O tríplice luto na literatura brasileira
qua, 30 de julho de 2014 00:00A literatura tem o poder de imortalizar. Imortaliza histórias e também aqueles que as contam. O mês de julho trouxe luto para o Brasil com a morte de três grandes escritores. Perdemos, num espaço de uma semana, João Ubaldo Ribeiro, no dia 18, Rubem Alves, no dia seguinte, e Ariano Suassuna, no dia 23. Todos contribuíram, cada um a sua maneira, com obras que nos ajudam a refletir a cerca da nossa própria identidade nacional, além de questões profundas que vão além do espaço/tempo. Nesta coluna, a Meio Desligado destaca situações e opiniões polêmicas protagonizadas por esses gigantes da literatura brasileira.
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Ariano Suassuna e o traje “Sport fino”
Foi uma ocasião em que o autor da peça “O Auto da Compadecida” estaria por assim dizer em uma “saia justa”. Ia receber do presidente de Portugal uma homenagem, a Ordem do Infante Dom Henrique. O convite pedia “esporte fino”, mas ele não usava terno ou smoking desde que leu um texto de Gandhi sobre exploração na Índia, quando passou a se vestir com roupas feitas por uma costureira popular. Foi aí que lhe ocorreu uma idéia.
Torcedor fanático do Sport que era, foi à cerimônia vestindo calças, casaco e sapatos pretos, com camisa e meias vermelhas. Estava fino como pedia esta e as demais ocasiões em que fosse convidado. Pronto, cumpriu a regra de etiqueta, foi de “Sport fino”. O time do coração prestou-lhe uma belíssima homenagem neste domingo, 27. Jogadores entraram em campo com nomes dos personagens mais conhecidos de Ariano Suassuna estampado nas camisetas.
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Rubem Alves considerava o vestibular uma abominação
E o Enem também. “É muito parecido com o vestibular, que eu detesto. Gastei muito tempo da minha vida lutando para acabar com o vestibular. Veja bem: se eu fizer vestibular ou Enem, serei reprovado. Todos os reitores das universidades seriam reprovados,” declarou o escritor em uma entrevista concedida por telefone em 1º de novembro à Revista Cult, publicada no dia 7 de dezembro.
Professor da Unicamp, o escritor acreditava que o exame deveria ser feito um ano após o fim do ensino médio. “Há uma frase que repito e acho importante: a educação acontece depois que o esquecimento fez o seu trabalho. (…) E o que sobra do ensino médio hoje, em geral, é nada,” afirmou.
Para ele, o vestibular criou uma errônea noção de que existe uma “resposta certa” para tudo. “(…) comecei a pensar que acabaria com os cursinhos pré-vestibular e as escolas ficariam livres para ensinar as coisas que são essenciais para a educação.” Bom, pelo menos ainda era possível discordar das notas do vestibular…
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João Ubaldo Ribeiro e a “elite branca” de Lula
Em um de seus últimos artigos, o escritor tratou do corriqueiro termo que mistura classe social e uma pretensa distinção racial, bastante usado pelo presidente Lula conforme a “necessidade do momento”. Se valendo da ironia e do indiscutível domínio que possui sobre as letras, o autor deixou uma reflexão importante para nós brasileiros:
“Foi elite dos sindicalistas, é elite do partido que está no poder, exerceu o posto mais alto da elite governante, num país onde o presidente da República é um monarca tratado com subserviência e vassalagem, viaja esplendidamente para palestras e lobbying, come do bom, bebe do melhor, é amigo pessoal e companheiro de lazer de ricos e poderosos, se trata nos mais respeitados hospitais com os mais renomados médicos, não entra em filas, não pega transporte público, não paga aluguel de casa nem prestação de carro, não se aporrinha com providências do cotidiano, não tem preocupação com o futuro, ganha mais do que todos os professores do primeiro grau da rede pública do Maranhão juntos, manda para lá, desmanda para lá e, ainda por cima, é cultuado por grande parte do povo. Então, ele não é elite? De que mais se precisa para ser elite?” Mais claro, impossível.
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