PROFESSORES. Educando ou selecionando alunos?
qui, 30 de janeiro de 2014 00:04
Algumas frases de professores me fizeram repensar a situação da educação no Brasil.
A primeira foi cômica, pois a professora indignada, disse: “Eu não sei o que que estes alunos estão fazendo aqui, pois eles não sabem nada.”
Por alguns instantes fiquei esperando uma conclusão ou manifestação de alguém que estava presente, pois achei que era uma pegadinha.
LÓGICO QUE ESTES ALUNOS NÃO SABEM, POIS SE SOUBESSEM NÃO ESTARIAM ALI.
Será que esta professora ainda não entendeu que os alunos estão buscando conhecimento? Estão ali para aprender o que não sabem. E a função dela é justamente ensinar para os que não sabem, o que eles não sabem, pois senão não seria necessário a existência desta professora.
A segunda frase veio de um outro professor que ministra uma determinada disciplina e trabalha, no dia a dia, justamente com a área da disciplina que ele ministra. Acontece que falávamos de um aluno que havia faltado demais no último semestre e o seu rendimento tinha sido péssimo. Eu havia acabado de dizer que este aluno era muito inteligente, arriscando a dizer que era acima da média. O professor irritado e irônico retrucou de imediato: “Agora você me assustou e me deixou com medo, pois este aluno é muito burro. Ele fez a minha prova e errou quase tudo.” Mesmo assim, tentei defendê-lo dizendo que não concordava, pois ele escrevia muito bem e tinha uma visão avançada, até mesmo sobre o direito. O professor ficou mais irritado e disse novamente: “Ele é burro e com força.”
PASMEM…, mas o professor, se é que pode ser chamado de professor, realmente afirmou que este aluno é burro.
A justificativa é simplesmente pelo fato do aluno ter tido um resultado ruim na disciplina dele. E ele, “como um deus da sabedoria universal”, se viu competente para definir a capacidade, do aluno, com esta visão simplista. Este professor deveria, no mínimo, procurar saber por qual motivo este aluno foi mal. Deveria ter percebido as dificuldades subjetivas e buscado colaborar na transformação deste aluno.
É muito fácil dominar uma disciplina e, durante anos e anos a fio, ficar repetindo a mesma aula e depois cobrar o conhecimento através de uma prova. Este método já está ultrapassado. Alunos sem qualquer conhecimento conseguem notas altas em provas com métodos mirabolantes de “cola”. Outros realmente estudam e conseguem boas notas. Outros alunos excelentes em sala, participantes, às vezes vão mal nas provas, por motivos alheios à sua vontade. Pode ser que no dia da prova algo horrível aconteceu com o aluno, problemas surgiram, cansaço, saúde, enfim… e no final: A PROVA – único instrumento medidor da capacidade e do conhecimento do aluno!?!?!?
Professor que avalia o aluno pela prova e decide somente neste momento, não deveria estar numa instituição de ensino. O verdadeiro professor deve avaliar o aluno, no dia a dia. Perceber o seu interesse, a sua participação, o seu crescimento desde o primeiro dia de aula, para poder avalia-lo verdadeiramente.
O interessante é que este aluno, chamado de “burro” pelo professor, havia faltado demais, pois estava trabalhando em uma empresa consolidada, de grande respeito e projeção na região e no Brasil, sendo que havia sido promovido duas vezes durante o semestre justamente pelo seu grande rendimento e capacidade na empresa. Infelizmente o seu tempo para o curso, ficou reduzido. Em função desta falta de tempo e dedicação, no curso, o seu resultado caiu.
E O PROFESSOR AFIRMOU QUE ELE É UM BURRO, POR TER RESULTADO RUIM EM SUA DISCIPLINA, SEM CONTUDO PROCURAR SABER POR QUAL MOTIVO?
SIM. Afirmou.
PEÇO PERDÃO pela minha incapacidade, pois não consigo ver uma forma 100% concreta de avaliação, mas afirmo que este método está ultrapassado. Afirmo ainda que o professor que julga o aluno como “um burro” por ter um péssimo resultado em sua disciplina, deveria rever o seu papel como professor…, como educador. Neste momento é que percebo que pessoas assim, não são professores, mas verdadeiros “profissionais de mercado” que estão ali somente para aumentar a sua renda.
O terceiro caso interessante que presenciei, e que fiquei flutuando como uma nuvem sendo levado para lá e para cá de acordo com o rumo do vento, foi justamente o que aconteceu durante uma exposição totalmente contraditória no que se referia à avaliação pelos professores.
Afirmava-se que a avaliação tem que ser subjetiva. É necessário que se identifique as deficiências dos alunos e que busque o entendimento de sua resposta.
Excelente, não acreditava no que ouvia, pois sempre pensei desta forma.
Mas de repente ouvi que deveríamos tirar pontos se a gramática estivesse errada, mesmo que no contexto a resposta estivesse correta.
O QUE?
Então temos que valorizar e tentar entender o que o aluno quer dizer na sua linguagem, mas devemos tirar pontos em sua gramática?
Ou seja, se no entendimento, da resposta do aluno, percebermos que a intenção do aluno está correta, consideraremos como certo, mas tiraremos pontos, pois escreveu gramaticamente errado.
