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Colesterol (Parte II)

sex, 4 de julho de 2014 00:17

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9 – Remédios para a vida inteira ninguém gosta de tomar. Que argumentos você usa para convencer uma pessoa dos benefícios que terá se aderir ao tratamento por toda a vida?

De fato, existem pessoas que precisam tomar esses remédios a vida inteira ou porque têm colesterol aumentado e sofreram eventos, especialmente infartos, ou porque apresentam um conjunto de fatores de risco que indicam prognóstico ruim.

Que argumento empregar nesses casos?  Conheço pelo menos cinco razões para o indivíduo não abandonar o tratamento. Inúmeros estudos comprovam a eficácia da chamada prevenção secundária. Quando esses pacientes são tratados, melhora praticamente tudo. Diminui não só a mortalidade cardiovascular, como a mortalidade global por qualquer outra causa. Diminui a necessidade de cirurgia de ponte de safena, de angioplastia e de internação hospitalar. Ele certamente irá morrer mais tarde e usufruirá melhor qualidade de vida. Acredito que esses sejam argumentos fortes.

10 – Pessoas que não tiveram nada são mais difíceis de convencer?
Existem três grandes estudos mundiais mostrando que o tratamento da dislipidemia é favorável para as pessoas que não apresentam sintomas, mas têm colesterol aumentado. É a prevenção primária que reduz os eventos nas mulheres, nos hipertensos, nos diabéticos, nos fumantes, em todo o mundo, enfim. Não dá para ficar com colesterol elevado sem tratar. O que podemos discutir é qual o melhor tratamento, o mais eficiente, mais barato e o que não incorre em efeitos colaterais. Para convencer essas pessoas da importância da aderência ao tratamento, o melhor argumento é também que terão vida mais longa e de melhor qualidade.

11 – Hoje existem várias drogas que podem ser usadas com segurança para baixar o colesterol, as pessoas suportam bem o tratamento ou ocorrem efeitos colaterais indesejáveis?
A grande maioria tolera muito bem. As estatinas, em especial, são drogas muito eficientes e representaram uma revolução no controle dos níveis de colesterol.

Essas drogas têm alguns efeitos colaterais, porém a incidência é muito baixa e, uma vez suspenso seu uso, eles desaparecem. Além disso, é possível empregar associações de medicamentos. Pode-se, por exemplo, reduzir a dosagem de estatina associando-a com uma droga que atue na absorção do colesterol intestinal e que não apresente efeitos adversos.

O ponto fundamental é que hoje praticamente não existe paciente que não possa ser tratado, mesmo porque os efeitos colaterais dessas drogas são poucos e contornáveis. Quais são eles? Dores nas pernas, dores musculares, obstipação intestinal e, em alguns doentes, alterações de enzimas hepáticas ou do sono, mas nada que não desapareça se a droga for suspensa ou trocada por outra.

12 – Atualmente, os diabéticos todos devem ter a consciência de que terão que fazer o tratamento para o resto da vida. Com a hipercolesterolemia a abordagem deveria ser mais ou menos a mesma: não há como suspender o tratamento.
Eu diria que é o mesmo tipo de abordagem. Em relação ao diabetes, o problema é um pouco mais sério. Estudos que acompanharam a evolução de pacientes com diabetes e de pacientes não diabéticos que sofreram infarto demonstraram que, depois de cinco ou sete anos, a mortalidade era exatamente a mesma nos dois grupos.

É claro que o melhor é não ter nenhuma das duas doenças e o pior é ter as duas, ter infarto e ser diabético, mas o lado positivo é que existe tratamento para ambas. Veja o caso do infarto. Os índices de mortalidade reduziram-se muito. Atualmente, na Unidade Coronária do Incor, apenas 7,4% dos infartados homens morrem. Há não muito tempo, morriam bem mais de 20%. Nas mulheres esses números são um pouco maiores, mas nada que faça diferença significativa. E ainda tem mais: mesmo que a pessoa sofra um infarto, nós temos como corrigir até certo ponto as consequências desse evento no ventrículo e nas artérias que não foram diretamente atingidas. Com o diabetes dá-se o mesmo. O problema é que na prática existe um número enorme de doentes com diabetes mal controlado, assim como existem muitos com hipercolesterolemia mal controlada.

13 – Esse é um tipo de medicação que requer acompanhamento médico?
É muito comum ver que o médico receita estatina, a pessoa toma durante dois meses e, assim que os níveis de colesterol se normalizam, ela suspende o tratamento sem levar em conta que, parando de tomar o remédio, em 20 ou 30 dias, o colesterol estará de novo lá em cima.

Ninguém pode esquecer que estamos tratando de uma doença metabólica crônica muito diferente de uma fratura, por exemplo, que se corrige e, pronto, acabou o problema.

Sempre digo que doença boa de tratar é doença que dói, porque o paciente procura o médico e segue o tratamento. Hipercolesterolemia não dói. Por isso, demanda paciência e capacidade por parte do médico para convencer o leigo da importância do acompanhamento clínico e da aderência ao tratamento.

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