é filtrado, retira-se também o excesso de água e sal que o paciente reteve. Quando os rins não funcionam, os líquidos e o sal ingeridos não são eliminados. É bom lembrar que não existe sal sem água nem água sem sal no organismo. Quer dizer, se o indivíduo ingerir nove gramas de sal numa refeição, automaticamente será obrigado a tomar um litro de água. Por isso, entre uma sessão e outra de hemodiálise, o paciente com insuficiência renal crônica ganha dois, três quilos de peso, na verdade, dois ou três quilos de água e sal que ficaram retidos.

8-A máquina de hemodiálise seria um rim artificial para esses pacientes?
Funciona como um rim artificial planejado apenas para filtrar o sangue, porque os rins têm também a capacidade de produzir hormônios e vitamina D, controlar a pressão arterial e mandar a medula óssea fabricar sangue. Por isso, quase 100% dos pacientes com insuficiência renal têm anemia não por falha da fábrica de sangue, mas por falha na ordem para fabricá-lo. No entanto, essas deficiências podem ser corrigidas com medicamentos sob a forma de comprimidos ou injeções, para que o indivíduo tenha a melhor qualidade de vida possível.

9-Quantas sessões por semana o paciente deve fazer?
Normalmente são feitas três sessões por semana no mínimo. Atualmente, existem centros no mundo que fazem hemodiálises noturnas todos os dias, enquanto o paciente dorme no próprio centro ou em sua casa.

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