Conheça toda história e curiosidades da Santa Casa de Misericórdia ao longo dos seus 98 anos
qui, 4 de agosto de 2016 05:30por Adriano Souza / Arquivo Histórico e Museu Dr. Calil Porto
No último dia 1 de agosto, a Santa Casa de Misericórdia completou 98 anos de existência. Com isso, a reportagem da Gazeta do Triângulo faz o registro do quase centenário hospital de Araguari. A denominação “Santa Casa de Misericórdia” teve origem em Portugal, no final do século XV, com a formação de uma irmandade leiga, idealizada por Frei Miguel de Contreiras. No Brasil a história das “santas casas”, remonta ao século XVI, com a criação dos primeiros núcleos seguindo os moldes de Lisboa, ou seja, o atendimento a pacientes sem recursos financeiros, sem moradia, sem família ou recém-chegados ao país. A entidade filantrópica Santa Casa de Misericórdia, que ampara as famílias araguarinas, proporcionando assistência médica, clínica e cirúrgica durante quase um século, iniciou seu processo de instalação em Araguary no ano de 1914.
Os trâmites desta efetivação foram principiados por cidadãos participantes de um grupo de beneficência, que resolveram fundar uma unidade hospitalar que suprisse a demanda, diante de um panorama de poucos médicos e saúde delegada a remédios caseiros e farmacêuticos. A Sociedade de Beneficência, representada pelo secretário da agremiação, Dr. Delermando Cardoso, solicitou ao poder municipal um terreno escolhido entre a avenida 2 , atual rua Joaquim Carvalho Soares e as ruas 34, 41e 50, sendo o mesmo concedido em 1914 e posteriormente demarcado.
Segundo o Estatuto da Santa Casa de Misericórdia de Araguary, datado de 15 de outubro de 1916, a entidade recém-criada objetivava: “Art.1o. …construcção de um estabelecimento de caridade, no qual serão recebidos para tratamento: 1o. os mendigos, gratuitamente; assim como os sócios que recorrerem à dita associação; 2o. os enfermos não mendigos, mediante pagamento estipulado. Art. 2o. A Associação promoverá subscripções, kermesses, espectáculos, donativos e qualquer outro meio adequado, para a conseccução do seus fins…”. A instituição médica foi concretizada em 1918, quando iniciou suas atividades ao dia 8 de agosto.
Alguns nomes da filantropia em Araguari, que idealizaram e ou apoiaram a instituição foram: Dona Mariquinha de Godoy, Lindolpho Rodrigues da Cunha, Monsenhor Manoel Fleury Curado, Padre Lafayette de Godoy, Moizes Rodrigues Alves, Adalardo Cunha, José Ferreira Alves, Hamilton de Lima, Marciano Santos e outros. Concomitantemente ao desenvolvimento da Santa Casa, outra instituição foi formatada em anexo, o “Azilo Nossa Senhora do Rosário”, denominado mais tarde, Nossa Senhora Aparecida. Entretanto, o nome mais conhecido, era Asilo D. Mariquinha, em homenagem a sua fundadora, que conjuntamente a seu esposo construiu o prédio da casa de idosos. Em regime de internato para carentes, o local de repouso funcionou por algumas décadas, sendo posteriormente transformado em ala de maternidade da Santa Casa.
Sem fins lucrativos, a Santa Casa de Misericórdia, desde os primórdios tempos de funcionamento foi sustentada com ajuda financeira de particulares e do poder público.
Os chamados donativos avulsos foram um capítulo a parte na história do estabelecimento. Os moradores da cidade de origem e com economia embasada nos ganhos rurais, amparavam as iniciativas beneméritas e contribuíam conforme sua renda, assim, os benefícios chegavam na forma de papel moeda ou na maior parte das vezes, em produtos agrícolas e pecuários. No ano de 1932, no mês de maio o balanço a entidade apontou as doações: – João Rodrigues da Cunha Borges, 1% do resultado geral de sua próxima colheita de arroz; Eduardo Rodrigues da Cunha Neto, 1% da colheita de arroz e um porco gordo; Belisario Rodrigues da Cunha, 12 sacas de arroz em casca; Heráclito Wandenkolk, um alqueire de farinha de mandioca e metade de um porco de 4 arrobas; Empresa Força e Luz de Araguari, quitação de recibo de energia do mês de maio; Póvoa & Irmão, 40 quilos de macarrão; Inhozinho Vilela, duas sacas de arroz em casca e Bernardo Rodrigues da Cunha, treze sacas de arroz em casca.
As campanhas pró-Santa Casa eram e ainda são, intermináveis, pois conquistando uma meta, imediatamente o provedor e seus diretores empenham-se em uma nova empreitada. No ano de 1936, folhas de um livro de donativos revelam a motivação de melhoramentos na construção de novas salas para operação e esterilização, aquisição de material cirúrgico etc. Encabeça a lista o nome do Padre Lafayette José de Godoy, com o valor doado de 4.000$000 contos de réis, seguido de Antonio Lemos Filho, Prefeitura Municipal de Araguari, Nicolau Dorazio, Belchior de Godoy, Joaquim Rodrigues de Carvalho, Maria Cândida de Godoy (Mariquinha), Justino Carvalho e muitos outros.
Firmada como instituição de ajuda a pessoas carentes, a Santa Casa atraiu inúmeros consulentes de outras cidades da região, tanto mineiros quanto goianos. Os municípios beneficiados, muitas vezes foram convidados a contribuir com a instituição, no entanto, o apelo na maioria delas não foi atendido. Durante anos, a Santa Casa sobreviveu no limite da precariedade econômica, mas buscou amparar aqueles que necessitavam de cuidados. Nos anos de 1940, nova etapa do conglomerado médico foi iniciada, integrando o complexo uma sala de esterilização e uma de operações cirúrgicas. A Santa Casa apresentava além dos leitos, farmácia, cozinha, lavanderia e vasto pomar e horta. A Casa, tentava empreender uma imagem de ordem e higiene, tendo a colaboração da afetuosa enfermeira Dona Nenê.
Para aparelhar as novas salas foi efetuada uma campanha junto à comunidade na busca por doações que suprissem a dívida de 44:380$000 contos de réis. No ano de 1941, a visita e os elogios do Dr. Mario Mendes Campos, professor da unidade de patologia geral da Universidade de Medicina da Minas Gerais e Diretor Chefe da Saúde Pública do Estado, foi muito relevante para a instituição que buscava fundos para concluir as novas obras. No ano de 1942, a diretoria constituída pelo provedor Eufrozino de Oliveira e pelos membros Hortêncio Machado, Joaquim Magalhães Filho, Naphtali Vieira, Odilon Paes de Almeida e Assad Saad, conquistou na gestão do prefeito Dr. Joseh Jehovah Santos, uma verba de 20:000$000 contos de réis, a título de subvenção. Nesse período, a Santa Casa contava também com um auxílio Federal de 10:000$000 contos de réis.
Nessa época, a Santa Casa era detentora de vários imóveis nas imediações da instituição, totalizando em espécime um patrimônio avaliado em 265:000$000 contos de réis, todos originários de doações da sociedade araguarina. Na década de 1960, a instituição médica ansiava por melhorias e inúmeros apelos foram efetuados via imprensa escrita, a favor de subsídios financeiros. A prática de atendimento humanitário propagava-se entre os trabalhadores da área de saúde, no entanto, a carência de equipamentos, medicamentos e das instalações minavam a tranquilidade da população e dos servidores. Alguns dos problemas diagnosticados nesse período, foram a falta de um condutor de doentes: ambulância; aparelhos estragados, como o de raio X; UTI inexistente; e parte da maternidade não contava com leitos e mobiliários adequados ao funcionamento.
Mesmo com todos os problemas estruturais, em 1969, uma cirurgia delicada e inédita foi realizada nas dependências da instituição, sendo muito comentada e elogiada. O ato denominado “extrofia vesical e epispadia” foi efetuado em uma criança com 4 anos de idade, operada pelo médico Dr. Moisés de Carvalho Alves. A intervenção consistiu na constituição de uma bexiga, utilizando parte do órgão original lesionado, devido a deficiência congênita. Contando com pleno êxito, o procedimento foi abordado em reunião da Associação Médica de Araguari, dando prestigio a instituição e a equipe médica. No ano de 1971, a Santa Casa passou por melhorias, resultando em renovação de equipamentos e instalações. A Diretoria executiva era composta por Dr. Marcílio Fernandes de Oliveira, diretor clínico Dr. Moysés de Carvalho Alves, diretor técnico Dr. Andersen da Silva, secretário geral Abdala Mameri e administrando a parte interna, as Irmãs do Sagrado Coração de Maria, destaque para a incansável enfermeira Irmã Gony.
Reforma mais ampla foi diagnosticada no ano de 1973, sob a provedoria do Dr. Andersen Lemos da Silva, vice-provedor Dr. Antonio Sidney Arantes, quando a antiga fachada foi remodelada, extraindo os muros, projetando um estacionamento e construindo novo acesso por meio de rampa. Outras melhorias foram a construção de nova sala cirúrgica, remodelação de quartos e enfermaria, além da contratação de enfermeiras diplomadas. Mais uma vez, a ajuda da população foi imprescindível para executar as obras, com convênios do FUNRURAL, INPS, LBV e recursos da Prefeitura, entidades e da própria instituição.
No ano de 2004, grandes melhorias foram conquistadas pela entidade, com verba originária do Sistema Único de Saúde, foram gastos a quantia de 180 mil reais, com a construção e reforma de consultórios, centro cirúrgico e esterilização, apartamentos e quartos, posto de atendimento, leitos de alojamento para atendimento materno-infantil e berçário, salas administrativas e recepção. Findadas as reformas com inauguração no mês de novembro, os mantenedores mobilizaram-se para uma nova jornada, a edificação de uma UTI neo-natal, inexistente no município e na região. Em parceria com a secretaria municipal de Saúde a entidade conseguiu verba estadual orçada em cerca 390 mil reais, oriunda do projeto “Viva Vida” e a nível municipal o projeto “Amigos da Santa Casa”, conclamou a população em geral, empresários, representantes do poder publico, entidades e associações de classe, para efetivarem sua colaboração em prol do objetivo mútuo.
O projeto executado com a quantia de 350 mil reais, em uma área de 420 m2, composto de 10 leitos de UTI, sendo 8 neonatos e 2 pediátricos; 4 CTI; 5 leitos de estadia, 2 leitos para crianças maiores, foi inaugurado em 23 de setembro de 2005. Na oportunidade, a prefeitura municipal firmou termo de compromisso de auxílio mensal de 20 mil reais, para fins de despesas da instituição.
Posteriormente, a UNIPAC- Universidade Presidente Antônio Carlos, campus Araguari, firmou contrato de parceria com a Santa Casa de Misericórdia, visando a utilização da entidade como Hospital Escola para o curso de medicina, subsidiando também outros cursos da área de saúde. Esta parceria resultou em melhorias das instalações físicas orçadas em 120 mil reais e um projeto a ser executado de modernização e renovação de aparelhagens.
Paralelamente, a Santa Casa construiu um novo refeitório, dispensa e está remodelando toda a fachada do prédio. Às vezes discriminada ao longo dos anos, a Santa Casa de Misericórdia está conseguindo empreender um padrão de atendimento elevado, classificado satisfatoriamente pela população. Os investimentos do SUS, Sistema Único de Saúde, aliados a diretoria comprometida com o bem estar da população, capitaneada desde o ano de 2002 pelo provedor Dr. Alfredo Paroneto, alavancou a instituição, que contará em breve com a realização de 100% das obras de reformas impetradas neste ano. Investindo no atendimento particular a preços módicos, a instituição com suas modernas instalações gera orgulho nas famílias dos primeiros idealizadores.
Fonte: Estatuto da Santa Casa de Misericórdia de Araguary, de 15/10/1916.
Jornal Gazeta do Triângulo- 26/01/1941; 22/01/1969; 06/07/1969; 10/07/1969;29/01/1969; 24/09/1978; 23/12/2004; 14/09/2005; 24/09/2005; 30-31-01/09/2008.
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Parabéns,mas por que motivo ficou devendo o diretor Medico Paroneno?
Só deixou no ar quem estava atuando ou se ele não teve esse cargo.
E deveria falar quem saõ os gestores na data atual.
Sensacional!!!
Mariquinha e Lindolpho, meus Trisavós!!!
Fui morador de Araguari até 1998 quando mudei para a cidade vizinha de Uberlândia-MG
Gravo excelentes recordações da Santa Casa de Misericórdia, onde já fui assistido com consultas
e internações. Aí já fiz, por diversas vezes doação de sangue, beneficiando pessoas internadas
com graves doenças.
Uberlândia-MG, 31 de março de 2020.
Romildo Alves da Silva