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Ficha Técnica – Cultive paciência

qua, 12 de agosto de 2015 08:01

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“Quanta prepotência querer te mudar, se eu não consigo mudar a mim mesmo. Quando sem querer eu te influenciar, sei que dos passos esse é o primeiro”. A frase, escrita por um autor desconhecido, me veio enquanto perambulava pela rua Itumbiara, no bairro Nossa Senhora Aparecida, em Uberlândia. Poderia ser outro mero clichê ventilado a céu aberto, não fossem as surpresas que me reservavam a metros dali.

Naquele dia, decidi abdicar dos ônibus e de todos os santos para descer a ladeira a pé depois do expediente. Sob o atrevido Sol de inverno, fui surpreendido por um rapaz maltrapilho, que logo se aproximou numa bicicleta. Confesso que apressei o passo, numa mistura de medo e pré-conceito, mas foi em vão. Em seguida, ele me indagou – “Tenho 40 anos, você acredita que ainda consigo entrar numa faculdade e me formar em Direito?”

Aquela pergunta me encurralaria durante toda a semana. Depois do susto e de uma breve conversa, o rapaz desceu da bicicleta e lançou-me um abraço. “Obrigado pelas palavras, Deus te abençoe”, disse antes de se despedir. A verdade é que às vezes, o mínimo que precisamos é de um empurrão para seguir em frente. Seja no expediente que não termina, no ônibus que não passa ou no jogo que o árbitro estranhamente indicou sete minutos de acréscimo.

Karolina Cordeiro e “Pedroca”, nomes que fazem acreditar (Divulgação)

Karolina Cordeiro e “Pedroca”, nomes que fazem acreditar (Divulgação)

 

É da força de vontade que nascem as melhores histórias. Nomes como a uberlandense Karolina Cordeiro, que na corrida encontrou um novo caminho ao lado de seu filho “Pedroca”, diagnosticado com uma doença rara. Do pentacampeão Ronaldo Fenômeno a Douglas, campeão da última Liga dos Campeões da Europa pelo Barcelona após ser renegado no São Paulo. Tanto no esporte quanto fora dele. Cultive paciência.

Eduardo Galeano dizia que, quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar. Se não fossem por nomes como esses, não teria no que apoiar quando aquele rapaz, consumido pelas experiências da vida, parou-me na rua para perguntar sobre seu futuro. Em tempos em que encontro banana e mexerica descascadas quando vou ao mercado, dispenso livros de autoajuda, mas ainda prefiro em qualquer esquina conjugar o verbo acreditar.

2 Comentários

  1. Ale Souza disse:

    Belíssimas palavras. Parabéns

  2. Fernanda Beraldo disse:

    PJ!
    Parabéns pelo texto. É certo que temos motivos para continuar, não é mesmo!!!
    Grande abraço, Fer.

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