O Jornal Correio de Uberlândia noticiou, em quatro de maio de 1948: “Vale dinheiro um anúncio na conhecida e apreciada PRC6, que em toda a região sua onda é altamente apreciada, entrando bem a estação num raio que se poderia medir pela distancia daqui a Anápolis em Goyaz, ou então, a Londrina, no Paraná. Na cidade, à praça da República, em local que se pode chamar de coração de Uberlândia, estão instalados os estúdios, sendo que ali também a aparelhagem é a mais completa e interessante. O auditório, de grande capacidade e que diariamente se enche, ao se exibirem programas de estúdio, a discoteca numerosa de mais de cinco mil discos bem catalogados, o palco para exibições maiores, a secretaria, a sala do diretor superintendente, a portaria, tudo caprichosamente arrumado, mobiliado mesmo a capricho”.

Esta reportagem demonstrava a importância e o poder de penetração do rádio na época, referindo-se à Rádio Difusora de Uberlândia que, a partir de sua inauguração, em 1939, com os poucos programas locais regulares já imprimia uma atmosfera de novidade, impressionando e atraindo a curiosidade da pequena Uberlândia, de dezoito mil habitantes, transportando as vozes de locutores, cantores e músicos, entrando em diferentes espaços de sociabilidade para além dos lares, tais como as praças, parques de diversões, bares, confeitarias, salões de barbeiros, disputando ouvintes antes acostumados a uma frequência fiel aos cinemas locais e às retretas da banda União Operária, nas praças da cidade.

A história da radiodifusão na cidade é mais antiga. Iniciou por volta de 1932, com a instalação do sistema de alto-falante fixo, na avenida Afonso Pena, no cruzamento com a rua Santos Dumont. A partir de 1935, começa a ocorrer a tentativa de conquista musical dos compradores, através dos jingles transmitidos pelo rádio, alcançando uma enorme repercussão popular. Trabalhados pela repetição dos anúncios produzidos em estúdio, com o concurso de orquestras e cantores, os ouvintes passavam a incorporar ao seu vocabulário as frases mais destacadas das mensagens publicitárias, cantando ou assobiando muitas vezes as melodias dos jingles pelas ruas, ou enquanto trabalhavam. E foi, como resultado desse sucesso, que tais mensagens musicadas acabaram contribuindo para um novo tipo de relacionamento entre o rádio comercial e a música popular, com a transformação de temas e melodias de jingles em canções, principalmente destinadas ao carnaval. Na década de 1960 essa parceria atinge seu auge. Abaixo alguns jingles dessa época, que fazem parte do Acervo Geraldo Mota Baptista, pertencente à Universidade Federal de Uberlândia, amplamente divulgados nas rádios locais.
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Óleo Salada
(samba – 1962)
Eu só, eu só quero a latinha listrada
De preto e amarelo do óleo Salada
Na cozinha e na mesa a sentença está dada
Eu só uso salada, só óleo salada.
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Produtos Lacta
(samba -1963)
É tablete Lacta, naturalmente
Chocolate e alimento, tablete Lacta
Paladar protegido, o lê lê
Embalagem de alumínio, o lá lá.
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Chocolate Laka
(valsa – 1963)
La la la la la
Laa la, Lacta
Laa la Lacta
É nutritivo, é delicado
Agora seu lanche está reforçado.
Laka e lacta naturalmente
Laka tablete branco, especial para o seu lanche
Nutritivo, delicado
Que se leva na bolsa para a hora Laka.
Lacta, Lacta, naturalmente!
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Diamante Negro
(samba – 1964)
A juventude dinâmica descansa comendo Diamante Negro.
Chocolate dos esportistas, o craque dos chocolates,
Diamante Negro.
Pra repor as energias, o lê lê
É Diamante Negro, o lá lá
Lacta!
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Refrigerador Champion Triunfo
(Falado com fundo em Orquestra, 1961)
“Triunfante, do seu lado, Champion Triunfo.
Mais conforto, qualidade, Champion Triunfo.”
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Óleo Delícia
(bossa-nova – 1961)
“O relógio indica que é hora de aprontar o almoço (o jantar)
com o óleo Delicia.”
Voz da locutora: Sugestão para o almoço: bacalhoada /
Sugestão para o jantar: Couve-flor à milanesa.
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Cerveja Caracú
(samba- 1962)
“Uma cerveja Caracú é o que ele quer de primeira
Por isso tenho sempre Caracú na geladeira.
Caracú é saborosa a todo instante, a toda hora.
Caracú é a cerveja que alimenta e revigora.”
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Outro grande mercado que explorou a radiodifusão foi o dos produtos farmacêuticos. O disco “Abacateirol”, hoje do Acervo Geraldo Mota Baptista, pertencente à Universidade Federal de Uberlândia, de 1944, foi largamente veiculado na Rádio Difusora de Uberlândia.
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Abacateirol – 1944
(Falado com fundo musical em violino e vozes feminina e masculina.)

Lado A– “Era uma vez um grande violinista, tocava maravilhosamente e o público aplaudia com entusiasmo. Um dia, porém seus rins começaram a funcionar mal, e o grande artista sentiu que aos seus dedos faltava a antiga habilidade; resultado: desafinação, vaias, fracasso. Pobres dos que sofrem dos rins… É verdade, a acumulação de toxinas e ácido úrico no organismo, provoca dores musculares, articulações duras e juntas inchadas. Se você está neste caso, tome os comprimidos de Abacateiro! Possuindo todos os princípios contidos na folha do abacateiro, os comprimidos de Abacateirol dissolvem o ácido úrico restabelecendo as funções do rim. Rim ruím, vá por mim! Tome Abacateirol, o amigo da sua eficiência.”

Lado B – “Era uma vez um homem saudável que todas as manhãs acordava bem disposto(bocejo) sim senhor, ai! que dia lindo! Amélia, prepare o meu café enquanto estou no banho(cantando La Donna é mobile). Era sempre a primeira pessoa a chegar ao escritório, provocando elogios do patrão. Muito bem, seu Roberto! o senhor assim vai longe, vai muito longe. Um dia porém seus rins começaram a fraquejar e tudo mudou(despertador tocando e bocejos). Oh! que vida miserável, eu ainda acabo morrendo dos rins. Vou chegar atrasado ao escritório e o patrão vai dizer: _Olhe seu Roberto, assim vamos muito mal, compreende? Vamos muito mal! Escutou, amigo ouvinte ? Ai dos que sofrem dos rins. É verdade! O mau funcionamento dos rins provoca dores lombares, inchações, tonturas e outras complicações. Os comprimidos de Abacateirol corrigem os riscos, restabelecendo prontamente as funções dos rins. Cada dose de comprimidos de Abacateirol valem por muitas xícaras de chá de folhas de abacateiro. Rim ruim vá por mim! Tome Abacateirol, o amigo da sua eficiência.”

Cena de uma apresentação em estúdio de emissora de rádio em Uberlândia.
Foto: Arquivo pessoal de Newton Dângelo

Orquestra de alunos do Liceu de Uberlândia se apresentando com Emilinha Borba na Rádio Nacional do Rio de Janeiro em 1950. Foto: Divulgação

Orquestra de alunos do Liceu de Uberlândia em apresentação de rádio, década de 1950. Foto: Divulgação

Discurso de Juscelino Kubitscheck, Governador de Minas Gerais e candidato a Presidência da República, na década de 1950, em Uberlândia, sendo captado pela Rádio Educadora. Foto: Divulgação