“E, MESMO ASSIM, OS CANALHAS NÃO QUEREM DIMINUIR A IDADE DE MAIORIDADE PENAL== E OS INOCENTES CONTINUAM MORRENDO …. VALHA-ME, DEUS !!!  ATÉ QUANDO? “

RECUPERANDO E RELEMBRANDO
=  Coluna DJ de 24.10.2003  =
Um bandido de “olhos frios e cruéis”…

Considero-me um mineiro da gema: meu pai nasceu na Cidade de Oliveira, minha mãe, em São João del Rey; eu mesmo, em Carmo da Mata, uma cidadezinha bucólica, situada perto de Divinópolis, na região mineira denominada de Campo das Vertentes. Meus bisavós paternos também são da Cidade de Oliveira, ao passo que meu avô materno era de Bagagem, hoje Estrela do Sul. Meus filhos nasceram em Corinto, Belo Horizonte e Araguari. Portanto, todos nós fomos nascidos nas Alterosas.

Daí, tenho o costume de querer escutar e ouvir coisas de Belo Horizonte e das Minas Gerais, um tanto raras, inexistentes ou esquecidas aqui por esta região do Triângulo (ainda) Mineiro. E, também por isso, em todas as manhãs sintonizo a Rádio Itatiaia, através da sua retransmissora, instalada na vizinha Cidade de Uberlândia (hoje, não mais), para acompanhar-lhe o noticiário matutino.

Pois, foi num desses últimos dias que pude ouvir uma reportagem “diferente”, a qual me causou funda impressão, visto que a repórter entrevistava um rapaz de 16  anos de idade, já formado e diplomado na senda do crime, um bandido verdadeiro, um assaltante contumaz, um assassino frio e perverso, que, segundo a  (in) feliz definição da entrevistadora,  possuia “olhos frios e cruéis: ….”

Não me lembro literalmente daquela entrevista, mas buscarei reconstitui-la com a maior fidelidade possível. A letra R representará a Repórter; a letra E, o entrevistado. Eis o diálogo:

R    – Quantos anos você tem?
E    – Dezesseis.

R    – Por que você saiu de casa?
E    – No começo, eu saia com alguns amigos e voltava para casa, depois, comecei a passar as noites fora, até que não voltei mais. A vida lá estava muito, muito difícil.

R    – Você já estudou?
E    – Fiz até a 4ª Série.

R    – Você usa drogas? É viciado?
E    – Uso todo tipo de droga: maconha, cocaina e crack; só não uso tiner e cola. Sou viciado, sim.

R    – Você já trabalhou alguma vez?
E    – Trabalhei num supermercado.

R    – Por que você entrou nessa vida?
E    – Lá no supermercado eu ganhava uma mixaria, uns R$200,00     (por mês) e não dava pra sustentar a minha namorada e nem o meu vício. Tenho três filhos.

R    – Quantos assaltos você praticou?
E    – Uns 300.

R    – E, você acha que essa vida vale aà pena? Toda hora você é preso…
E    – Acho que vale, sim. Sou preso, mas é muito fácil fugir e assaltar de novo (risos)…

R    – Por que você assalta?
E    – Em 40 minutos, posso fazer um assalto e ganhar muito mais     do que eu ganhava trabalhando (risos)…

R    – E você atira nas suas vítimas?
E    – Atiro; se ela reagir, eu atiro.

R    – Você não tem medo ou remorso de atingir uma pessoa de bem, um pai de família?
E    – Não tenho, não. Quem manda não entregar as coisas, dinheiro, celular…; antes a mãe dele chorar do que a minha (risos)…

R    – Você já matou alguém?
E    – Acho que sim.

R    – Você não sabe, ou já matou alguém?
E    – Não sei, não; depois que eu atiro na pessoa, pego as coisas, saio correndo e     não olho pra trás (risos)…

R    – Você gostaria de ter estudado, de voltar a estudar?
E    – Acho que sim.

R    – Você acha que tem recuperação?
E    – Agora é meio difícil. Acho que é impossível (risos)…

COMENTÁRIOS / OBSERVAÇÕES:
E PRECISA?
“Olhos frios e cruéis”, aos 16anos de idade…
Que DEUS proteja a “justa” Sociedade Brasileira dos seus próprios erros e omissões, pois as nossas Elites (parece que) não estão nem aí para a gravidade da situação que se nos confronta…

* Rogério Fernal:
Juiz de Direito aposentado. ex-Professor Universítário de Direito, Advogado militante, Mestre Maçom, conferencista e articulista.