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Sapatos e Futebol

qui, 6 de fevereiro de 2014 11:00

Abertura Histórias de Uberlândia

Deusdete Silva, aos 86 anos de idade – Foto: Divulgação

Deusdete Silva, aos 86 anos de idade – Foto: Divulgação

Nascido no Ano da Graça de Nosso Senhor de 1927, Deusdete Silva, araguarino, mudou-se para Uberlândia no final da década de 1930, junto com a família. Começou na profissão de sapateiro aos 22 anos de idade e aprendeu o ofício por conta própria, observando o trabalho dos outros. Deusdete não quis seguir a profissão do pai, que era curtidor de couro, apesar das duas atividades serem tão correlatas. E seus filhos seguiram seu exemplo: apesar de o ajudarem na sapataria, nenhum deles seguiu sua profissão.

Ao longo de sua carreira de mais de sessenta anos, o sapateiro trabalhou na Fábrica de Calçados Resende Ribeiro, que ficava na praça Clarimundo Carneiro, na Fábrica de Calçados Osvaldo, de propriedade de Clarimundo Carneiro e em várias outras lá no bairro Fundinho, até conseguir abrir sua própria oficina. Aos oitenta e seis anos de idade, ainda fabricava e consertava sapatos de clientes antigos e dos filhos e netos destes.

No final do ano de 1949, ele resolveu sair da fábrica de sapatos onde estava por pouco mais de um ano. Com o dinheiro do acerto, ele comprou, por novecentos cruzeiros, o estabelecimento comercial de um amigo, na rua General Osório, no bairro Fundinho. Estava concretizado o sonho de um negócio próprio. Montou sua oficina, que funcionou no mesmo local por cinquenta e cinco anos.

Sem maquinário no início, dispunha apenas de dois pés de ferro, um número dois para calçados femininos e um número três para calçados masculinos, que o auxiliavam a fabricar os calçados. Quando pôde, comprou uma lixadeira para fazer a base dos solados e duas máquinas de costura. Essas ferramentas são guardadas em sua casa até hoje, com orgulho.

Deusdete Silva também era jogador de futebol. Jogou até os 41 anos de idade como lateral esquerdo do América de Uberlândia. O cachê por jogo era de cem cruzeiros e ele era chamado de “O Rei das Chuteiras”, pois fabricava suas próprias chuteiras. Ele chegou a ser cotado para jogar no Uberlândia Esporte Clube. Certa vez, o Fluminense veio jogar em Uberlândia e Deusdete foi convidado para fazer parte do certame do Uberlândia. Ele aceitou o desafio, treinou junto com o grupo, mas acabou não jogando. A data do jogo foi alterada e, como ele era sapateiro exclusivo do Colégio Brasil Central, teve que desistir do jogo para terminar uns sapatos encomendados para a formatura de uma turma.

Mas Deusdete não pendurou as chuteiras de própria fabricação. Três anos depois de se aposentar dos jogos, assumiu como árbitro da Liga Uberlandense de Futebol e apitou jogos do Campeonato Amador e da Copa Tubal Vilela. Atuou também na profissão de técnico, no América, seu time de coração e no Vasco do Bairro Martins. De vez em quando é surpreendido por algumas pessoas na rua que o reconhecem dos tempos do futebol e contam como foram expulsos por ele durante alguma partida.

Deusdete da Silva viu a cidade crescer. Acompanhou a construção da Praça Tubal Vilela e da Catedral Santa Terezinha. Lembra-se de uma cidade com ruas de terra. Onde era a avenida Rondon Pacheco era o córrego São Pedro e, lá na esquina da Duque de Caxias, debaixo do viaduto que existe hoje, ele e seus amigos fizeram um poço para nadar. Eles se encontravam lá todos os dias à tardezinha para se divertirem despreocupadamente.

Seu pai uma vez disse que acreditava que a cidade cresceria junto com o aeroporto. Hoje Deusdete vê que ela cresceu para todos os lados e se lembra, com nostalgia, da época em que era moleque e catava gabiroba em uma chácara lá na descida da ferrovia, onde ela atravessava o córrego São Pedro, indo para Uberaba. Hoje, o local está dentro da cidade, abrigando o Center Shoping e o bairro Tibery.

Avenida Afonso Pena, em 1934. Foto: Berto

Avenida Afonso Pena, em 1934. Foto: Berto

 

Início da avenida Afonso Pena, década de 1930. Ao fundo o bairro Fundinho, com destaque para o Palácio dos Leões, na praça Clarimundo Carneiro. Foto: Berto

Início da avenida Afonso Pena, década de 1930. Ao fundo o bairro Fundinho, com destaque para o Palácio dos Leões, na praça Clarimundo Carneiro. Foto: Berto

 

Inicio da construção da avenida Rondon Pacheco, após a canalização do córrego São Pedro, década de 1970. Foto: Divulgação

Inicio da construção da avenida Rondon Pacheco, após a canalização do córrego São Pedro, década de 1970. Foto: Divulgação

 

Praça da República, atual Tubal Vilela, década de 1940. Em destaque a Catedral de Santa Terezinha e à direita a fábrica de balas Imperial. Foto: Divulgação

Praça da República, atual Tubal Vilela, década de 1940. Em destaque a Catedral de Santa Terezinha e à direita a fábrica de balas Imperial. Foto: Divulgação

1 Comentário

  1. antonio disse:

    Gostei muito, moro aqui São Paulo, capital, quando moleque conheci o Deusdete apitando jogos. voltei ao passado que legal, muito bacana vou acompanhar senpre. Abraços.

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