por Tatiana Oliveira

Sindicância será aberta para averiguar acusações sobre empresas citadas na ação. Advogados de defesa de investigados pronunciam-se

Nos últimos dias a Gazeta do Triângulo recebeu novas informações sobre os investigados na operação Hoopoe, deflagrada na sexta-feira, 13, contra cargos de destaque no Executivo e Legislativo e algumas empresas que prestam serviço à Administração Municipal. Com o afastamento imediato de oito cargos, sendo sete do Executivo e um do Legislativo, novos nomes serão apontados nos próximos dias para substituí-los interinamente, pelo período que durar o impedimento legal.

Além de cumprir a ordem de afastamento, a prefeitura toma outras medidas. Conforme apurado pela Redação, as empresas citadas na ação do MPMG estão como respectivos contratos suspensos temporariamente para averiguação e abertura de sindicância, a qual será realizada pela prefeitura.

 

O advogado de André Fabiano Reis, superintendente da SAE, informou à Gazeta que não havia qualquer arma na residência do investigado e que o dinheiro encontrado no veículo de Reis era proveniente de honorários advocatícios. “Na casa do meu irmão, no mandado de prisão e no de busca e apreensão, foram pegos papeis, celular, computador e tinha R$10 mil dentro do porta-luvas. Arma não havia, essa arma era do Coelho, não dele”, disse Marcelo Reis, advogado. “O dinheiro é referente ao salário onde ele presta serviços jurídicos para um frigorífico e uma empresa de sucos, inclusive parte do dinheiro é meu”, coloca. A informação sobre a arma raspada foi repassada durante coletiva de imprensa na sexta-feira, 13, mas, segundo o advogado, não consta nos autos do processo e não está correta.

Segundo informa o jurídico da Câmara, não será chamada suplência do vereador Cláudio Coelho (SD) por enquanto, visto que a prisão temporária tem duração de cinco dias. Conforme explicado à Redação, será aguardado período previsto pelo regimento e por lei e novas informações do processo antes que qualquer ação seja tomada nesse sentido.

O advogado do vice-presidente da Câmara, Cláudio Coelho, informa que seu cliente é inocente e colaborou com a investigação. “Ele foi ouvido pelo MP na sexta-feira e foi bem esclarecedor.Entendemos que é inocente e essas investigações vão chegar no entendimento da completa ausência de responsabilidade dele no processo”, disse Sandro Borges Amorim.

O advogado acredita que a prisão temporária de seu cliente não deva ser renovada por mais cinco dias. “O objetivo é de elucidar os fatos e ouvi-lo e isso já foi feito. Ele colaborou muito com as investigações e entendemos que a prisão será revogada, mas isso depende muito do MP manifestar a respeito. Entendemos que será favoravelmente porque esgotaram todo o acervo de perguntas e não há provas contra meu cliente. A acusação do MP está baseada em indícios e não em fatos comprovados”, coloca Amorim.

A respeito da arma encontrada na residência do vereador, o advogado de defesa afirma que era herança e que foi deixada pelo pai do edil. “Essa arma que foi encontrada era uma bereta antiga pertencente ao pai dele que deixou na casa e ele não tinha muito contato com essa arma. A prisão pela posse foi revogada por fiança e o que temos agora é só a prisão temporária que vai ser de análise do juiz sobre manutenção ou prorrogação do prazo”, afirma Amorim.

A Gazeta do Triângulo tentou contato com a defesa de Júberson dos Santos Melo, mas até o fechamento da edição não teve sucesso.O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo se apresentou à Polícia Civil de Araxá na noite desta sexta-feira. Ele é um dos alvos da Operação “Hoopoe” que investiga um suposto esquema de desvio de recursos da administração municipal.O ex-secretário retornava de viagem de Belo Horizonte e foi levado para o presídio de Araguari neste sábado, 14, onde estão os outros dois presos.

Foi adiantado à Reportagem que o secretário de Educação Werley Macedo supostamente vai solicitar afastamento temporário do cargo. Segundo informado à Gazeta, o intuito do secretário é não atrapalhar nas investigações. Ao contrário dos outros afastados, nossa fonte informou que o ato de Macedo será voluntário e deve ser divulgado no Correio Oficial do Município na quarta-feira, 18.