ATÉ HOJE ESTOU TENTANDO ENTEDER COMO!?!?!?
O que mais me incomodou é que um professor, considerado o símbolo da inteligência, por conhecer a fundo a disciplina que ministra e por saber de cor vários artigos, resolveu dizer que não aceitava a ideia de: pegar não mão do aluno, pedir: por favor fique em silêncio, por favor isso, por favor aquilo. Disse ainda que o professor não teria mais autoridade se tratasse o aluno desta forma. E pior, disse que não conseguia perceber se o aluno era mau caráter e pediu para que os outros professores o ajudassem a identificar estes alunos. Concluiu dizendo que estes “malandros” chegavam na vista de prova e vinham pedindo para dar um jeitinho e dar uns pontinhos.
A resposta dada a este professor foi de que, justamente por conta da existência destes aluno é que a avaliação deveria ser subjetiva, pois não é somente uma vista de prova, mas uma recuperação de conteúdo. Além disso foi dito que ao identificar que o aluno não merece, não deve ser acrescentado nenhum décimo em sua nota.
Aproveitei o momento para ver o outro lado da moeda supondo a seguinte situação: “e se um aluno que é participativo, conhece a fundo a disciplina, sempre traz novidades, debate durante as aulas, mas numa questão se confunde e erra, contudo, durante a vista de prova ele discute com o professor e mostra que realmente se confundiu e tem total conhecimento daquele conteúdo. O que fazer?”
De imediato aquele professor disse que a nota deveria ser zero. Errou acabou.
Não acreditei. Mesmo assim contestei dizendo que discordava e ainda indaguei se daria zero independente da situação.
Ele afirmou que sim, pois a prova é o documento que comprova se o aluno aprendeu ou não.
O que me deixa absurdamente desesperado é que grande parte da reclamação dos professores sobre a falta de condição e capacidade dos alunos é justamente devido a falta de capacidade dos próprios professores, pois não agem como professores, mas como selecionadores. Sim…, despejam conteúdo, cumprindo seu plano de ensino e cobram este conteúdo na prova com a intenção de selecionar quem conseguiu atingir o percentual necessário para aprovação, independentemente do aluno realmente ter aprendido ou não. Basta que ele atinja a nota determinada. E este “selecionador” lava as suas mãos, pois cumpriu o seu papel, qual seja: 1 – passar o conteúdo, 2 – cobrar durante a prova e 3 – selecionar os vitoriosos.
E A TRANSFORMAÇÃO?
Esta deveria ser a busca do verdadeiro professor. Transformar o indivíduo. Transformar o aluno. Transformar o profissional. Transformar o ser humano.
De que forma?
Entendendo suas dificuldades, seus limites e suas potencialidades. Ajudar a crescer onde houver dificuldades, ajudar a ampliar onde surgirem os limites e valorizá-lo mostrando suas potencialidades, mesmo que a consequência seja abandonar aquele determinado curso e partir para outro.
Não posso e não devo julgar a capacidade de uma pessoa por um momento, por uma prova somente ou pelo resultado drástico de uma disciplina, pois poderia estar massacrando uma potencialidade que tem dificuldades de se expressar. Einstein foi considera “burro” e até mesmo “retardado” por alguns professores, pois tinha péssimos resultados em uma ou outra disciplina, ou pelo motivo de não ser entendido pelos professores. Tenho certeza que professores como os citados neste texto seriam os primeiros a considerar Einstein um retardado se tivesse passado pelas mãos deles.
E é justamente neste cenário, de PSEUDOS PROFESSORES, que SELECIONAM e não conseguem TRANSFORMAR os alunos, que a luta da classe por melhorias, fica difícil, pois enquanto, verdadeiros professores, querem a melhoria da classe em busca da melhoria do ensino, aqueles “PSEUDOS” querem apenas demonstrar seu conhecimento sobre a disciplina em sala de aula, fazendo o seu próprio nome, bater o ponto e cumprir as exigências burocráticas da instituição de ensino.
Infelizmente é aí que percebo que muitos professores não mais EDUCAM, mas apenas SELECIONAM os alunos que comprovam atingir os pontos necessários, independente da comprovação do conhecimento que esteja por trás destes pontos conseguidos numa prova.
Calvino.
Professor universitário, cientista jurídico, advogado, músico, microempresário e produtor cultural.
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Caro Calvino,
Bom dia!
Gostaria de parabenizá-lo pelo formidável texto! Exerci essa magnífica profissão por sete anos, nas redes Estadual e Municipal de ensino e fui uma profissional imensamente feliz! Digo, até mesmo, REALIZADA! Tive o prazer de exercer minhas funções de EDUCADORA, contribuindo para a formação de tantos seres humanos! E me refiro a seres humanos graças a minha consciência de que o aluno não é somente um número nas incontáveis avaliações, mas alguém dotado de sentimentos, desejos e vontades. Hoje, não atuo nessa profissão, pois graças a um problema de saúde, que não foi causado pela da profissão, precisei distanciar-me temporariamente. Compartilho de sua visão e sinto-me feliz por saber que existem pessoas que acreditam no valor da educação formativa!