Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024 Fazer o Login

Conheça toda história e curiosidades da Santa Casa de Misericórdia ao longo dos seus 98 anos

qui, 4 de agosto de 2016 05:30

por Adriano Souza / Arquivo Histórico e Museu Dr. Calil Porto

No último dia 1 de agosto, a Santa Casa de Misericórdia completou 98 anos de existência. Com isso, a reportagem da Gazeta do Triângulo faz o registro do quase centenário hospital de Araguari. A denominação “Santa Casa de Misericórdia” teve origem em Portugal, no final do século XV, com a formação de uma irmandade leiga, idealizada por Frei Miguel de Contreiras. No Brasil a história das “santas casas”, remonta ao século XVI, com a criação dos primeiros núcleos seguindo os moldes de Lisboa, ou seja, o atendimento a pacientes sem recursos financeiros, sem moradia, sem família ou recém-chegados ao país. A entidade filantrópica Santa Casa de Misericórdia, que ampara as famílias araguarinas, proporcionando assistência médica, clínica e cirúrgica durante quase um século, iniciou seu processo de instalação em Araguary no ano de 1914.

Década de 1920-Santa Casa de Misericórdia.

Década de 1920-Santa Casa de Misericórdia

 

Os trâmites desta efetivação foram principiados por cidadãos participantes de um grupo de beneficência, que resolveram fundar uma unidade hospitalar que suprisse a demanda, diante de um panorama de poucos médicos e saúde  delegada a remédios caseiros e farmacêuticos. A Sociedade de Beneficência, representada pelo secretário da agremiação, Dr. Delermando Cardoso, solicitou ao poder municipal um terreno escolhido entre a avenida 2 , atual rua Joaquim Carvalho Soares e as ruas 34, 41e 50, sendo o mesmo  concedido em 1914 e posteriormente demarcado.

Segundo o Estatuto da Santa Casa de Misericórdia de Araguary, datado de 15 de outubro de 1916, a entidade recém-criada objetivava:  “Art.1o. …construcção de  um estabelecimento de caridade, no qual serão recebidos para tratamento: 1o. os mendigos, gratuitamente; assim como os sócios que recorrerem à dita associação; 2o. os enfermos não mendigos, mediante pagamento estipulado. Art. 2o. A Associação promoverá subscripções, kermesses, espectáculos, donativos e qualquer outro meio adequado, para a conseccução do seus fins…”. A instituição médica foi concretizada em 1918, quando iniciou suas atividades ao dia 8 de agosto.

Alguns nomes da filantropia em Araguari, que idealizaram e ou apoiaram a instituição foram: Dona Mariquinha de Godoy, Lindolpho Rodrigues da Cunha, Monsenhor Manoel Fleury Curado, Padre Lafayette de Godoy, Moizes Rodrigues Alves, Adalardo Cunha, José Ferreira Alves, Hamilton de Lima, Marciano Santos e outros.  Concomitantemente ao desenvolvimento da Santa Casa, outra instituição foi formatada em anexo, o “Azilo Nossa Senhora do Rosário”, denominado mais tarde, Nossa Senhora Aparecida. Entretanto, o nome mais conhecido, era Asilo D. Mariquinha, em homenagem a sua fundadora, que conjuntamente a seu esposo construiu o prédio da casa de idosos. Em regime de internato para carentes, o local de repouso funcionou por algumas décadas, sendo posteriormente transformado em ala de maternidade da Santa Casa.

Sem fins lucrativos, a Santa Casa de Misericórdia, desde os primórdios tempos de funcionamento foi sustentada com ajuda financeira de particulares e do poder público.

Os chamados donativos avulsos foram um  capítulo a parte na história do estabelecimento. Os moradores da cidade de origem e com economia embasada nos ganhos rurais, amparavam as iniciativas beneméritas e contribuíam conforme sua renda, assim, os benefícios chegavam na forma de papel moeda ou na maior parte das vezes, em produtos agrícolas e pecuários. No ano de 1932, no mês de maio o balanço a entidade apontou as doações: – João Rodrigues da Cunha Borges, 1% do resultado geral de sua próxima colheita de arroz; Eduardo Rodrigues da Cunha Neto, 1% da colheita de arroz e um porco gordo; Belisario Rodrigues da Cunha, 12 sacas de arroz em casca; Heráclito Wandenkolk, um alqueire de farinha de mandioca e metade de um porco de 4 arrobas; Empresa Força e Luz de Araguari, quitação de recibo de energia do mês de maio; Póvoa & Irmão, 40 quilos de macarrão; Inhozinho Vilela, duas sacas de arroz em casca e Bernardo Rodrigues da Cunha, treze sacas de arroz em casca.

