Didico, se não existisse, teria sido inventado. Com aura de batalhador, nasceu em uma das favelas mais perigosas da cidade. O ano era 1982. Enquanto uma seleção dos sonhos abrilhantava o mundo com Zico, Sócrates e companhia, o garoto ganhava seu pedacinho de chão no morro de fantasias. Gostava de danone, mas mesmo descalço, não desperdiçava sequer uma pelada de gente grande.

Mal alcançou a maioridade, Didico foi convidado a vestir a camisa da seleção. Era a nova esperança do seu time de coração, cujo ritmo batia forte como um pequeno guerreiro. Aventureiro.Por sua habilidade com os pés, conheceu a Europa. Trocou a camisa desbotada por Dudalina, Armani e Prada. As noites sombrias no barraco por dias de glória em diferentes palcos. Os pés descalços por chuteiras de ouro e danones importados.

Na Itália, Didico conheceu Florença e Parma, até se tornar imperador em Milão. Era o novo ídolo da camisa que um dia foi da lenda Giuseppe Meazza. Entre idas e vindas nas manchetes de jornais, tinha a vida e os treinos tratados como alvos alheios. Não era um santo, mas ainda o viam como Deus. Com o tempo, uma neblina tomou o céu de sua casa. Não havia outra saída senão se render ao temporal. Em um vôo silencioso, retornou de vez para a terra natal, onde logo seria ícone em seu quintal.

Momento de desabafo do imperador Didico no Flamengo

Didico era de dia, mas também de noite. A notícia mais vendida na porta de casa. Chegou a ser dado como morto após dias de sumiço na Europa, até aparecer com sua família na favela onde nasceu. Suas origens nunca foram esquecidas, e seus passos jamais eram em vão. Aprendeu a ser líder como Javier Zanetti,valente como Roberto Carlos, e inapelável como Gabriel Batistuta. Ensinou Ibrahimovic, e foi colega de trabalho de Ronaldo, pentacampeão mundial nos tempos de seus 20 e poucos anos.

Hoje acordei com saudade de Didico. O imperador que era tratado como Deus. A canhota que mais parecia um canhão. O salvador da pátria na Copa América de 2004. O garoto que era tão alegre que até seu nascimento foi em pleno Carnaval. O homem que sentou no banco dos réus da família brasileira, e que antes do apito final do juiz, clamou – “Que Deus perdoe essas pessoas ruins”.