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Ficha Técnica – Vila Olímpica ou Casa da Mãe Joana?

qua, 27 de julho de 2016 05:09

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Caixas de papelão, plásticos e objetos espalhados. Não tem água quente, o sistema de esgoto não funciona e os banheiros estão imundos. Cadê a tampa do vaso sanitário? Furtaram. Problemas nas trancas e fechaduras. Vazamentos no teto e na parede formam poças em torno de cabos e fios expostos no chão. Impera um forte cheiro de gás. Insalubre, nocivo, inabitável, dizem que teve até curto circuito. Poderia ser o relato de uma aguerrida família brasileira, mas eram estrangeiros conhecendo a Vila Olímpica do Rio de Janeiro.

Protesto em alusão a ‘operação de limpeza’ da Baía de Guanabara, no Rio *Rio Real

Protesto em alusão a ‘operação de limpeza’ da Baía de Guanabara, no Rio
(Foto Rio Real)

 

Lembro das lágrimas de Maurren Maggi em 2008, dois anos depois de retornar ao esporte para ser a primeira campeã olímpica brasileira numa modalidade individual e atleta do país a faturar o ouro no atletismo olímpico, desde Joaquim Cruz, em Los Angeles, 1984. Jamais esquecerei as chuteiras pretas de Marta, que davam uma aula gratuita de futebol para as alemãs. Dos recordes na natação ou de quando o Brasil se tornou o país do vôlei. Memórias que apenas a Olimpíada há de proporcionar, mas confesso que ainda padeço.

Assim como as lágrimas de vitória e superação de quem um dia subiu ao pódio, o choro de famílias israelenses também emana de uma das páginas mais tristes da história olímpica. Quando na segunda semana dos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972, terroristas invadiram a vila olímpica e tiraram a vida de 17 pessoas, sendo elas seis treinadores e cinco atletas de Israel. Um erro fatal, de falta de organização, que fez de um alojamento esportivo um cenário de massacre.

Hoje, como não se preocupar com delegações estrangeiras deixando a Vila Olímpica em táxis rumo a condomínios às vésperas dos Jogos do Rio? Relatos de vandalismo e até furtos de chuveiros e torneiras, sem contar a poluição das ‘águas olímpicas’ da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Seguindo a lei do – “Nada é tão ruim que não possa piorar” – o diretor de Comunicação do comitê organizador, Mário Andrada, respondeu dizendo que – “Do ponto de vista prático, não há quem não tenha recebido um imóvel novo, ou mesmo um carro novo, sem algum problema”.

De fato, a desordem, a insegurança e o descaso encontrados por britânicos, suecos, italianos, espanhóis, portugueses, australianos e tantos outros são apenas cicatrizes de um país que despeja os próprios filhos de suas casas em prol de um investimento estrangeiro. De um governo que mata com suas obras astronômicas para inglês ver, mareja o olhar de emoção diante de um piso de porcelanato e fecha os olhos para o revestimento de uma casa de papelão. De um anfitrião, que faz da própria Vila Olímpica uma típica Casa da Mãe Joana.

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