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O começo de uma cidade

qui, 10 de abril de 2014 00:01

Abertura Histórias de Uberlândia
Na recém-emancipada Uberabinha, a iluminação elétrica só foi implantada em 1909 pela firma Carneiro & Irmãos. Antes desse período já se cogitava a possibilidade de dotar a cidade dessa iluminação. Enquanto isso não acontecia, havia um tipo especial de iluminação pública utilizando lampiões a gás. Antes, e mesmo depois da energia elétrica, além dos lampiões, as candeias e as lamparinas eram utilizadas na iluminação das residências após o pôr do sol.

As candeias eram utilizadas sobretudo pelas famílias de baixa renda pois utilizavam, para acender o pavio, azeite de mamona, fabricado em casa. Mas apresentava o inconveniente de ser de difícil locomoção, pois o recipiente onde ficava acondicionado o combustível e o pavio era aberto. Também a lamparina, apesar de ser toda fechada e um pouco mais sofisticada, apresentava o inconveniente da fuligem expelida pela combustão do querosene tingir de escuro o rosto daqueles que a utilizavam. A quantidade de lamparinas existentes em cada casa dependia do poder aquisitivo das famílias, algumas possuíam apenas uma para iluminar toda a moradia.

A ausência de energia elétrica, além de ter possibilitado a invenção de aparelhos como a candeia, a lamparina, o lampião e a vela, determinou as características de algumas atividades domésticas, comerciais e agrícolas influenciando o próprio lazer. Os utensílios caseiros e as ferramentas de trabalho eram todas de funcionamento manual.  Algumas dessas ferramentas e utensílios como o ferro de passar roupa à brasa e o pilão, também faziam parte do cotidiano das famílias mais abastadas.
As opções de lazer também ficavam muito restritas à duração da luz natural, mas em algumas casas mais abastadas, as pessoas adquiriam o gramofone de manivela e preenchiam de música as pacatas e mal iluminadas noites da cidadela.

Com relação ao abastecimento de água para a população, do início do arraial até a primeira década do século XX, o abastecimento era feito através de um rego d’água aberto por Francisco Alves Pereira e Felisberto Alves Carrejo, para dar conforto à população que havia se estabelecido às margens do córrego São Pedro.

O rego foi tirado das cabeceiras do córrego São Pedro, corria paralelo à atual Av. Rio Branco que, na época, abrangia o trecho da atual rua Barão de Camargos, antiga rua da Chapada. Seguia em direção à Capela de Nossa Senhora do Carmo e, nesse percurso, cortava a atual rua Augusto César.

Sendo de uso coletivo, era natural que houvesse dispositivos legais regulamentando a sua utilização e também a sua conservação. Estes se encontravam no Código de Posturas adotado pelo Município em 1903. Outras medidas foram sendo estabelecidas ao longo dos anos, de acordo com os problemas que surgiam. Esses se avolumavam à medida que a população utilizava as águas de servidão pública. A fiscalização, os cuidados na manutenção e a distribuição feita através da concessão de anéis d’água, eram de responsabilidade da Câmara.

A execução desses serviços não era simples, pois não eram poucos os problemas decorrentes de um rego d’água de utilidade pública correndo a céu aberto. Havia o risco de contaminação de áreas que cruzava o rego, carência de água nas secas e sujeira das nascentes no período das chuvas. Além desses problemas, a inexistência de um sistema de rede de esgotos não só causava desconforto como era também um foco para a disseminação de doenças.

A lei sobre a canalização da água potável e construção da rede de esgotos foi redigida em janeiro de 1908. Como os serviços não foram concretizados formou-se uma sociedade composta de representantes locais, cujos objetivos eram auxiliar a Câmara na execução do projeto de canalização da água e, sobretudo, levantar a verba necessária para que fosse concretizada essa obra. Mesmo com essas medidas, somente a partir de 12 de novembro de 1910, foi inaugurada a primeira rede de abastecimento de água na cidade. No entanto era tão precária, que no ano seguinte começou a ser discutida a necessidade de ampliação da rede de abastecimento. Ao contrário da água, a construção da rede de esgotos só teve início na década de 1920.

Sendo tênues os limites que separavam o perímetro urbano das áreas rurais, era comum, apesar da proibição prescrita no código de posturas de 1903, a circulação de vacas, carneiros e cabritos nas ruas. As reclamações da população eram frequentes. Os moradores exigiam providências para deixar livre o espaço apenas para o tráfego das charretes, carroças,  pedestres e também os imprescindíveis carros de boi.

Em 1891, existiam três praças na cidade: Largo da Matriz, Largo do Rosário conhecido também por Largo do comércio e Largo da Independência. Algumas dessas praças até o ano de 1908 ainda não estavam ajardinadas nem calçadas e, aquelas localizadas em frente a casas comerciais, constituíam-se basicamente em estacionamento de carros de boi.

Assim eram as estruturas públicas de Uberabinha no início do século XX. Ruas desprovidas de iluminação elétrica, recebendo a água proveniente de um rego, sem calçamento, asfaltos ou qualquer outra forma de pavimentação, excetuando o encascalhamento de áreas muito esburacadas, praças escuras e empoeiradas.

Rua Affonso Penna, Uberabinha, 1908. Foto: Divulgação

Rua Affonso Penna, Uberabinha, 1908. Foto: Divulgação

 

Maquete em exposição no Museu Municipal mostrando o início do povoado de Uberabinha. As duas rua principais são hoje, à esquerda, Felisberto Carrejo e, à direita, Vigário Dantas. Foto: Divulgação

Maquete em exposição no Museu Municipal mostrando o início do povoado de Uberabinha. As duas rua principais são hoje, à esquerda, Felisberto Carrejo e, à direita, Vigário Dantas. Foto: Divulgação

 

Largo da Cavalhada, atual praça Coronel Carneiro, início do século XX. . Foto: Divulgação

Largo da Cavalhada, atual praça Coronel Carneiro, início do século XX. . Foto: Divulgação

 

Este local, em Uberabinha do início do século XX é, atualmente,  a esquina da avenida João Pinheiro com rua Tiradentes. Ao fundo, o início da atual rua General Osório e à esquerda é,hoje, a  praça Clarimundo Carneiro. Foto: Divulgação

Este local, em Uberabinha do início do século XX é, atualmente, a esquina da avenida João Pinheiro com rua Tiradentes. Ao fundo, o início da atual rua General Osório e à esquerda é,hoje, a praça Clarimundo Carneiro. Foto: Divulgação

 

Prédio comercial na antiga Uberabinha, convivendo com as ruas de terra. Foto: Divulgação.

Prédio comercial na antiga Uberabinha, convivendo com as ruas de terra. Foto: Divulgação.

 

Largo do comércio, início do século XX. Atualmente é a Praça Doutor Duarte e a rua á direita é a atual XV de Novembro. Foto: Divulgação

Largo do comércio, início do século XX. Atualmente é a Praça Doutor Duarte e a rua á direita é a atual XV de Novembro.
Foto: Divulgação

 

Imóveis residenciais  de Uberabinha, início do século XX. Foto: Divulgação

Imóveis residenciais de Uberabinha, início do século XX. Foto: Divulgação

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Coimbra Júnior.
(*) Administrador de Empresas, especializado em Finanças. Trabalha atualmente na Via Travel Turismo. Criou a página História de Uberlândia no Facebook.

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