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Meio Desligado – Fimes do OSCAR: Brooklyn

qua, 17 de fevereiro de 2016 08:05

meio desligado

A jovem irlandesa Ellis Lacey (Saoirse Ronan) se muda de sua terra natal e vai morar em Brooklyn para tentar realizar seus sonhos. No início de sua jornada nos Estados Unidos, ela sente falta de sua casa, mas vai tentando se ajustar aos poucos até conhecer e se apaixonar por Tony (Emory Cohen), um bombeiro italiano. Logo, ela se encontra dividida entre dois países, entre o amor e o dever.

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Os Estados Unidos, assim como diversos países das Américas, representa uma grande massa formada por imigrantes de diversos países que convivem misturando suas culturas e compartilhando a falta que sentem dos seus locais de origem. “Brooklyn”, longa adaptado do livro homônimo do escritor irlandês Colm Toíbín, desenvolve a tentativa de adaptação da também irlandesa Elis na cultura estadunidense da década de cinquenta de maneira pálida e insossa ao desperdiçar suas diversas chances de emplacar um conflito interessante.

Ao passar sua introdução extremamente aborrecida pela falta de carisma de seus personagens ou capacidade de expor seus laços afetivos com diálogos orgânicos, a trama segue viagem em direção aos Estados Unidos, onde a mitologia criada e o desenvolvimento de um ambiente estranho para a tímida Elis consegue ser bem sucedida em sua proposta. A residência para moças comandada por Madge Kehoe (Julie Walters) resume de maneira inteligente e eficaz a repressão social sofrida pelas mulheres no meio do século passado (tema que será retomado ao longo do filme de maneira competente, porém superficial). Vale pontuar a interpretação divertidíssima de Walters que, utilizando uma seriedade exagerada, firme e punitiva, gera comicidade ao se contrapor com suas outras inquilinas mais permissivas.

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A direção de arte de “Brooklyn” trabalha de forma coerente com a narrativa, e o verde, cor símbolo da Irlanda, é visto com bastante frequência nas roupas de Elis em sua fase de adaptação, um reflexo de sua mente e coração que não conseguiram se desvincular de suas origens. Assim, a estabilização da personagem como verdadeira cidadã novaiorquina fica ainda mais palpável à medida em que o verde é deixado de lado para que tons de vermelho e rosa sejam introduzidos de forma predominante com a inserção de seu interesse romântico. A própria cidade começa a ser vista com outros olhos e a luz do dia começa a valorizar mais intensamente o colorido da cidade em lugar dos tons escuros de marrom que predominavam suas cenas iniciais. Interessante pontuar sobre a luz usada de maneira lúdica, quase fugindo o realismo que envolve o filme. Em dois momentos, a presença da luz demarca a importância do momento como chaves nas constantes mudanças sofridas por Elis. Em sua primeira entrada nos EUA, Elis passa pelo centro do quadro ao meio de portões que permitem o vazamento de uma luz estourada, fazendo com que a personagem suma ao passar para a “Terra da Iluminação”, quase como um portal místico, um outro mundo. Uma utilização clichê, mas funcional e condizente ao estilo do longa. Em sua conclusão, Elis, apoiada em um muro, como se tivesse acabado de descer dele após a decisão final que acabara de tomar, recebe feixes de luz diretamente sob seu corpo, uma demonstração que não é mais sobre o lugar, mas é ela que está iluminada, consciente do futuro que pretende traçar.

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Infelizmente, o filme não se aprofunda em seus conflitos e passa por situações de grande potencial com a mesma superficialidade em que mergulha seus coadjuvantes. Tony, seu namorado italiano, se esforça para fugir do estereótipo que marca sua família, mas não consegue ser totalmente tridimensional. O flerte com o irlandês Jim, fruto de uma viagem de volta às origens, tem dificuldade em convencer pelo uso de situações tão comuns à de comédias românticas da pior qualidade. O interessante sim, é como ela é cortada rapidamente em função do moralismo social, e a conversa com Miss Kelly, sua antiga patroa, que a julga e ameaça pelo possível adultério, surge como um dos poucos momentos onde uma discussão interessante começa a ser lapidada. Pena que sua projeção esteja quase no fim quando ela chega.

Coeso e tecnicamente capaz, “Brooklyn” desempolga em seu arco dramático, em seu tema e é trágico em seus diálogos. Há um respiro de satisfação em seus momentos de silêncio, onde os olhares da atriz Saoirse Ronan chamam atenção para uma interpretação sutil e delicada, cheia de camadas em seus movimentos tímidos e calculados. Um trabalho competente em um filme tão instável quanto o emocional de sua protagonista.

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