1950- Santa Casa de Misericórdia.

1950- Santa Casa de Misericórdia

 

As campanhas pró-Santa Casa eram e ainda são, intermináveis, pois conquistando uma meta, imediatamente o provedor e seus diretores empenham-se em uma nova empreitada. No ano de 1936, folhas de um livro de donativos revelam a motivação de melhoramentos na construção de novas salas para operação e esterilização, aquisição de material cirúrgico etc. Encabeça a lista o nome do Padre Lafayette José de Godoy, com o valor doado de 4.000$000 contos de réis, seguido de Antonio Lemos Filho, Prefeitura Municipal de Araguari, Nicolau Dorazio, Belchior de Godoy, Joaquim Rodrigues de Carvalho, Maria Cândida de Godoy (Mariquinha), Justino Carvalho e muitos outros.

Firmada como instituição de ajuda a pessoas carentes, a Santa Casa atraiu inúmeros consulentes de outras cidades da região, tanto mineiros quanto goianos. Os municípios beneficiados, muitas vezes foram convidados a contribuir com a instituição, no entanto, o apelo na maioria delas não foi atendido. Durante anos, a Santa Casa sobreviveu no limite da precariedade econômica, mas buscou amparar aqueles que necessitavam de cuidados. Nos anos de 1940, nova etapa do conglomerado médico foi iniciada,  integrando o complexo uma sala de esterilização e uma de operações cirúrgicas. A Santa Casa apresentava além dos leitos,  farmácia, cozinha, lavanderia e  vasto pomar e horta. A Casa, tentava empreender uma imagem de ordem e higiene, tendo a colaboração da afetuosa enfermeira Dona Nenê.

Para aparelhar as novas salas foi efetuada uma campanha junto à comunidade na busca por doações que suprissem a dívida de 44:380$000 contos de réis. No ano de 1941, a visita e os elogios do Dr. Mario Mendes Campos, professor  da unidade de patologia geral da Universidade de Medicina da Minas Gerais e Diretor Chefe da Saúde Pública do Estado, foi muito relevante para a instituição que buscava fundos para concluir as novas obras. No ano de 1942,  a diretoria constituída pelo provedor Eufrozino de Oliveira e pelos membros Hortêncio Machado, Joaquim Magalhães Filho, Naphtali Vieira, Odilon Paes de Almeida e Assad Saad, conquistou na gestão do prefeito Dr. Joseh Jehovah Santos,  uma verba de 20:000$000 contos de réis, a título de subvenção. Nesse período, a Santa Casa contava também com  um auxílio Federal de 10:000$000 contos de réis.

Nessa época, a Santa Casa era detentora de vários imóveis nas imediações da instituição, totalizando em espécime um patrimônio avaliado em 265:000$000 contos de réis, todos originários de doações da sociedade araguarina. Na década de 1960, a instituição médica ansiava por melhorias e inúmeros apelos foram efetuados via imprensa  escrita, a favor de subsídios financeiros. A prática de atendimento humanitário propagava-se entre os trabalhadores da área de saúde, no entanto, a carência de equipamentos, medicamentos e das instalações minavam a tranquilidade  da população e dos servidores. Alguns  dos problemas diagnosticados nesse período, foram  a falta de um condutor de doentes:  ambulância; aparelhos estragados, como o de raio X; UTI inexistente; e parte da maternidade não contava com leitos e mobiliários adequados ao funcionamento.

Mesmo com todos os problemas estruturais, em 1969, uma cirurgia delicada e inédita foi realizada nas dependências da instituição, sendo muito comentada e elogiada. O ato denominado “extrofia vesical e epispadia” foi efetuado em uma criança com 4 anos de idade, operada pelo médico Dr. Moisés de Carvalho Alves. A intervenção consistiu na constituição de uma bexiga, utilizando parte  do órgão original lesionado, devido a deficiência congênita. Contando com pleno êxito, o procedimento foi abordado em reunião da Associação Médica de Araguari, dando prestigio a instituição e a equipe médica. No ano de 1971, a Santa Casa passou por melhorias, resultando em renovação de equipamentos e instalações. A Diretoria executiva era composta por Dr. Marcílio Fernandes de Oliveira, diretor clínico Dr. Moysés de Carvalho Alves, diretor técnico Dr. Andersen da Silva, secretário geral Abdala Mameri e administrando a parte interna, as Irmãs do Sagrado Coração de Maria, destaque para a incansável enfermeira  Irmã Gony.

