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Menopausa (Parte 2)

sex, 17 de outubro de 2014 00:01

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7-Se fosse possível isolar apenas o quadro psicológico, que sintomas indicariam a necessidade de reposição hormonal?
Vamos exemplificar com um quadro clínico para deixar mais claro. Se aparece num consultório uma mulher entre 41 e 51 anos de idade, na perimenopausa, com fenômenos psíquicos e mudanças comportamentais relatadas por ela e pela família, uma mulher que jamais teve depressão, mas apresenta alterações de memória, labilidade de humor, tristeza e desânimo, diante desses sintomas e se não houver qualquer tipo de contra-indicação, a terapia de reposição hormonal pode ter efeito benéfico no humor. Existem trabalhos científicos sérios que comprovam a ação estrogênica nos sintomas depressivos dessas mulheres.

Na pós-menopausa, porém, se a mulher nunca fez reposição hormonal profilática com o fim específico de melhorar o humor e a memória, é questionável a ação estrogênica em termos de sistema nervoso central. Por isso, é importante avaliar o nível sintomatológico da paciente, as alterações comportamentais e o período de vida em que se encontra. Acreditamos que, dado precocemente, o estrogênio previna alterações da memória, embora alguns trabalhos evidenciem o contrário. Em relação à doença de Alzheimer, especialistas no assunto levantaram a hipótese dos benefícios da utilização desse hormônio, mas os resultados positivos do estrogênio na prevenção e diminuição de alguns sintomas não foram comprovados.

Essa é uma área contraditória. De qualquer forma, acredito que a reposição hormonal seja válida para um grupo específico de pacientes visando à melhora da qualidade de vida.

8-A menopausa não é o único período crítico na vida das mulheres. Elas atravessam fases em que estão mais vulneráveis a alterações psicológicas. Que fases são essas?
São os períodos em que há mais oscilações hormonais. Explicitando melhor: nos períodos em que há variações importantes nos níveis dos hormônios, há maior vulnerabilidade a transtornos psíquicos de forma geral, sejam eles depressivos ou ansiosos. Isso inclui os períodos pós-parto, pré-menstrual, perimenopausa e pode estender-se até um ano após a menopausa.

Está comprovado cientificamente que mulheres com antecedentes de depressão pós-parto e de TPM (tensão pré-menstrual) são mais suscetíveis à manifestação de problemas psicológicos na perimenopausa. Elas são mais sintomáticas nessa fase.

9-Quais os principais mitos que cercam a mulher na menopausa?
Por questões de ordem cultural, nas sociedades orientais, onde a mulher é respeitada e a expectativa de envelhecer encarada de forma positiva, os sintomas tanto físicos quanto psíquicos da menopausa são menos intensos.

Infelizmente, nas culturas ocidentais, a realidade é outra. Há um grande “pré-conceito” em relação às mulheres nesse período. Simbolicamente, existe o mito de que a mulher na pós-menopausa seria uma Lua minguante, enquanto na fase reprodutiva seria uma Lua cheia.

Trata-se de um ‘pré-conceito’ absolutamente infundado. A mulher na pós-menopausa pode contar com recursos médicos que garantem qualidade de vida em todas as suas funções, inclusive na sexualidade. O primeiro passo, portanto, é lutar contra o estigma e o preconceito vigente. Para tanto, abordam-se o marido e os filhos dessas mulheres, pois as relações familiares pesam muito na gênese das alterações comportamentais da menopausa.

10-Quanto ao estilo de vida, o que recomendar a essas mulheres que chegam aos 40 anos e podem viver problemas um pouco mais sérios?
A mudança de hábitos de vida é fundamental. Isso envolve mudanças comportamentais. Ela precisa dedicar-se a atividades que lhe deem prazer, resgatem sua autoestima e a estimulem mentalmente. É importante aceitar novos desafios, como um curso de informática, se nunca mexeu com computadores, frequentar uma faculdade de terceira idade para ampliar os horizontes, resgatar o convívio com os amigos e rever o tipo de relacionamento e vínculo estabelecido com as pessoas da família.

Atividade física é fundamental. Além de prevenir a osteoporose, está provado que melhora o humor e a memória. O exercício físico não só aumenta a secreção de endorfinas, opioides endógenos que funcionam como analgésicos naturais, mas também aumenta a secreção de serotonina, um hormônio neurotransmissor que interfere positivamente no estado afetivo da mulher.

São recomendáveis também algumas mudanças na dieta, porque nesse período há alterações do metabolismo. Muitas mulheres acham que engordam porque estão fazendo reposição hormonal, outro mito. Na realidade, nessa faixa etária, a mesma ingesta calórica dos anos anteriores produz sobrepeso devido à redução da atividade metabólica e não pelos hormônios. A Sociedade Brasileira do Climatério desenvolveu um programa nutricional eficiente que ajuda mulheres menopausadas a controlar o peso. Vale a pena conhecê-lo.

11-Se continuar comendo a mesma coisa, ela vai engordar, não é?
É justamente o que acontece. Por isso, deve-se trabalhar tanto os aspectos psicológicos quanto os físicos, que interferem nos psicológicos. Dietas, mudanças de comportamento, conscientização da família, enfim, é necessário fazer uma abordagem abrangente, no sentido de focalizar todo o contexto de vida da mulher. Cabe ao médico, seja ele ginecologista, psiquiatra, neurologista, clínico geral, ter essa visão multidisciplinar da gênese dos transtornos de humor e memória no período da menopausa.

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