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O Carnaval de ontem e hoje em Araguari

ter, 17 de fevereiro de 2015 01:21

ARQUIVO HISTÓRICO e Museu Dr. Calil Porto – Paralelamente às tradicionais expressões religiosas, destacou-se na cidade o Carnaval. O festejo pagão, segundo algumas vertentes é originário da Itália e o centro de difusão mais importante foi a cidade de Roma, onde aconteciam desfiles e cortejos. Desde a antiguidade clássica aos dias de hoje, o Carnaval tomou diferentes formas em cada país que chegou, e especialmente no Brasil, tornou-se uma das datas mais importantes do calendário. O Carnaval brasileiro é descendente direto do entrudo português. Ao que parece, o Carnaval foi introduzido em Araguari no ano de 1907, pelas brincadeiras improvisadas de dois jovens, Vitor Lorenzo e Alfredo Pereira, que ousaram mudar os hábitos da época e aderir à folia. No ano seguinte a festividade ganhou adeptos, sendo organizada pelo Clube dos Boêmios, que enfeitou um carro de bois conduzido por quatro animais e desfilou pelas ruas da cidade. O Carnaval foi gradativamente conquistando simpatizantes e as ruas centrais do município recebiam famílias inteiras, com fantasias previamente elaboradas, e alguns carros alegóricos.

Na década de 1920, a praça Francisco Sales, atual praça Manoel Bonito e a rua Dr. Afrânio eram palco dos desfiles de carros produzidos com temas diversos. No jardim da praça, a Corporação Musical Santa Cecília animava a festa com melodias da época, especialmente as marchinhas carnavalescas de Chiquinha Gonzaga.

A partir da década de 1930 até final dos anos de 1950, o Carnaval passou a ser mais elaborado; a criação de carros alegóricos gigantescos como o “Navio da Alegria” atraía verdadeiras multidões às ruas. A população acompanhava o trajeto até os Clubes Cairo e Recreativo onde ocorriam os famosos bailes de salões, com direito a fantasias e as brincadeiras tradicionais. Duas personalidades foram destaques nessa época: João Rugiadini, alegorista e proprietário de Clube Cairo, e Salvador Carvelo, musicista, alfaiate e também o mais famoso Rei Momo da cidade.

A comunidade participava ativamente e o evento atraía inúmeras pessoas das vizinhas cidades e do Estado de Goiás. A partir da década de 1960, o Clube Recreativo Araguarino instalou-se em sede própria. Construído na praça Manoel Bonito, esquina com a rua João Peixoto, passou a receber anualmente milhares de foliões, premiando blocos e luxuosas e originais fantasias. Quanto aos desfiles nas ruas, o tempo dos carros foi gradativamente perdendo espaço, chegando a desaparecer.

Na década de 1980, a criação de escolas de samba na cidade numa parceria da comunidade e do poder Executivo, principiou os desfiles de rua de agremiações divididas em primeiro e segundo grupo. Nos dias de hoje, escolas de samba continuam a desfilar, sendo esta uma boa opção aos amantes da folia. Shows de bandas locais e artistas nacionais costumam ganhar destaque nas comemorações atuais.

O Recreativo continuou a realizar seus bailes de salão até o início da década de 1990. O Clube foi criado no ano de 1932, intuindo prover a cidade de um ambiente familiar, onde os sócios pudessem promover festas, bailes, audições de piano e canto, declamações e outros, mas, no decorrer dos anos, devido às transformações culturais, os princípios do clube foram alterados e atualmente a instituição serve como palco de algumas atividades, possuindo também uma sede campestre.

Festas a rigor, desfiles, festas típicas, concursos de beleza, filantropia, concertos e outros, povoavam a agenda social e cultural da cidade. Mudanças são necessárias e as mentalidades vivem em constante mutação, entretanto, muitas festas populares foram perpetuadas e ainda hoje movimentam o circuito cultural da cidade.

Fotos: Arquivo Histórico

Famosos bailes de Carnaval na década de 50; em destaque, o Rei Momo, Salvador Carvelo

Famosos bailes de Carnaval na década de 50; em destaque, o Rei Momo, Salvador Carvelo

Carnaval de salão na década de 50

Carnaval de salão na década de 50

Bloco carnavalesco “Aí vem a madrinha”, década de 30

Bloco carnavalesco “Aí vem a madrinha”, década de 30

Araguarinos e araguarinas devidamente fantasiados para o Carnaval, década de 30

Araguarinos e araguarinas devidamente fantasiados para o Carnaval, década de 30

Bloco carnavalesco masculino, década de 30

Bloco carnavalesco masculino, década de 30

1955 - Carro Alegórico “Navio da Alegria”, em desfile pelas ruas da cidade

1955 – Carro Alegórico “Navio da Alegria”, em desfile pelas ruas da cidade

Desfile em carro aberto na década de 60

Desfile em carro aberto na década de 60

1 Comentário

  1. Janis Peters Grants disse:

    (…)
    Mudanças são necessárias e as mentalidades vivem em constante mutação.
    (…)

    Bons aqueles tempos dos Bailes de Carnaval nos salões dos clubes, onde as famílias se reuniam em grupos, fantasiados cada qual à própria criatividade e contexto da época, em uma alegria e felicidade contagiantes… coreografias… entoavam-se marchinhas, cujas letras não nos feriam a dignidade, os tímpanos e a alma.

    Não há de se mascarar que excessos também ocorriam, entre bebidas e a lança-perfume, como próprio nome diz, originariamente para ser aspergida, borrifada uns aos outros, como a tal irritante “espuma” em spray de hoje. Mas alguma criativa criatura entendeu por borrifar o produto no cigarro, descobrindo uma espécie de “barato”, e as taquicardias e seus efeitos levaram muitos a sambar… na própria vida. Saia demasiadamente caro o tal do barato.

    Ah… lembrei-me das gerações e gerações que também nasceram pouco mais de nove meses depois destes bailes. UAI… fantasiavam-se de “noivos” antes, ora.

    Excelente matéria !!!

    Pena que daqui a alguns anos, o HISTORIADOR – provavelmente a contra gosto – publicará fotos… não, vídeos on-line, de grandes massas humanas embalando-se freneticamente em refrões de modalidades… digo, facções de Raps e Funks que até o tal do Capeta ( não me refiro a alguém fantasiado com chifrinhos led´s piscantes, mas na Criatura em si ) leva as mãos aos próprios ouvidos e grita:

    – DEUS me livre disso!!! Isso não é lá de casa não !!!

    No ar, mesmo em ambientes abertos, o perfume entorpecente é o do azedume dos foliões, devidamente mascarado pelo buquê inconfundivelmente doce da Cannabis, prá lá de (s)ativa, pois cocaina e o ácido, LSD em confetes (?!), não são tão detectáveis a narinas comuns.

    Ah… as coreografias… homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher, em uma delas, assemelhando-se mais a um coito, sim, uma curra pública, nada bonito ou sensual. Sequer erótico.

    – BACANA o tal CARNAVAL ?! BANAL.

    – BACANAL !!!

    Loucos turbinados, pulando alucinadamente em carrocerias, ou mesmo sobre as capotas dos próprios automóveis, levando-as a encontrar os bancos. E quanto ao volume do som?!

    – Som alto & emotivo. Automotivo. O mundo passou a tremer.

    Sem hora, sem local, sem educação, SEM FISCALIZAÇÃO.

    Afinal, mudanças são necessárias e as mentalidades vivem em constante mutação.

    Sigamos em frente. Ainda temos algo bom a se recordar.

    Atenciosamente,
    Janis Peters Grants.

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