Bastaram apenas alguns dias à frente da presidência para que Michel Temer começasse a enfrentar um tsunami de críticas – escolha dos ministros, extinção de ministérios e até mesmo em relação ao novo logotipo do governo. Não é de se espantar. A ala de insatisfeitos com o impeachment, o qual chama de “golpe”, seguramente não dará trégua ao menor dos atos promovidos pelo líder do PMDB.

 

Uma pergunta tardia começou a ecoar assim que o impeachment de Dilma foi dado como certo: quem é Michel Temer? Nem mesmo seus eleitores saberiam responder com exatidão. E olha que muitos deles estavam votando no vice pela segunda vez. Aquele senhor inexpressivo que aparecia sempre ao fundo nos discursos da presidente, que tem uma esposa bem mais jovem e bonita e que segundo os boatos de internet, também é satanista, agora assumiu o mais alto cargo político do país.

No entanto, o político descendente de libaneses se tornou uma preocupação apenas após o fim do casamento PMDB/PT. Quando o dinheiro acaba, o amor acaba, dizem as más línguas. Aos interessados, uma rápida pesquisa virtual revela a trajetória de Michel, seu estilo formal e conciliador, como se tornou a figura central do partido e o receio que despertou em Lula ao ser cogitado para ser vice de Dilma em sua primeira disputa presidencial.

A pergunta agora muda: quem será Michel Temer? Nos poucos dias como presidente interino, promoveu medidas que deram o que falar, como a fusão do Ministério da Educação e Cultura e a extinção de outros ministérios e secretarias. A ausência de mulheres e negros entre os ministros também gerou discussões na internet, assim como a presença de alguns nomes que seriam citados e/ou investigados na Lava Jato. O “conciliador”, então, escolheu a economista Maria Silvia Bastos Marques para presidente do BNDES, nome respeitado entre o setor empresarial.

 

O corte de verbas de publicidade para os blogs alinhados ao governo PT e possível corte de verbas para o MST demonstra o total desinteresse do PMDB na propaganda maciça, até porque o partido sempre foi duramente criticado por essas mídias alternativas e não faria sentido algum continuar a destinação imoral dos nossos impostos para essa finalidade. Ele também exonerou o jornalista Ricardo Melo das funções de diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) demonstrando que de fato, certas coisas estão mudando. Melo recorre da decisão na Justiça.

Para o desafio de recuperar a economia, escalou como Ministro da Fazenda o respeitado Henrique Meirelles, que havia sido presidente do Banco Central no governo Lula. Meirelles falou sobre a urgência de redução de gastos públicos e também sobre a necessidade de reforma previdenciária, mudanças na legislação trabalhista e não descartou o aumento de impostos. Ou seja, medidas impopulares.

Em entrevista ao Fantástico, Michel Temer negou uma possível candidatura em 2018, mas ainda há muita água para rolar embaixo da ponte. Desprendido de populismo barato, ele poderia ter mais liberdade para adotar atos benéficos para o país que não fossem eleitoreiros. Era disso que precisávamos: um político que não fosse endeusado, que não estampasse camisetas e nem levasse ninguém a agitar bandeiras colocando sua persona acima da nação.