Ficha Técnica – A epopeia tricolor, de Josiel a Vitor Feijão
qua, 22 de novembro de 2017 05:5719 de Julho de 2007. Há dez anos, uma apoteose dignificava o mais puro dos sentidos de um encontro. O doce sabor do inesperado, da discrepância daquilo que se vê e sente, do olhar atônito e das preces de agradecimento e súplica enviadas para o céu. Até aquela quinta-feira, o mais árduo calor humano pertencia a uma final de interescolar no Ginásio Poliesportivo de Araguari, lugar que seria extinto da vida de todos ao longo da década que se aproximava, não fosse a memória fotográfica que nos privilegia. Naquela noite, o destino era outro, mais precisamente a 29 quilômetros dali. Uma jornada infinita trilhada com frio na barriga e um gole de ilusão.
Preparei-me para aquela noite como um adolescente apruma-se para um primeiro encontro. Enverguei o manto desbotado de outrora e aguardei a carona de Priscila e Leandro, casal de primos torcedores de longa data. Nessa época, a desconfiança bate à porta com certos tipos de promessas, mas esta soava diferente. Não era a última geração da Cybershot, tampouco a mais nova linha do PlayStation, ou uma declaração por depoimento de Orkut. Ali, aprendi que grandes momentos se constroem com o mínimo dedicado de cada um. Avenida José Roberto Migliorini, bairro Santa Mônica, Uberlândia, chegamos ao destino final.
Naquele ano, o mais soberano dos corruptos no futebol, João Havelange, ainda ostentava o nome no Estádio do Parque do Sabiá. Sem ter nada com isso, milhares de torcedores ocuparam as arquibancadas para acompanhar Flamengo e Paraná pela 12a rodada do Campeonato Brasileiro. Sob o comando de Ney Franco, os cariocas chegaram a Uberlândia pressionados pela zona de rebaixamento e um tanto carentes de heróis a seguir. Bruno, Léo Moura, Juan, Jailton, Renato Augusto, Souza caveirão e Obina eram alguns dos nomes entoados até os 27 minutos da primeira etapa, quando Josiel, artilheiro do campeonato, assinalou dois gols, um deles com uma gentileza de Rodrigo Arroz, zagueiro rubro-negro. Tudo construído numa fração de dois minutos.
Os cariocas ainda diminuíram o placar com Léo Medeiros, mas não foi suficiente. O Paraná afundava o Flamengo em crise e saltava para a quinta posição na tabela. Com um esquema montado com três defensores, cinco meias e dois atacantes, aquela foi a despedida do técnico Pintado no comando do time tricolor. O treinador foi trabalhar nos Emirados Árabes, de onde viu o ex-time se perder. O resultado desfavorável pouco interferiu no meu encanto, ainda que minha primeira partida em um estádio houvesse decidida por Josiel. “Se todas as batalhas dos homens se dessem apenas nos campos de futebol, quão belas seriam as guerras”, resumiu certa feita o escritor Augusto Branco.
O ano de 2017 terminou com o brasileiro Kaká como o último jogador diferente de Messi e Cristiano Ronaldo a ser eleito o melhor do mundo. Nos cinemas, Tropa de Elite era campeão de bilheteria, enquanto o Paraná de Josiel se despedia dos campos da primeira divisão. Uma queda do quinto andar para o penúltimo na temporada. Dez anos depois, o time garantiu o retorno à elite nacional ao vencer o CRB no sábado (18). Em 2018, o tricolor de Renatinho, Zezinho, Alemão, Robson e Vitor Feijão voltará a desfilar suas cores pelos gramados da elite nacional. Uma epopeia construída ao longo de várias idas e vindas no imaginário coletivo dos torcedores, feito um velho sonho de infância.
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