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Entre macacos e a Petrobras, por Alzira Riquieri

qua, 24 de setembro de 2014 14:30

ABERTURA DEBAIXO DO PE DE LIMAO
Alzira Riquieri

Nos jornais do país, dois assuntos:

A gaúcha Patrícia Moreira, 23 anos, numa partida do Grêmio com o Santos, chamou o goleiro do Santos, Aranha, de macaco. Já vi a imagem da moça, pelo menos, umas cem vezes. Na sexta, o olhar assustado denunciava o que todo mundo sabe. Ela chamou o jogador de macaco, assim como os muitos gremistas presentes no estádio, em efeito manada. Pegaram a moça, porque as câmeras só tinham imagens dela.  Em estádios de futebol, a televisão gosta de mostrar jovens bonitas.

Na madrugada de sexta, 12/09, parte da casa de Patrícia foi incendiada. A família, desde o acontecido, e tendo em vista as ameaças recebidas, se abrigou na casa de amigos e parentes. Os vizinhos estão horrorizados com a perseguição à moça.

A gente cansa de andar pela cidade, vendo a discriminação aceita e até elogiada. Nada mais “natural” do que chamar homossexual de “veado”, dirão os machões. Bater em gays, também pode. Se matar algum, é limpeza. Fazer o quê, se o cara é fraco. Chamar as jovens de “vagaba” ou periguetes também pode. Conheci um cara que só porque a menina cortou a onda dele, espalhou que ela era uma “sapata”. A sociedade hipócrita que não reconhece os direitos de gays, mulheres, deficientes físicos, idosos, é a mesma que condena Patrícia e a expressão infeliz pronunciada no arrastão da torcida.

No sábado, a imprensa repercutiu as denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Já citados como suspeitos, trinta e dois dos nossos expoentes da política, que estão aí, disputando mais quatro anos, como guardiões dos nossos interesses. Segundo o delator, eles recebiam 3% de todos os contratos feitos com a Petrobras, o que considerando que é a maior empresa brasileira, o butim deve girar pra mais de bilhão. Nada mal, pra corruptela candidata ao nosso voto, no próximo dia cinco.

As perguntas que todo eleitor deveria estar fazendo – Quem foi citado? Quanto cada um levou? O que pensa a Presidenta? E os partidos envolvidos? Quem mais sabia desse roubo e não se manifestou?

Até agora, com tudo em segredo, a única preocupação visível dos nossos políticos é o estrago nas urnas e se o delator mencionou seu nome, na execrável lista. Com sempre, ninguém sabe, ninguém viu.

Será que tem alguém se dando conta que estamos dando procuração pros vampiros continuarem tomando conta do banco de sangue? Que a lei da ficha limpa não vai pegar os acusados até o dia da eleição e a única saída é barrar, pelo voto, a perpetuação da impunidade.

Tempo de televisão custa caro e seu preço é medido pela audiência da noticia. Notícia chata não rende e logo é tirada de cena. Sem relativizar a virulência do preconceito, que como diz o goleiro Aranha, conhece desde a infância, não dá pra pensar que em vésperas de eleição, o grito de “macaco” ocupe espaço de honra na atenção do telespectador, em pé de igualdade com a lista do Seu Paulo Roberto Costa. Que descrença! De um lado a hipocrisia social, que de repente quer dar uma de “politicamente correta”, mas só em relação a alguns (desde que não sejam gays, meninas de vestidos curtos, velhos que ocupam vagas especiais) e do outro, a eleição a menos de um mês, apontando que os vampiros vão continuar vigiando o banco de sangue.

A irracionalidade dos seres humanos é mesmo uma piada.

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