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Meio Desligado – Tchau, querida!

qua, 20 de abril de 2016 08:55

meio desligado

Araguari. Um ônibus de 40 lugares, apenas 10 ocupados. O destino? Brasília. Eram pouco mais 23h30 de sábado (16) quando nos reunimos na porta do Sindicato dos Produtores Rurais. Pedro Rodrigues Naves, Luiz Claudio Barreiros Cunha, Deivid Aguiar, Fabrício Mendonça Silva, Edgar Toledo, Ulisses Nazareth, João Gabriel Araújo, Maria Cecília Araújo, Maria Catarina Leão e eu.

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Acompanhar a votação do impeachment era uma vontade tão forte que não ia sumir apenas por falta de companhia, preocupação que se revelou supérflua logo de cara. A motivação que nos uniu naquele dia também criou um ambiente de empatia instantânea. Antes mesmo de subir no ônibus, parecíamos amigos de longa data.

No caminho, a conversa não poderia ser outra. Passada a indignação inicial com nossos conterrâneos que não quiseram participar conosco desse momento histórico, começamos a compartilhar mais do que posicionamentos políticos, mas também visões de mundo. Comerciante e pelo que nos contou, um workaholic, Deivid Aguiar vê em curso uma crise de valores morais. Os jovens se espelham em traficantes e não mais em trabalhadores, lamentou ele.

Energia em pessoa, o ruralista de vinte e poucos anos João Gabriel se indignou principalmente com o descaso do governo ao agronegócio e deu uma aula no ônibus de como os governos agem para implantar ditaduras socialistas, apesar de não se considerar nem de esquerda, nem de direita.

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Depois que o secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura defendeu publicamente a invasão de terras de deputados a favor do sim, não poderia ser diferente. Com certeza uma das razões que motivaram a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária a mobilizar manifestantes em todo o país, disponibilizando 500 ônibus, inclusive o nosso, além de uma estrutura fantástica em Brasília no domingo. Nada nos faltou.

Altão e fã de um bom thrash metal, Ulisses Nazareth quis ir com o intuito de combater a implantação do comunismo no Brasil. O apoio as ditaduras, os encontros do Foro de São Paulo teriam um fim com a queda do PT.  Recentemente, perdeu o emprego em uma empresa de construção porque, segundo ele, a empresa paralisou as obras devido a dificuldades impostas pelo governo.

Todo mundo tinha seus próprios motivos para estar ali. Os meus? Mais do que o jornalismo, a certeza de que este 17 de abril de 2016 será lembrado como um dia importante na história do Brasil. De alguma forma, acreditei que a nossa pressão, como vem acontecendo, teria peso nas decisões tomadas neste dia.

O momento de maior apreensão aconteceu antes da chegada à capital. Na mesma parada, um pessoal à caminho do lado vermelho do muro lanchava no restaurante de um posto qualquer. Mas não houve problemas. Por exemplo, a Maria Cecília Araújo, mãe do João Gabriel, até levou uma camiseta vermelha na bolsa para esse tipo de emergência.

Chegamos pela manhã. A espera pelo início da votação foi longa. A CNA providenciou café da manhã, almoço, água, café e frutas à vontade ao longo do dia, em tendas montada na praça Portugal. Depois fomos para a Esplanada dos Ministérios.

Falei com um repórter argentino. Pau para toda obra, João Gabriel também fala espanhol e inglês. Os meninos conversaram com um monte de gente que passava. Todo mundo queria falar com todo mundo, compartilhar esse sentimento de esperança. Víamos de longe o prédio do Congresso. A curiosidade para saber como estava do outro lado do muro, torcendo para que estivesse vazio, levou alguns a tentarem, sem sucesso passar pelos policias.

Depois de uma longa espera, regada a muita água para não nos desidratarmos, sim, Brasília é quente demais, muitas selfies, fotos e conversas, eis que finalmente a Esplanada começou a lotar. O movimento Vem Pra Rua montou um trio elétrico com as músicas mais engraçadas, das quais destaco “Saudação à Mandioca”, do Timbufun, “Tchau tchau querida, não precisa voltar” e “Chora petista, bolivariano”.

A votação que deveria começar às 14h teve início somente às 15h45. Mas antes disso, uma multidão se formou em volta dos telões no aguardo, acompanhando o discurso dos líderes de partidos. Finalmente! Começando pelos deputados do Sul. Final de Copa do Mundo. Na empolgação, por muitas vezes chegamos a pular ao ouvir o “sim”. Era uma festa, todo mundo vestido com as cores da bandeira, batendo palmas para aqueles que diziam sim, insultando os que diziam “não”. Ali não era lugar para falso moralismo.

Tivemos que deixar a festa logo cedo, pouco depois dos 100 primeiros votos. Mais tarde, paramos na estrada em um restaurante de posto para ver o finalzinho. Que aflitiva a votação na Bahia! Era “não” atrás de “não”. Por incrível que pareça, o proselitismo dos deputados doeu mais pela televisão do que lá em Brasília. E assim, com o coração a mil, assistimos juntos o voto de número 342, em meio a refrigerantes e salgados de beira de estrada e muita comoção.

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1 Comentário

  1. João Gabriel Araújo disse:

    Parabéns pela coluna. Ficou show de bola. Espero que possamos todos irmos para a próxima votação desta vez pelo Senado. Forte abraço.

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