Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2025 Fazer o Login

A Era do Rádio

qui, 23 de outubro de 2014 10:38

Abertura Histórias de Uberlândia
Tudo começou no Ano da Graça de Nosso Senhor de 1922. No dia da independência, exatamente 100 anos depois do ato de D. Pedro I, no alto do Corcovado, Rio de Janeiro, foi feita a primeira transmissão de rádio do Brasil, com a utilização de um transmissor de 500 watts, da Westinghouse, para 80 receptores. O primeiro programa foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa. A inauguração oficial se deu aos vinte dias do mês de abril de 1923 com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com Roquete Pinto e Henry Morize. Os receptores eram caros e importados. Logo sua programação era para a elite e não para a massa. Tocavam-se óperas, recitais de poesia, concertos e palestras culturais. Tinha finalidade cultural, educativa e altruísta. Mensalidades eram pagas por quem tinha os receptores através de doações. Os anúncios pagos eram proibidos.

Começou, então, a era comercial, a partir da década de 1930, transformando totalmente a programação radiofônica. O Decreto 21.111 de primeiro de março de 1932 autorizava 10% da programação a ter comerciais. O erudito se torna popular e artistas e produtores começam a ser contratados. A competição trouxe desenvolvimento técnico e popularidade para o veículo de comunicação mais revolucionário da época. O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira nesta época foi muito mais profundo do que aquele que a televisão viria a produzir 30 anos depois.

E veio a Época de Ouro do Rádio, a partir da década de 1940. A programação se torna mais popular e o rádio passa a ganhar mais audiência. Em treze de maio de 1942 surge o Ibope. Neste mesmo ano, estreia a primeira radionovela, “Em busca da felicidade”. Começam também as primeiras transmissões de esportes e rádio jornalismo. A Copa do Mundo e a Segunda Guerra Mundial marcaram essa época do rádio.

Outra transformação ocorreu no início da década de 1950. Surge o transistor tornando a comunicação mais ágil, possibilitando transmissão direta da rua, ao vivo. Os receptores à pilha, libertos da tomada, dão mais mobilidade aos ouvintes. Mas surge a televisão e os artistas do rádio mudam para a telinha. Os programas de humor são trocados por música, as novelas e programas de auditório por serviços de utilidade pública, buscando uma maior segmentação. As FMs aparecem na década de 1960, e passam a tocar muito mais música.

Os calouros de Uberlândia

No começo dos anos 1950, Uberlândia tinha como veículo de comunicação mais popular a Rádio Difusora. Ela ficava na praça da República, atual praça Tubal Vilela, no prolongamento da avenida Afonso Pena. Como todas as emissoras do país, tinha seus programas de calouros, para adultos e crianças.

José Séptimo Spini nasceu com dom para o canto lírico. Desde menino se apresentava aqui e ali, festinhas, escola, em casa para as visitas. Onde lhe pedissem para cantar, não se fazia de rogado, soltava a voz que Deus lhe deu. A família Spini, de numerosos filhos, não era rica. Os meninos nunca ganhavam presente de Natal. Pois ia chegando um Natal e o programa de calouros da Difusora estava premiando os três melhores meninos cantores. Dona Geni disse para seu filho:

– Zé, vai lá! Um prêmio você vai trazer.

O Zé ficou meio acanhado, o Glauco, que além de levantar pesos, também gostava de cantar,  empurrou o irmão. E ele foi. Ele gostava de cantar Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva, mas quem ele adorava era o Gino Becchi. Chegou para o ensaio ressabiado. Cantou Minha Terra, de Waldemar Henriques. Quando terminou o ensaio o pessoal do regional comentou:

– Você vai ganhar, menino!

E ganhou mesmo. Em terceiro lugar ficou uma menina, em segundo, o Humberto de Sá, filho do Manuel de Sá, do Banco de Crédito Real. Zé Ganhou uma roupa de vaqueiro, um William Boyd completo. No auditório, Um garoto magrelo, entregador de jornais, que atendia pelo nome de Moacyr Franco, apenas assistia.

No ano seguinte, o Zé Spini voltou. Aí também entrou o Moacyr Franco, mas fazendo humorismo. O Zé cantou Porta Aberta, de Vicente Celestino. Ganhou de novo. Desta vez, o Ary Novaes Rocha, com aquele seu jeito maneiroso, puxou o Zé para um canto e disse-lhe:

– Olha, você ganhou o primeiro prêmio, mas nós vamos te dar o presente do segundo lugar e vamos dar o seu presente para o segundo, mas você foi o vencedor.

O Zé, sem entender nada até hoje, aceitou contrariado. O primeiro prêmio era um trem de ferro, com suas linhas e estação. O trem corria pelos trilhos. A família do seu Atílio, pai do Zé, morava ali, pegado às linhas da Mogiana. Ia ser um sucesso com a molecada. Zé teve que se contentar com uma lata cheia de bombons Imperial. Quando desceu do palco com seu prêmio, foi cercado pelo Moacyr Franco:

– Rapaz, com essa voz, você tem que ir pra São Paulo!

Mas o Zé só tinha quatorze anos e não foi. Pouco tempo depois, quem foi pra São Paulo foi o Moacyr, levado pelo Aloysio Silva Araújo, o mesmo que inventou o Bronco, personagem inesquecível a quem Ronald Golias deu vida.

Época de Ouro do Rádio, 1950, a orquestra de alunos do Lyceu de Uberlândia em apresentação na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com Emilinha Borba. À esquerda, o violinista Nicolau Sulzbeck. Foto: Divulgação

Época de Ouro do Rádio, 1950, a orquestra de alunos do Lyceu de Uberlândia em apresentação na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com Emilinha Borba. À esquerda, o violinista Nicolau Sulzbeck. Foto: Divulgação

 

Apresentação na Rádio Difusora, década de 1950, Uberlândia. Foto: Divulgação

Apresentação na Rádio Difusora, década de 1950, Uberlândia. Foto: Divulgação

 

Uma cena dos primeiros equipamentos de rádio de Uberlândia. Foto: Divulgação

Uma cena dos primeiros equipamentos de rádio de Uberlândia. Foto: Divulgação

 

Praça da República, década de 1950, atual praça Tubal Vilela. Foto: Divulgação

Praça da República, década de 1950, atual praça Tubal Vilela. Foto: Divulgação

1 Comentário

  1. Fred Margonari de Souza disse:

    Nasci em Lavras-MG mas cheguei em UBERLÂNDIA com dois ou três anos de idade, fui batizado por Mons. Eduardo Antônio dos Santos na Igreja de Santa Terezinha lá pelos anos de 1938,39,estudei no Colégio Estadual, fui sócio da PISCINA como chamavam parece hoje UTC e do PRAIA CLUBE, fiz o TIRO DE GUERRA 60, trabalhei no BANCO INDUSTRIAL DE MG com o gerente Geraldo Migueletto e Glauco Pereira Garro, sempre morei com meus queridos pais Manoel de Souza e Maria Rosa Margonari de Souza na rua Tenente Virmondes nº34, portanto sou uberlandense de coração com as graças de Deus. Desejo a minha querida cidade de UBERLÃNDIA muita PAZ, PROSPERIDADE, AMOR AO PRÓXIMO E UM GRANDE AMOR A JESUS CRISTO E SUA MÃE SANTÍSSIMA. Obrigado. Fred.

Deixe seu comentário: