Meio Desligado – Rolling Stones em Cuba
qua, 30 de março de 2016 08:06“(…) The order is
Rapidly fadin’.
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin’”
“A ordem está rapidamente se esvaindo. E o primeiro agora será o último depois, pois os tempos, eles estão mudando.”
O show foi dos Stones, mas é inevitável a alusão à profética canção de Bob Dylan, quando, a certa altura da histórica apresentação, Mick Jagger disse em espanhol: “Os tempos estão mudando, não?”. Estão. Os Rolling Stones foram a primeira grande banda de rock a se apresentar em Cuba, menos de uma semana depois da visita de Barak Obama, ocasião em que ele declarou que o embargo está próximo do fim.
Foram meses de negociações até que os Stones pudessem realizar o concerto gratuito em Havana. Uma das condições foi chegar de avião fretado apenas na véspera e voltar para a Flórida no dia seguinte.
Sexta-feira, 25 de março. Eram 20h30 em Cuba quando o quarteto subiu ao palco. Jagger e Keith Richards, ambos com 72 anos, Charlie Watts, de 74, e Ronnie Wood, de 68. Uma banda apenas três anos mais jovem que a Revolução Cubana, que trouxe de volta para a ilha o rock’n’roll e um sopro de esperança para os mais velhos, que finalmente tiveram a chance de desfrutar de algo que lhes fora negado na época e para os mais novos, que poderão ter um futuro melhor que o de seus pais.
Ouvir rock em Cuba nos anos 60 e 70 poderia levar a um período em um campo de reeducação. Um tipo de música que o ditador Fidel Castro considerava trazer como malefícios “diversionismo ideológico”, “imoralidade” e “desvios sexuais”. Os jovens daquela época precisavam esconder seus discos “imperialistas” em capas de cantores que o regime aprovava.
A icônica língua dos Stones podia ser vista nas camisetas dos cubanos e dos estrangeiros que foram assistir ao show, nas paredes. Algumas versões traziam o símbolo nas cores da bandeira cubana, ou sobreposta a outra imagem emblemática – Che Guevara. A venda de bebidas alcóolicas foi proibida. Aliás, em Cuba, “venda” por si só configura em algo proibido. Não houve venda de lembrancinhas.
O ex-presidente cubano Fidel Castro afirmou na segunda-feira, 28, que o país não necessita que “o império” lhe presenteie com nada e que o povo deste “nobre e abnegado país” não renunciará “à glória, aos direitos e à riqueza espiritual que ganhou com o desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura”.
Os Stones estão longe daquele engajamento político à la Bono Vox, mas é impossível entender o show fora do contexto de aproximação entre os EUA e o último reduto socialista no Ocidente. Pode ser que Jagger e seus amigos queriam apenas tocar num lugar onde nunca tocaram antes, mas até Fidel sabia o quanto o rock é uma arma poderosa para propagar ideias, mensagens ou um estilo de vida que os cubanos poderiam desejar. Ele sabia que o rock era uma ameaça de revolução à sua revolução.
Ainda há um grupo de pessoas que não está entendendo muito bem o que acontece, enxergando no show “de graça” dos Stones uma vitória de Cuba, como se os EUA estivessem cedendo ao duradouro regime. Se ele funciona tão bem, porque os seus problemas são atribuídos as restrições econômicas feitas por um país capitalista? Por que o dinheiro que vem de fora é importante? Quando um não quer, dois não se aproximam. Se até Cuba melhorou suas relações com os EUA, acho que está na hora do Brasil seguir o exemplo de Cuba.
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