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“Fernando is faster than you”

qui, 21 de agosto de 2014 00:01

Abertura Treino Livre
Alô amigos, com o título acima iniciamos uma análise sobre o controvertido tema das ordens de equipe, que sempre foram, são e serão polêmicas.

Essas ordens de equipe estão presentes em toda a história da F1, pois nos idos de 1955 a Mercedes ordenou a Juan Manuel Fangio que cedesse o primeiro lugar para seu companheiro de equipe Stirling Moss. Fangio obedeceu e chegou em segundo lugar a apenas um segundo de seu companheiro, na prova de Silverstone daquela temporada.

Em 1964, Lorenzo Bandini cedeu seu lugar a John Surtees, que chegando em segundo (Bandini foi o terceiro) conseguiu pontos suficientes para vencer o campeonato daquele ano, que teve como vice Grahan Hill. Coincidência ou não o carro de Hill foi acertado por Bandini, e deixou a prova. Para não alongarmos muito vamos lembrar algumas dessas ordens. 1979, GP da Alemanha, a Williams instrui Clay Regazoni a não ultrapassar a Alan Jones, primeiro piloto da equipe. 1981, GP do Brasil, Carlos Reutemann ignora a ordem da equipe e ultrapassa Alan Jones. Essa atitude resultou numa longa disputa entre os dois pilotos, com o argentino perdendo o campeonato mundial por apenas 1 ponto para Nelson Piquet da Brabham. 1982, GP da França, Rene Arnoux se recusa a ceder o seu lugar para Alain Prost e é demitido da Renault no final da temporada.

O auge de tais ordens foi o Grande prêmio da Aústria em 2002, quando depois de dominar todo o final de semana (pole position, volta mais rápida, e liderar toda a prova) Barrichello recebe ordens da Ferrari para deixar Schumacher passar, e faz isso na última volta, na linha de chegada. Total constrangimento para todos espectadores, Schumacher, com grande repercussão. Sobre o fato Barrichello disse: “Foram oito voltas de guerra. É muito raro eu perder a paciência, mas estava gritando no rádio. Continuei indo até o final, dizendo que não o deixaria passar. Foi quando eles disseram algo a respeito de uma coisa muito mais ampla. Não era em relação ao contrato. Não posso revelar o que eles disseram, mas foi uma forma de ameaça que me fez repensar minha vida, porque a grande alegria para mim era pilotar.”

Feito esse histórico, passo a analisar a questão, e deixo bem claro que trata-se do meu ponto de vista e minha opinião, portanto passível de discordância.

Jogo de equipe acaba com toda a graça e alegria do esporte, pois ninguém entra para ser segundo, e você andando em um carro a quase 300 km/h, liderando ou ocupando outra posição, o que você menos irá querer é ceder seu lugar para seu companheiro de equipe. Perder uma prova por um abandono, pneu furado, ou qualquer outro motivo, frustra qualquer piloto, mas com o tempo supera-se esse sentimento, afinal faz parte do jogo, e todos sabem disso, mas receber uma ordem para ignorar seu trabalho e deixar alguém passar, isso sim é insuperável, e pode perguntar a qualquer piloto, que invariavelmente a resposta, mesmo sendo a politicamente correta virá carregada da frustração e impotência de nada poder fazer.

O caso mais recente ocorreu na Mercedes entre Rosberg e Hamilton, onde a guerra foi declarada entre os dois pilotos, e a equipe alemã terá essa rivalidade interna, com os ânimos acirrados, para resolver e chegar ao campeonato de pilotos, pois o campeonato de equipes, não creio, que vá perder, pois a diferença de pontos ainda é muito grande para o segundo colocado — 179 pontos, mas se a “guerra” se acirrar pode inclusive perder este campeonato.

Concluindo, acho moral e eticamente detestável esse jogo de equipe, mas nos tempos em que vivemos, com a força dos interesses econômicos, o esporte cede cada vez mais espaço para os negócios e o grande ideal de que o que importa é competir vai deixando cada vez mais espaço para o “vencer a qualquer preço”, pois “o espetáculo não pode parar”.

E é isso o que a F1 é: um espetáculo para ser visto, como o é o futebol, o circo, e mesmo a própria violência que graças aos telefones que tudo filmam e jogam nas redes sociais, também se banalizou e faz parte do “espetáculo da vida”.

George Orwell tinha razão em 1984, só não imaginou aonde chegaríamos…

Até a semana que vem!

* Advogado, fã da Fórmula 1 desde 1970, e apaixonado pela Ferrari

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