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Câncer de intestino (Parte I)

sex, 27 de fevereiro de 2015 00:02

Abertura Pergunte ao Doutor
1)Hoje se sabe que a incidência de câncer de intestino é alta, em particular a de câncer de cólon. Como esse tema deve ser tratado?
É importante falar sobre câncer de intestino, porque ele é muito mais frequente do que se possa imaginar. No Brasil, a incidência está aumentando cada vez mais, apesar de ser um câncer que pode ser prevenido e que tem bom prognóstico.

2) O câncer de intestino, quando se manifesta, que sintomas provoca?
O câncer de intestino é traiçoeiro. Quando se manifesta, o tumor é razoavelmente grande porque, na fase inicial, costuma ser assintomático.

Dependendo da localização, os sintomas são diferentes. Se estiver situado do lado direito do intestino, os principais serão enfraquecimento, anemia e alteração da frequência da defecação. Se estiver do lado esquerdo, há alteração do ritmo intestinal com predominância de constipação intestinal, ou seja, prisão de ventre. No reto, o principal sintoma é o sangramento. Sangue e puxo, ou tenesmo, caracterizado pela vontade periódica de ir ao banheiro e insatisfação provocada pela sensação de evacuação incompleta são sinais de câncer ou de doença inflamatória no reto. O câncer de intestino é um câncer traiçoeiro, repito. Qualquer alteração no ritmo intestinal, constipação, diarreia, anemia, sangue ou catarro nas fezes e emagrecimento são indícios de que a pessoa pode estar com a doença.

3)Você falou em sangramento.Geralmente ouvimos falar de sangramento intestinal por meses, às vezes anos, que foi atribuído às hemorroidas e só tardiamente ficaram sabendo que eram portadoras de um tumor maligno. Esse tipo de mal entendido é frequente?
É super comum. Há pacientes que operam as hemorroidas sem saber que logo acima, no canal anal, existe um tumor de reto. Por isso, “Fique de olho” e “Nem tudo que sangra é hemorroida”. Hemorroida sangra, mas câncer de intestino também.

Entretanto, há uma pequena diferença entre o sangramento da hemorroida, um sangue vivo não misturado às fezes, e o do câncer que, embora também seja vivo, vem misturado com elas. Para o paciente leigo é muito difícil estabelecer essa distinção. Como consequência, toda a pessoa que tem sangramento pelo ânus deve procurar o médico para submeter-se ao exame de toque retal e passar um aparelho a fim diagnosticar corretamente a doença.

4)Infelizmente também acontece de a pessoa ser vigilante, perceber o sangramento, ir ao médico que o atribui erroneamente às hemorroidas e continuar desenvolvendo câncer de intestino?
O paciente precisa também aprender a defender-se. Não deve dar-se por satisfeito. Quando perde sangue e o médico classifica o sangramento como hemorroida sem fazer pelo menos o exame de toque retal.

5)Que exames o médico deve normalmente fazer?
Primeiro, o exame de toque retal, um exame importantíssimo que deveria ser considerado de rotina. Além desse, no próprio consultório do gastrenterologista ou do coloproctologista, é possível fazer um exame endoscópico que permite atingir e avaliar 20cm da parte terminal do intestino grosso. Esse aparelho se chama retossigmoidoscópio. Com ele, se faz uma endoscopia semelhante à do estômago para examinar a região e colher material para biopsia quando existirem lesões.

6) Você aconselha que todas as pessoas que têm sangramento, mesmo aquelas que sabem que têm hemorroidas, procurem um médico para fazer pelo menos um exame de toque retal?
No mínimo, um exame de toque retal. Isso é imperativo porque o câncer de reto é muito frequente e um simples toque retal permite examinar, além do ânus e do reto, a próstata nos homens e útero, colo do útero e vagina nas mulheres.

O exame de toque retal precisa deixar de ser tabu. Os pacientes devem ficar à vontade e não se recusar a fazê-lo, pois assim estarão evitando complicações que podem ser sérias.

7)Quais são as pessoas que correm maior risco de desenvolver câncer de intestino?
O câncer de intestino, como todos os outros, é favorecido na sua incidência pelo fator idade. Quem vive muito tempo provavelmente terá câncer, porque certas anormalidades na divisão celular vão tornado mais frequentes mutações erradas que favorecem o aparecimento do tumor maligno. Além disso, quanto mais idade, maior será a exposição da pessoa aos fatores de risco ambientais.

8) Com que idade a pessoa começa a ficar mais vulnerável?
Começa aos 40 anos e a cada década que passa dobra a possibilidade de desenvolver um câncer colorretal.  Além disso, se a pessoa tiver parentes próximos – mãe, pai, irmão, tio ou avô – que faleceram por causa de câncer de intestino, o risco aumenta muito. Por isso, a partir dos 40 anos, quem tem na família caso de câncer no intestino deve fazer um exame especializado que se chama colonoscopia.

 9) E a alimentação?
O câncer de intestino tem fatores de risco genéticos hereditários e genéticos ambientais. Neste último grupo, os fatores dietéticos são muito importantes. Alimentação rica em gordura animal, pobre em fibra e rica em corantes favorece a  incidência desse tipo de câncer. Gosto de citar os corantes, porque são elementos que poderiam ser eliminados sem prejuízo, principalmente no Brasil onde existem pigmentos naturais que colorem os alimentos. Corantes são fator de risco, porque liberam nitrosaminas no intestino, substâncias reconhecidamente carcinogênicas. Se prestarmos atenção, veremos que atualmente as crianças ingerem uma quantidade enorme de corantes nos doces, balas, pirulitos. Na verdade, até o algodão doce não é mais branco. É verde, cor-de-rosa…

1 Comentário

  1. Stênio Alvarenga disse:

    Li e achei muito interessante a explicação , de maneira simples para os leitores, a explanação sobre o câncer de cólon. Sou médico gastrenterologista, araguarino por sinal, radicado no estado do Paraná mais precisamente na cidade de Apucarana, norte do estado. Sempre entro no site deste periódico para ler as notícias da cidade e região e tudo o que se refere à Medicina, procuro ler, pois sempre nós recapitulamos alguma coisa. Espero ler o próximo capítulo. Parabéns ao colega.

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