A operação Hoopoe

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Polícia Civil realizaram nesta sexta-feira, 13, a Operação “Hoopoe” em Araguari. De acordo com a Promotoria, as investigações tiveram início após denúncias de venda irregular de túmulos no Cemitério Bom Jesus da Cana Verde e, posteriormente, foi verificado um esquema de desvio de recursos públicos praticado por agentes públicos e políticos da cidade.

Foram expedidos três mandados de prisão temporária contra o superintendente da Superintendência de Água e Esgoto (SAE), André Reis, o ex-secretário municipal Júberson dos Santos Melo e o vereador Cláudio Coelho (SD). Os três encontram-se no Presídio de Araguari e apenas o superintendente da SAE está em cela especial, por ser advogado.

Além dos mandados de prisão, foram expedidos mais de 30 mandados de busca e apreensão e nove ordens judiciais de afastamento de servidores e agentes políticos.Júberson dos Santos Melo estava entre os pedidos de afastamento, mas na data da operação não mais ocupava o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Conforme apuração dos promotores de Justiça, os investigados aproveitavam os cargos em diversos setores da prefeitura e da SAE para obter benefícios políticos e econômicos.O prejuízo ao erário e os nomes dos demais investigados não foram informados.

Os trabalhos contam com o apoio da Promotoria de Justiça de Defesa de Patrimônio Público de Araguari, do núcleo central do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) em Belo Horizonte, GEPP, Grupo de Apoio Policial (GOP) e Promotoria de Justiça de Combate aos Crimes Cibernéticos e Polícia Civil.A operação tem a participação de três promotores de Justiça e 110 policiais civis. O nome da operação se refere ao pássaro da mitologia que come excrementos.

Conforme apurado pela Gazeta do Triângulo, foi decretado afastamento imediato de: vereador Claudio Coelho; superintendente da SAE André Fabiano Reis; Juberson dos Santos Melo (já estava afastado); secretário de Saúde Rafael Guedes; secretário de Serviços Urbanos Candido Costa Arruda; secretário de Gabinete Marco Antônio Farias e dos servidores Elcio Gonçalves Cury (cemitério), Cristiano Abilio de Deus (Obras), e Roberto Cury (cemitério). Segundo o promotor, eles foram afastados por terem alta influência dentro do Executivo. Não foi pronunciado sobre envolvimento deles nas acusações da operação.

Nota oficial da prefeitura

O prefeito Marcos Coelho de Carvalho (MDB) lançou nota oficial ontem sobre a operação, confira na íntegra:

“Venho esclarecer alguns pontos em relação ao processo investigatório instaurado pelo Ministério Público Estadual (MPMG), que resultou na Operação HOOPOE.

Desde o meu início na vida política, quanto na minha vida profissional, prezei pela honestidade, lisura, retidão, decência e respeitabilidade pelo trabalho público, e não seria diferente nos dias de hoje.

Diante dos fatos recentemente sucedidos, informo que todas as ordens judiciais que versam sobre a referida operação, foram cumpridas de imediato e serão acatadas rigorosamente.

Reitero que os contratos entre a Administração Pública – Prefeitura Municipal e SAE – e as empresas citadas no processo foram suspensos, por minha própria iniciativa, mesmo sem qualquer ordem judicial neste sentido, para que seja feita uma rigorosa análise de tais contratações.

Manifesto o meu apoio pessoal às investigações, motivo pelo qual determinei à Procuradoria Geral do Município rigoroso acompanhamento dos desfechos dos fatos e tomada de determinações judiciais cabíveis, no âmbito da Administração Pública, objetivando a proteção do patrimônio público.

E sobrelevo que todos os setores, departamentos e servidores comissionados da Administração Pública – Prefeitura Municipal e SAE – estão à total disposição da Justiça e do Ministério Público, tendo sido por mim determinado que colaborem amplamente com as autoridades mencionadas”.