Ficha Técnica – Muito mais que um jogo
qua, 6 de janeiro de 2016 08:15
Não foi só uma vez que o cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues alertou – “O pior cego é o míope, e pior que o míope é quem enxerga bem, mas não entende o que enxerga”. Nos últimos anos, não apenas a miopia, como essa frase também angariou sobre cada passo que percorri. E foi num deles que percebi que nem tudo está perdido. Ao menos, para quem procura ampliar o campo de visão.
Tarde de 19 de junho de 2014. Enquanto parte dos brasileiros aproveitava a folga do feriado de Corpus Christi, ingleses e uruguaios iniciavam uma batalha na Arena Corinthians pela sobrevivência na Copa do Mundo. Para os sul-americanos, bastaria menos de 45 minutos para despachar os combatentes da rainha, mas aos 39 do primeiro tempo, um lance chamaria a atenção.
Naquele dia, Luís Suárez, maior goleador da história do país, faria sua estreia pelo mundial, menos de um mês depois de ser submetido a uma cirurgia de menisco – o que era para ser recuperado em 60 dias, ocorreu em 28. Foi reverenciado como herói pelos dois gols marcados, mas logo no primeiro não se conteve. Enquanto os ingleses ainda lamentavam, correu sob lágrimas de dor e alegria rumo à beira do campo. Sabia muito bem para onde apontar no banco de reservas. Abriu os braços e em prantos, beijou a cabeça branca de um rapaz. Queria que o mundo soubesse que lá estava Walter Ferreira.

Luís Suárez, Walter Ferreira e uma relação que ultrapassa as quatro linhas
Aos 63 anos, Walter era o fisioterapeuta da delegação uruguaia. Por décadas, foi o preferido de grandes ídolos do país, como o “El Prinicipito” Ruben Sosa, Alvaro Recoba e Enzo Francescoli, que até deixavam a Europa para se cuidar com o profissional. Mas naquele dia, quando Suárez balançou as redes adversárias, ele comemorou como se o gol tivesse suas mãos. Vítima de um câncer, decidiu trocar as sessões de quimioterapia para curar o joelho do atacante. Interrompeu o tratamento e, com a mobilidade limitada, chegou a abrir as portas da sua casa para entregar o uruguaio pronto dias depois no mundial.
A seleção celeste ainda cairia para a Colômbia na fase seguinte, mas aquele 19 de junho ficaria eternizado. No último domingo, entre os abalos sísmicos provocados pela ressaca e as lembranças dos votos que fiz para 2016, um noticiário de esportes trazia um luto. Aos 64 anos, Walter Ferreira perdeu o jogo para o câncer. Ali, não havia elefantes brancos, padronizados com obras faraônicas e legados feito contos de fadas. Em tempos de sequestro do futebol, percebi que ainda existe quem entrega a vida por ele. E ainda dizem que é apenas um jogo.
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