Neuropsi – Como diferenciar a depressão dos transtornos de hiperatividade e atenção?
qui, 12 de março de 2020 05:561-Como diferenciar a depressão dos transtornos de hiperatividade e atenção?
Na criança, é bem fácil diferenciar a hiperatividade da depressão. Criança hiperativa não para quieta; se movimenta o tempo todo; principalmente os meninos. Entretanto, existe um subtipo de hiperatividade que se caracteriza pela desatenção. A criança não é hiperativa fisicamente, mas não consegue focar a atenção, por isso se retrai e vai abandonando as atividades. Muitos a consideram desligada, mas ninguém a considera uma criança triste.
Ao contrário, criança deprimida logo demonstra que não se interessa por nada e não há brincadeira que a faça sentir-se melhor. Fica estática o tempo todo e quer sempre alguém em que confie por perto.
2-Crianças deprimidas perdem a iniciativa?
Claro. Na escola, apresentam várias dificuldades de aprendizado e, num primeiro momento, são encaminhadas para a avaliação do oftalmologista, do otorrino, da fonoaudióloga. Passam também por testes específicos para o déficit de atenção e hiperatividade. No passado, o diagnóstico de depressão era feito por exclusão. Hoje se sabe que sintomas como alterações do apetite e do sono, diminuição da atividade física, medo excessivo, duradouro e persistente, são próprios da depressão infantil.
3-Há fatores desencadeantes que aumentam o risco de quadros depressivos nas crianças?
Existem. Como nos adultos, luto, perdas, separação dos pais, dificuldade de adaptação a situações novas, mudança de escola e de domicílio podem gerar estresse, que vai desgastando a criança e conduzindo a um quadro depressivo. No entanto, na maioria dos casos, existe um componente hereditário, genético, mais significativo do que nos adultos, responsável pelo desencadear quadros de depressão na criança.
4-Qual é o inconveniente de não identificar a doença e não iniciar o tratamento o mais rápido possível?
Primeiro, a dificuldade de aprendizado é grande. Depois, a criança vai crescer achando que a alegria estampada nas outras pessoas não foi feita para ela e conforma-se com esse referencial. Mais tarde, quando adolescente, estará mais propensa ao uso de drogas, porque irá procurar alguma coisa que alivie esse desconforto permanente. Não é possível que somente os outros consigam ser felizes.
5-Nos adultos, a estimativa é que para os quadros depressivos sejam mais frequentes nas mulheres (três mulheres para cada homem). Nas crianças, essa diferença entre os sexos também existe
Na infância, a ocorrência de depressão é praticamente igual nos dois sexos. A diferenciação começa na adolescência, fase em que as meninas são mais vulneráveis. Sem dúvida, a questão hormonal interfere consideravelmente nesse processo.
6-Como os adultos encaram a depressão infantil?
A depressão na infância é subestimada e negligenciada pelos adultos e encarada como “manha” ou “frescura”. Outros transtornos psiquiátricos que também podem afetar crianças são muito mais discutidos, como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e as fobias. No entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2022 a depressão se tornará a doença mais incapacitante no mundo. Para mudar esse quadro, uma das medidas é tirar a depressão infantil da invisibilidade.
Portanto, os pais devem lidar com a depressão de forma respeitosa e séria e ter paciência e dedicação para que o tratamento não seja interrompido. Depressão é doença, mas felizmente tem tratamento.
7-Qual é o risco se a depressão infantil for negligenciada?
Se negligenciada, em casos extremos algumas crianças podem até cometer suicídio. Apesar de esse ser um dos grandes tabus da área de saúde, não é um problema tão raro. Em 2015, o suicídio infantil foi a terceira principal causa de mortes de crianças de 10 a 14 anos nos Estados Unidos, segundo levantamento do Centro Nacional de Prevenção e Controle de Doenças (CDC). Dos 15 aos 34 anos, o suicídio passa a ser a segunda principal causa de morte.
Crianças e adolescentes com depressão podem ter graves complicações ao se tornarem adultos depressivos. Eles correm mais risco de desenvolver problemas como alcoolismo, uso abusivo de drogas, ansiedade e doenças cardiovasculares.
É de extrema importância saber identificar os sintomas da depressão na infância. Os primeiros sinais são físicos: dor de cabeça, dor de barriga, alteração no apetite e no sono. Quando os pais começam a ligar muito para o pediatra, ou ir várias vezes ao pronto-socorro, é um sinal de alerta para a depressão. A criança pode ficar muito ansiosa ou irritada, apresentar dificuldades escolares e evitar socializar com família e amigos. Também podem surgir medo de ficar sozinhas e choro excessivo.
Mas é importante ressaltar que os sintomas nem sempre são aparentes, pois crianças tendem a ter mais dificuldade de falar sobre o que sentem, o que torna mais difícil o diagnóstico precoce.
A partir dos 12 anos as crianças conseguem descrever melhor seus sentimentos e é fundamental não ignorá-los. Para isso, pais, professores e pessoas próximas devem sempre observar e acompanhar as crianças.
Quando identificados os possíveis sintomas de depressão na infância, os responsáveis devem procurar um psicólogo e psiquiatra infantil, que poderão definir o diagnóstico com precisão após descartar outras condições clínicas capazes de provocar sinais semelhantes.
A etapa seguinte é atestar o grau da doença. É preciso avaliar o prejuízo funcional, ou seja, o quanto a depressão está interferindo no desenvolvimento e socialização da criança.
Nos casos de grau leve, o tratamento é focado em terapias e atividade física, sendo preciso enfrentar a raiz do problema. Não adianta fazer terapia se as brigas familiares não cessarem, por exemplo. É preciso uma mudança nas causas da depressão. Nos casos de depressão moderada ou grave, além da continuidade da psicoterapia, deve ser avaliada em conjunto com psiquiatra sobre o tratamento e prognóstico, podendo incluir também o uso de medicamentos.
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