Reforma mais ampla foi diagnosticada no ano de 1973, sob a provedoria do Dr. Andersen Lemos da Silva, vice-provedor Dr. Antonio Sidney Arantes, quando a antiga fachada foi remodelada, extraindo os muros, projetando um estacionamento e construindo novo acesso por meio de rampa. Outras melhorias foram a construção de nova sala cirúrgica, remodelação de quartos e enfermaria, além da contratação de enfermeiras diplomadas. Mais uma vez, a ajuda da população foi imprescindível para executar as obras, com convênios do FUNRURAL, INPS,  LBV e recursos da Prefeitura, entidades e da própria instituição.

No ano de 2004, grandes melhorias foram conquistadas pela entidade, com verba originária do Sistema Único de Saúde,  foram gastos a quantia de 180 mil reais, com a construção e reforma de consultórios, centro cirúrgico e esterilização, apartamentos e quartos, posto de atendimento, leitos de alojamento para atendimento materno-infantil e berçário, salas administrativas e recepção. Findadas as reformas com inauguração no mês de novembro, os mantenedores mobilizaram-se para uma nova jornada, a edificação de uma UTI neo-natal, inexistente no município e na região. Em parceria com a secretaria municipal de Saúde a entidade conseguiu verba estadual orçada em cerca 390 mil reais, oriunda do projeto  “Viva Vida” e a nível municipal o  projeto “Amigos da Santa Casa”, conclamou a população em geral, empresários, representantes do poder publico, entidades e associações de classe, para efetivarem sua colaboração  em prol do objetivo mútuo.

O projeto executado com a quantia de 350 mil reais, em uma área de 420 m2, composto de 10 leitos de UTI, sendo  8 neonatos e 2 pediátricos;  4 CTI; 5 leitos de estadia, 2 leitos para crianças maiores, foi inaugurado em 23 de setembro de 2005. Na oportunidade, a prefeitura municipal firmou termo de compromisso de auxílio mensal de 20 mil reais, para fins de despesas da instituição.

Posteriormente, a UNIPAC- Universidade Presidente Antônio Carlos, campus Araguari, firmou contrato de parceria com a Santa Casa de Misericórdia, visando a utilização da entidade como Hospital Escola para o curso de medicina, subsidiando também outros cursos da área de saúde. Esta parceria resultou em melhorias das instalações físicas orçadas em 120 mil reais e um projeto a ser executado de modernização e renovação de aparelhagens.

Paralelamente, a Santa Casa construiu um novo refeitório, dispensa e está remodelando toda a fachada do prédio. Às vezes discriminada ao longo dos anos, a Santa Casa de Misericórdia está conseguindo empreender um padrão de atendimento elevado, classificado satisfatoriamente pela população. Os investimentos do SUS, Sistema Único de Saúde, aliados a diretoria comprometida com o bem estar da população, capitaneada desde o ano de 2002 pelo provedor Dr. Alfredo Paroneto,  alavancou a instituição, que contará em breve com a realização de 100% das obras de reformas impetradas neste ano. Investindo no atendimento particular a preços módicos, a instituição com suas modernas instalações gera orgulho nas famílias dos primeiros  idealizadores.

Fonte: Estatuto da Santa Casa de Misericórdia de Araguary,  de 15/10/1916.

Jornal Gazeta do Triângulo- 26/01/1941; 22/01/1969; 06/07/1969; 10/07/1969;29/01/1969; 24/09/1978; 23/12/2004; 14/09/2005; 24/09/2005;  30-31-01/09/2008.

3 Comentários

  1. helena maria soua disse:

    Parabéns,mas por que motivo ficou devendo o diretor Medico Paroneno?
    Só deixou no ar quem estava atuando ou se ele não teve esse cargo.
    E deveria falar quem saõ os gestores na data atual.

  2. Marco Antônio Rodrigues da Cunha Jr. disse:

    Sensacional!!!
    Mariquinha e Lindolpho, meus Trisavós!!!

  3. Romildo Alves da Silva disse:

    Fui morador de Araguari até 1998 quando mudei para a cidade vizinha de Uberlândia-MG
    Gravo excelentes recordações da Santa Casa de Misericórdia, onde já fui assistido com consultas
    e internações. Aí já fiz, por diversas vezes doação de sangue, beneficiando pessoas internadas
    com graves doenças.
    Uberlândia-MG, 31 de março de 2020.
    Romildo Alves da Silva

Deixe seu comentário: