Meio Desligado – Heróis brasileiros
qua, 18 de outubro de 2017 05:21Era 4 de setembro de 2015. Francisco Erasmo Rodrigues de Lima morreu baleado, nas escadarias da Catedral da Sé. Muita gente filmava com o celular a cena que eu jamais vou esquecer. Um criminoso fez de refém uma senhora que rezava na Igreja. Francisco Erasmo. Alcóolatra, divorciado, ex-presidiário, morador de rua. Muita gente assistia, mas a coragem veio logo dele. Prendeu o cigarro na boca e pulou em cima do bandido. A senhora conseguiu escapar, enquanto ele, morreu. Na porta da igreja.
Foi um gesto de bravura daqueles que a gente pensa que não existe mais. Ainda mais comovente é pensar que apesar de ter uma vida tortuosa, sua partida foi tão nobre, nobreza essa que muitos morrem sem ter ou sem ver. E relembrando Renato Russo, Francisco Erasmo era santo porque sabia morrer. Até nome de santo ele tinha.
Dois anos e um dia depois, uma tragédia nos deixava atônitos. Não havia explicação, não havia lógica e nem porquê. O vigilante Damião Soares dos Santos ateou fogo na creche Gente Inocente, na pequena cidade mineira de Janaúba. Oito crianças morreram. Nesse episódio tão triste, o Brasil conheceu e se despediu da professora Helley de Abreu Batista, de 43 anos. A professora que se sacrificou para salvar a vida das crianças da creche. Ela entrou em luta com o vigilante. Testemunhas disseram que Helley evitou uma tragédia ainda maior.
Professora, mãe que deixou três filhos, esposa. Um lar que perdeu seu esteio para que outros lares fossem poupados. A professora foi velada com honras, em um translado em carro aberto do Corpo de Bombeiros, sob forte comoção de toda a cidade. “Ela se foi por salvar a vida das crianças. Acho que a missão dela era esta, salvar vidas. Mesmo sofrendo, tenho que aceitar. Foi por obra de Deus,” disse Luiz Carlos Batista, marido de Helley.
Essas são histórias que nos comovem e nos fazem resgatar a esperança, a vontade de sermos maiores. São exemplos para todos nós. Alguns se contentam com arremedos de heróis, mas os ponderados sabem que nossa história nacional é marcada justamente pela falta deles. Helley e Francisco não foram grandes chefes de estado, economistas ou generais. Mas nos ensinaram que o bem ainda existe, que ainda existe grandeza na Terra.
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