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Ficha Técnica – Lições de 2016

qua, 14 de dezembro de 2016 05:18

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A alegria prevalece sobre aquilo que faz dela uma fonte de vida. Há muito, o relógio da segunda de manhã não despertava tão empolgante. No subúrbio castigado pelas traças que o tempo levou, o futebol respirou fundo. Quanto amor por aquela gente. “Viva o Nordeste!”, bradou um. “Salve o interior!”, esbravejou outro. Palavras distintas ventiladas como se fosse um instinto de sobrevivência, até que todos se encontraram num grito uníssono – “Vamo, vamo Chapê!”. Acordar com aquela lembrança fazia-me sentir até o ar puro em meio à selva de pedras que pernoitara entre uma janela e outra.

Lembro que ainda criança, não encontrava brincadeira melhor que não fosse montar escalações, projetar jogos e transcrever tabelas de diferentes campeonatos. O futebol era aliado de quem suava o dia inteiro para colocar comida na mesa. Moralizante, digno de um educador. A bola pune. O jogo termina quando acaba e, quem não faz, toma. Nessa gincana da bola, deixaram a batata queimar nas mãos do Internacional que, de tanto flertar com a segunda divisão, viu o pior capítulo de seus 107 anos de história. Precisou cair para fazer diferente.

Não bastasse o inferno astral do arquirrival, o Grêmio ainda soltou o grito de campeão nacional após 15 anos de espera. Uma safra de muitos frutos moldada no espírito copeiro. Enquanto os colorados calculavam os prejuízos do adiamento da rodada e se negavam a jogar, o Atlético Nacional da Colômbia cedia o título da Sul-Americana para a Chapecoense. Receberam uma premiação de mais de R$ 1 milhão por retribuição ao gesto.

Os ensinamentos que o futebol empresta em 2016 *Gazeta Press

Os ensinamentos que o futebol empresta em 2016
*Gazeta Press

 

Ternura, cortesia, generosidade, também encontrados na defesa do São Paulo, que de semifinalista da Libertadores, foi para décimo no Brasileirão. Apresentar Rogério Ceni na véspera da última rodada foi a melhor estratégia para um time que sequer soube se planejar. Mesma sina dos recém campeões nacionais, Corinthians e Cruzeiro, consolados com uma vaga na Sul-Americana. No Ninho do Urubu, o Flamengo voltou a sentir o cheirinho e esbarrou na falta de um tempero especial. Miraram a caça ao líder, mas não encontraram forças para valer a liderança.

O Rio volta a ter quatro grandes na elite em 2017. Em Florianópolis, o representante agora virá da ilha com o Avaí. O Atlético Goianiense será o estado goiano e, o Nordeste, de Sport, Bahia e Vitória. Um campeonato abençoado pelos pastores da Vila Belmiro e iluminado pelo menino Jesus. No Galo, as estrelas não ornaram como uma constelação. Em Campinas, a Ponte Preta viu pela primeira vez seu combatente chegar ao topo da artilharia.

Que julguem o Cunha, o Renan, o Temer e todo o mistério da indignação seletiva, mas não contestem os 80 pontos conquistados pelo Palmeiras em 2016. Um ano que termina assim, com o verde e branco da alegria que tingiu o amargo da saudade e solidariedade dois dias depois. Sem entrar em campo, a Chapecoense ensinou o que nenhum clube conseguiu. Por alguns instantes, todas as diferenças se tornaram meros detalhes. Meu penar é que somos fracos de memória. Nessa escola da vida, até quando precisaremos de outra tragédia para mudar nossa história?

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