Meio Desligado – O que ninguém quer admitir sobre “Trama Fantasma”
sex, 2 de março de 2018 05:04
Resolvi deixar a política de lado nesta coluna e dedicá-la ao forte candidato ao Oscar 2018: Trama Fantasma, mais uma obra prima de Paul Thomas Anderson. Antes de escrever, li algumas críticas a respeito do filme, e pude constatar que não achei, ao menos na mídia brasileira, nenhuma à altura.
Em tempo: a alta costura na Inglaterra no começo do século XX é o pano de fundo para o filme, que carrega no título um trocadilho que também é um prenúncio exato daquilo que irá se desenrolar. O renomado estilista Reynolds Woodcock se apaixona pela jovem e inquieta garçonete Alma (Vicky Krieps), dando início a um romance descrito como “doentio”, “bizarro”.

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Ele, poderoso e cheio de si, descartava suas musas como quem troca de roupa. Na verdade, quem fazia esse trabalho era a irmã e braço direito nos negócios, a impávida Cyrill (Lesley Manville). Apesar de colocar sua vida e seu corpo como um manequim nas mãos de Woodcock, Alma irá conduzir essa relação “amorosa” por outros caminhos.
Claro, o exercício da escrita é também uma forma de arte. A escolha dos adjetivos, da sonoridade perfeita, das comparações, metáforas, citações, conexões com outras obras que reafirmem o conhecimento de quem escreve sobre determinado assunto e principalmente, a criação de frases de efeito para definir a obra de arte em questão ou passagens dela.
A Cahiers du Cinéma disse que “é difícil haver personagem mais desagradável na história do audiovisual do que o estilista Reynolds Jeremiah Woodcock”. É assim que os críticos tentam obter notoriedade. Quando acertam na mosca, ótimo. Mas quando exageram, como foi o caso acima, perde-se credibilidade. Em todas as críticas, esses maneirismos se sobrepuseram a análise, de maneiras distintas.

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Algumas observações até que foram interessantes e úteis à compreensão, como a comparação de Alma ao personagem grego Pigmaleão. Outras nem tanto. Muitos apegaram as manias do protagonista, ou a rotina severa da Casa Woodcock. A mais patética delas foi a da revista Veja, que reduz as tensões da Casa Woodcock a um freudianismo barato (o protagonista fala em diversos momentos sobre a falta que sente da mãe, mas Paul Thomas Anderson não é tão ridiculamente óbvio assim), carregada dessa ótica feminista que parece pairar sobre praticamente todos os filmes indicados ao Oscar.
Se não bastasse tudo isso, a atriz Jeniffer Lawrence disse em uma entrevista que não aguentou nem 3 minutos de filme. “É sobre roupas? É sobre como Reynolds Woodcock é um sociopata narcisista e ele é um artista, então cada garota se apaixona porque ele se sente mal com ela e essa história de amor? Eu não vi tudo, então não sei. Passei por isso; sei como é, não preciso assistir a esse filme”, fazendo uma referência ao namoro com o cineasta Darren Aronofsky. Suas qualidades como atriz são questionáveis, mas sua capacidade de ser antipática poderia ser premiada com um Oscar.
Reconheço minhas limitações enquanto escritora e não são poucas. Pelo contrário, incomodam bastante e muito frequentemente chegam a ser paralisantes. Mas há algo que preciso dizer sobre esse filme: por que todos se colocaram tão distantes dos protagonistas? As pessoas que assistiram esses filmes são uns monges franciscanos, que nunca passaram por momentos de tensão com seus cônjuges? Será que nunca espionam o celular do marido/esposa, ou quando fazem comentários críticos ao outro em tom de piadinha na frente dos amigos? Nunca foram egoístas, querendo o outro para si contra a vontade dele? Nunca mentiram para encerrar um confronto, por mais fútil que fosse o motivo? São pessoas sem manias, nenhuma sequer, ou algum hábito que pode ser considerado estranho?
O que há de mais sombrio em Trama Fantasma é perceber que todos os relacionamentos carregam em si traços de “Alma e Woodcock”.
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