Pergunte ao Doutor – Lupus Eritematoso Sistêmico
sex, 4 de abril de 2014 00:01
1-O que é Lupus Eritematoso Sistêmico?
Lúpus é uma doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres do que nos homens, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico, exatamente aquele que deveria defender o organismo das agressões externas causadas por vírus, bactérias ou outros agentes patológicos.
O fato é que, no lúpus, a defesa imunológica se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico.
Lúpus exige tratamento cuidadoso por médicos especialistas. Pessoas tratadas adequadamente têm condições de levar vida normal. As que não se tratam, acabam tendo complicações sérias, às vezes, incompatíveis com a vida.
2-O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença de autoagressão, uma doença autoimune. Quais as principais características da doença autoimune?
A doença autoimune é fundamentalmente caracterizada pela formação de autoanticorpos que agem contra os próprios tecidos do organismo. Por isso, o nome autoagressão, às vezes, é mais feliz. O paciente, geralmente do sexo feminino, fabrica substâncias nocivas para seu organismo e o anticorpo, que é um mecanismo de defesa, passa a ser um mecanismo de autoagressão. Portanto, o que caracteriza a doença autoimune é a formação de anticorpos contra seus próprios constituintes.
3-Esses anticorpos podem agredir qualquer tipo de tecido e provocar as mais variadas doenças?
Eles podem agredir qualquer tipo de território. De modo geral, a maior agressão ocorre no núcleo da célula, graças ao aparecimento de vários autoanticorpos contra substâncias presentes em seu interior.
Entretanto, o mais importante não é o anticorpo isoladamente. Do ponto de vista anatomopatológico, o que define a autoimunidade nos tecidos é a formação dos chamados complexos imunes.
4-O que se entende por complexo imune?
O paciente que tenha a etnia lúpica, ou seja, formação genética constitucional que a predispõe a desenvolver lúpus, possui autoanticorpos em grande quantidade. Quando uma substância vinda do exterior une-se a eles, forma-se o complexo antígeno-anticorpo. Isso ativa um sistema complexo de proteínas chamado de complemento e leva à formação dos complexos imunes, cuja concentração dita a gravidade e o prognóstico da doença, porque eles se depositam no cérebro e nos rins principalmente.
O complexo imune depositado no rim inflama esse órgão, produzindo a nefrite lúpica, importante para determinar se a doente vai viver muitos anos ou ter a sobrevida encurtada.
5-Qual substância externa mais agride esses pacientes?
A radiação solar, em especial os raios ultravioleta prevalentes das dez às quinze horas, é a substância que mais agride as pessoas que nasceram geneticamente predispostas. Em estudos conduzidos no Hospital das Clínicas de São Paulo, foi possível detetar inúmeros casos de pacientes que sofriam o primeiro surto logo após ter ido à praia e se exposto horas seguidas à radiação solar. Em geral, eram pacientes do sexo feminino, pois a incidência de lúpus atinge nove mulheres para cada homem. Nos Estados Unidos, há maior prevalência entre as mulheres negras; no Brasil, verifica-se equivalência de casos em brancas e negras.
6-Quais são os sintomas?
Os sintomas dependem basicamente do órgão afetado. Os mais frequentes são: febre, manchas na pele, vermelhidão no nariz e nas faces em forma de asa de borboleta, fotossensibilidade, feridinhas recorrentes na boca e no nariz, dores articulares, fadiga, falta de ar, taquicardia, tosse seca, dor de cabeça, convulsões, anemia, problemas hematológicos, renais, cardíacos e pulmonares.
Portadoras de lúpus eritematoso sistêmico podem ter dificuldade para engravidar e levar a gestação adiante. No entanto, a gravidez é possível, desde que sejam respeitadas algumas medidas terapêuticas e mantido o acompanhamento com reumatologista permanente.
7-Como se faz o diagnóstico?
Existem onze critérios para o diagnóstico do lúpus. A manifestação simultânea de pelo menos quatro deles caracteriza a doença:
- Pequenas feridas recorrentes na boca e no nariz;
- Manchas na pele, especialmente quando exposta ao sol;
- Lesão avermelhada e descamativa com o formato de asa de borboleta, que surge nas laterais do nariz e prolonga-se horizontalmente pelas faces;
- Fotossensibilidade;
- Artrite – dor articular assimétrica e itinerante, especialmente nos membros superiores e inferiores;
- Lesão renal, que evolui rapidamente para insuficiência renal progressiva;
- Lesão cerebral – convulsão (muitas vezes atribuída a outra doença neurológica), ansiedade, psicose e depressão;
- Serosite – inflamação da membrana que recobre externamente os pulmões (pleura) e o coração (pericárdio);
- Anormalidades hematológicas ou penias;
- Anormalidades imunológicas;
- Fator antinúcleo (FAN) positivo.
8-Como é o tratamento?
Existem recursos terapêuticos que ajudam a controlar as crises e a evolução da doença.
Os corticóides modernos apresentam menos efeitos colaterais e a ciclofosfomida, imunossupressor usado nos transplantes, tem-se mostrado eficaz para controlar a formação dos complexos imunes.
Outra conquista importante é a plasmaferese utilizada para eliminar os complexos imunes circulantes e regredir as lesões renais e cerebrais.
9-A gravidez é contraindicada para as pacientes lúpicas?
Há um conceito difundido inclusive entre alguns médicos de que pacientes lúpicas não devem, não podem e não engravidam em virtude de um problema imunológico. O argumento é que algumas dessas mulheres produzem anticorpos contra um constituinte especial chamado fosfolípedes, ou seja, substâncias com o radical fósforo do tipo gorduroso situadas na circulação. Esses anticorpos são responsáveis pela incidência de abortos recorrentes, aliás, outro sinal de pré-lúpus.
10- Isso quer dizer que elas engravidam e podem abortar repetidamente?
Além de abortos de repetição, essas mulheres formam coágulos em várias partes do corpo. Formam trombos no cérebro e formam êmbolos. Paciente lúpica que não tenha esse componente talvez possa ter uma gravidez normal. No entanto, nas portadoras de lesão renal, aumenta muito a possibilidade de abortos ou de dar origem a um feto com pouca chance de sobrevivência. Na verdade, algumas não têm dificuldade para engravidar, mas a gravidez pode ser difícil e exige segmento pré-natal feito por especialista.
11-Quais são as recomendações?
- Pacientes com lúpus devem evitar a exposição ao sol e usar protetores solares o dia todo;
- Os anticoncepcionais são contra-indicados, porque o aumento dos níveis de estrógeno pode desencadear surtos da doença;
- Portadoras da doença que desejam engravidar devem seguir rigorosamente a orientação medica e dar preferência aos períodos de remissão das crises;
- O consumo de álcool, cigarro e outras drogas é absolutamente contra-indicado;
É importante, também, tomar cuidado para não contrair infecções. Evitar grandes conglomerados ou agrupamentos de pessoas e o contato com portadores de doenças infecciosas, que possam ser transmitidas, é uma precaução válida e indispensável.
Além disso, é preciso estar sempre atento ao psiquismo da paciente lúpica, que se altera muito com a doença. Às vezes, a primeira manifestação é um surto psicótico ou de ansiedade. Por isso, o equilíbrio emocional é meta importante na vida dessas mulheres.
Respeitadas as limitações que possam ocorrer durante as crises, a atividade física deve ser mantida com regularidade.
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