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Meio Desligado – Rondon Pacheco e o valor do indivíduo

qua, 6 de julho de 2016 05:00

meio desligado

Foi notícia nos principais jornais do país a morte do ex-governador de Minas Gerais Rondon Pacheco, na madrugada de segunda-feira, 4. Ele tinha 96 anos e sofreu um ataque cardíaco. Dias atrás estava internado, mas recebeu alta. Sob honras e com a presença de autoridades do estado, foi sepultado em Uberlândia, cidade onde nasceu e voltou a viver depois que sua carreira política se findou.

Rondon Pacheco

Rondon Pacheco

 

Entre os cargos ocupados durante a trajetória política de Pacheco estão de deputado estadual e federal, governador de Minas Gerais por indicação do presidente Médici e ministro-chefe da Casa Civil durante o governo do presidente Arthur Costa e Silva. Graças à influência que exerceu no centro da política nacional, foi responsável pelo projeto que criou a Universidade Federal de Uberlândia, idealizando na instituição as faculdades de Medicina e Engenharia, fomentou o desenvolvimento não só em Uberlândia, mas em todo o estado. Foi o responsável pela implantação de grandes indústrias em Minas, como a Fiat, em 1973.

Uma das polêmicas criadas em torno do uberlandense é a sua participação na reunião do Conselho de Segurança Nacional para a edição do Ato Institucional nº 5, o AI-5. O documento redigido em 1968 suspendeu liberdades democráticas e direitos constitucionais, garantindo o fechamento do Congresso e institucionalizando a censura. Apoiador do regime militar, o ex-governador garantia que havia se posicionado contra os pontos mais duros do ato e até sugeriu uma emenda para que a duração fosse de apenas um ano. No entanto, Costa e Silva teria vetado a ideia.

Este é apenas um breve resumo que não faz jus à trajetória do político, tido como hábil e diplomático, mas é o suficiente para correção de uma injustiça. No ano passado, alguns estudantes retiraram o busto de Rondon Pacheco que estava em frente a Faculdade de Direito da UFU, sob a alegação de que ele era “apoiador da ditadura”, e que portanto, não merecia aquela homenagem. Um movimento também pedia a mudança de nome da avenida Rondon Pacheco para Grande Otelo.

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Antes de tudo, dano ao patrimônio é vandalismo e vandalismo não é ato político. Neste caso, a situação é ainda pior quando estudantes que sequer conhecem a história da instituição onde estão matriculados desrespeitam, numa decadente ironia, o homem que teve papel fundamental na criação desta mesma instituição. Que ao fim de sua carreira, foi morar com a família em um apartamento simples, diferente de certos perseguidos no regime militar que hoje esbanjam em meio ao luxo garantido com o desvio do nosso dinheiro.

Muito se critica a chamada “história dos vencedores”, dos grandes nomes – líderes, monarcas, comandantes, presidentes, marcadas por figuras amplamente ressaltadas em registros oficiais. Ora, todos nós seríamos agentes da história. Um escravo do antigo Egito, não teria muito a contar caso fosse possível? É neste sentido que Walter Benjamim concebia a história como barbárie e opressão, negando a versão progressista de que as sociedades caminham para o progresso e propondo uma “história do oprimido”. Para o relativismo cultural, por exemplo, não existem sociedades melhores que outras. A ideia de superioridade nada mais seria do que uma visão etnocêntrica, muitas vezes eurocêntrica, inclusive.

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Você, leitor, acha mesmo que uma obra de arte produzida por Leonardo da Vinci e um colar indígena possuem o mesmo valor? Se a sua resposta for não, assim como a minha, você discorda do relativismo cultural. E por falar em Leonardo da Vinci, notemos que ele escreveu seu nome na História Mundial. Dotado de grande capacidade, superou tantos outros que se dedicaram às mesmas atividades e tiveram oportunidades semelhantes. O que há de barbárie e opressão nisso? Onde estaria Leonardo da Vinci na “história dos oprimidos”?

A luta de classes é uma explicação simplória que despreza a complexidade das relações humanas e fracassa miseravelmente ao negar que um indivíduo é capaz de mudar o rumo da história humana. Suspeito que a crítica ao valor do indivíduo tenha morada na baixa autoestima. Essas pessoas, cientes de que jamais terão um busto em uma faculdade ou que não reconhecem em si nenhum tipo de habilidade ou talento, não conseguem aceitar que o outro se sobressaia.

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