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Coluna: Furando a Bolha (26/11)

sex, 26 de novembro de 2021 09:32

EDUCAÇÃO, EDUCARE, AD AETERNUM

 

por Leandro Alves de Melo

Eu sei, é um clichê e todos estão cansados de ouvir essa premissa: de que a educação é o principal motor capaz de nos libertar das eternas crises e problemas histórico-dialéticos pelos quais passamos.

Por que, apesar de todos esses anos de discussão, a sociedade brasileira ou sua elite política ainda não compreendeu a importância desse instrumento indispensável para o crescimento de uma nação?

Será que as classes mais abastadas realmente têm um projeto de exclusão ou são tão rastaqueras ao ponto de nem saberem disso?

Educação, que vem do latim Educare, significa, em poucas palavras, extrair para fora. Ou seja, é a forma de preparação para o sujeito compreender sua realidade. E por isso precisa de um mentor, professor, que o mostre as coisas de uma outra perspectiva.

Historicamente, o Brasil tem um problema crônico nessa área. Apenas nas últimas décadas conseguimos diminuir o analfabetismo. E apesar de certa evolução, hoje ainda temos milhões de semianalfabetos que não conseguem ler e compreender um texto mais elaborado.

Arrisco a dizer: você, leitor que me acompanha, está um passo à frente da grande maioria da população brasileira. Ao dispensar alguns minutos do seu dia me lendo, mesmo não concordando com os argumentos aqui postos, mostra-se interessado ou disposto a aprender e rever algum ponto de vista, ou não, a depender de sua visão de mundo. Contudo, tem o privilégio, por meio de diferentes fontes de pesquisa, trabalhar sua educação.

No primeiro texto dessa coluna fiz um aceno aos meus professores, desde os da tenra idade até os atuais. Compreendo que o sistema educacional foi revolucionado pela tecnologia. Lembro-me quando era criança ter de ir à biblioteca municipal para consultar os livros e pesquisar sobre determinado assunto. Hoje o conteúdo está à mão de qualquer um. Porém, mesmo com tanta informação à disposição, a desinformação se multiplicou da mesma maneira, e exponencialmente. Criando assim novos desafios e a necessidade inevitável de atualizarmos nossas crenças e metas.

Hoje compreendemos a imprescindibilidade de uma integração simbiótica entre as tecnologias e o ensino. O método analógico ainda é utilizado na maioria das escolas brasileiras, está completamente defasado. Devemos ensinar o educando a não apenas decorar, mas a pensar e compreender os conteúdos programáticos em sua essência.

Entendo, como diz o sociólogo Jesse de Souza, entre outros, que a elite política tem um projeto de desinformação, entretanto, vendo o despreparo intelectual de grande parte dela, duvido um pouco dessa afirmação. Uma elite rastaquera, e mesmo com dinheiro e acesso aos melhores sistemas de ensino ainda cai em fake news infantis, é capaz de eleger pessoas completamente despreparadas para cargos eletivos, pessoas essas sem capacidade de administrarem um boteco de esquina e alçados, por muitos, como salvadores da pátria ou mito.

Não vejo essa capacidade intelectual nem mesmo de planejar com certo discernimento o programa deliberado. Tudo me parece ser fruto de uma improvisação tremenda. O Brasil é o país que tem uma das menores taxas de leitura per capita no mundo. Não é voltívolo dizer que a sociedade brasileira está passando por um processo de emburrecimento, independentemente da classe social. Fenômenos como Tik Tok apenas aceleram o esgarçamento do raciocínio, comprimido a cada vez mais no tempo, sem espaço para maiores teorizações. Sucesso é fazer uma dancinha esdrúxula, parecendo um macaco adestrado em frente à tela. Onde isso vai parar?

No campo político, basta ver quem é o nosso secretário da cultura, um ex-ator fracassado de Malhação que nunca contribuiu absolutamente com nada em relação a essa área.

Nossa classe média acredita ser chique e cult ir para Miami gastar seu dinheiro com bugigangas, mas esquece que países como Coreia do Sul e Japão ressurgiram das cinzas graças ao investimento maciço e milagroso nessa esfera. Se você viu o filme Parasita, a série Round 6, ou já ouviu algo do gênero K-pop, tudo isso nada mais é que um produto cultural muito bem elaborado, fruto de incentivos financeiros feitos pela Coreia em seu sistema de inteligência.

Enquanto continuarmos postergando o investimento fundamental em nossa educação, valorizando aqueles que nos tiram da sombra e nos levam para a luz (professores), jamais seremos um país sério. Seremos apenas uma utopia, e o já velho país do futuro, de novo não haverá nada, apenas o Alzheimer que, vira e mexe, nos faz repetir as mesmas escolhas burras e nos colocam num feitiço do tempo, em que nada evolui e tudo parece ser como sempre foi, ad aeternum.

 

 

 

Leandro Alves de Melo, graduado em Direito pela UFU, advogado, colunista, é sócio proprietário dos escritórios Alves & Barbosa Advocacia MG e GO, pós-graduado em gestão de pessoas (INESP/SP), especialista em Direito Previdenciário pelo IEPREV/BH, pós-graduando em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Público de Brasília, é Master Trainer em Programação Neurolinguística pelo instituto ADEX.

 

3 Comentários

  1. Joaquim Militão disse:

    Fantástica análise.
    Educação é o maior investimento que podemos fazer para tirar o Brasil do atraso. Precisamos evoluir culturalmente e tecnologicamente para nos tornarmos livres, indempendentes e disputarmos um espaço no mundo de iguarl para igual. Este é o único caminho.

  2. Tânia M Alves disse:

    O problema da educação é tão grave, que
    perseguem Paulo Freire, o intelectual brasileiro mais importante, conhecido e estudado de todos os tempos. Creio sim, que esses problemas fazem parte do projeto de poder dessa elite do atraso. Sem dúvida nenhuma, temos uma elite mesquinha, hipócrita e corrupta que são capazes das piores barbaridades para manter seus privilégios e manter o povo escravizado.

  3. Tânia M Alves disse:

    * que é capaz

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